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Os Engenhos de Açúcar no Rio de Janeiro do século XVI-XVII

Por:   •  14/5/2024  •  Ensaio  •  2.643 Palavras (11 Páginas)  •  71 Visualizações

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INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

A capitania do Rio de janeiro possuiu grande importância na contribuição para o acúmulo de excedentes no período colonial atlântico português, que vão desde o século XVI e se intensificam, principalmente, em meados do XVII e inícios do XVIII. Nesse período, houve uma significativa acentuação no que se refere à comercialização de escravizados e criação de engenhos para a produção de açúcar no local, validados, respectivamente, pelo controle do nordeste açucareiro por parte do Holandeses a partir de 1630 e a descoberta e regularização sistemática da exploração do ouro nas minas por parte dos portugueses em finais do século XVII e inícios do XVIII.

Consequentemente, esse trabalho tem por objetivo contribuir, de certa forma, com a hipótese de que nesses mesmos séculos, ocorreu um paralelo e significativo crescimento, quando se trata da exploração da natureza na capitania, atrelada ao novo tipo de adequação produtiva e comercial da metrópole, baseado na passagem e intensificação do plantio da monocultura de cana e na construção das estruturas de extração, refino e comercialização do açúcar – engenho. Também tentarei desenvolver com ajuda dos grandes autores e clássicos sobre o período colonial brasileiro, uma linha de análise que debata o desgaste e usurpação do solo colonial como uma das práticas desenvolvidas para consolidação do acúmulo de excedentes por parte das grandes metrópoles Europeias desde inícios de sua presença e descoberta.

DO LUXO AO CONSUMO DAS MASSAS: BREVE RESUMO HISTÓRIO DO AÇÚCAR

Primeiramente, é importante frisar que a cana-de-açúcar é uma cultura não pertencente a flora brasileira. Alguns estudos remontam sua origem nas regiões úmidas e litorâneas ao Sul da Ásia. De cultivo subsistente e consumo objetivando apenas a retirada do caldo, a planta revolucionou a dieta e cultura dos povos ao Sul do oriente já no século VIII, sobretudo graças as mudanças e aprimoramentos das técnicas de cultivo e extração

nessas regiões, o que proporcionou a elevação do caldo ao que chamamos hoje de

açúcar1.

Sua chegada ao Brasil remonta inícios do século XVI, com a introdução do modelo de colonização portuguesa2. Segundo Caio prado Jr, a chegada da cana-de-açúcar representou “A base material para estabelecimento da Europa no Brasil”3. Desde o começo do processo de colonização, o açúcar teve papel de protagonismo e sua produção iniciou a era de consumo na Europa. Além disso, podemos afirmar que a planta, sua forma de cultivo, comercialização e consumo representaram uma das essências econômicas para obtenção de lucro Metropolitano, junto com a mineração, plantio do algodão e café4.

Nas palavras de Jason Moore, o açúcar também esteve “a vanguard sector of early modern capitalist spatial expansion” por que de certa forma, a trazida do produto para território americano significou uma real expansão e exploração ambiental necessária para manter e até mesmo, substituir as terras de plantio do açúcar inférteis dos portugueses no século XV. Também, outro fator importante desse acontecimento está na inauguração de um processo complexo de desenvolvimento e aprofundamento econômico capitalista, que vão desde a mão de obra até o transporte5.

Cabe aqui um breve resumo da situação econômica colonial brasileira. Desde início, a colônia baseou sua econômica no processo caracterizado como “Grande Lavoura”, obrigatoriamente no sentido de abastecer o mercado Europeu desde o século

XVI. Podemos caracterizar o conceito de Grande lavoura em três grandes pontos, são eles: Grande Propriedade, Monocultura de gêneros alimentícios e mão de obra escravizada. Esses três pilares sustentam o grande sistema econômico colonial brasileira e que inicialmente se deu com a cultivo de açúcar6. Nas palavras de Caio Prado, esse modelo de agricultura extensiva gerava riqueza para a metrópole no sentido em sugava um bem quase que irremediável da colônia (o solo). Ou seja, o processo de colonização

1 BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo séculos XV-XVIII: As Estruturas do Cotidiano. p. 199.

2 SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial 1550-1835. p. 31.

3 PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. p. 51.

4 IBID, p. 52.

5 MOORE, Jason. Sugar and the Expansion of the Early Modern World-Economy: Commodity Frontiers, Ecological Transformation, and Industrialization. p. 427.

6 PRADO JR, Caio, p. 40-45.

Europeia não só se baseou somente no acúmulo de capital mercantil produzido com o comércio e consumo dos gêneros em suas colônias do Novo Mundo7, mas iniciou o processo de exaustão e esterilização das áreas de plantio e cultivo americanas. Esse assunto será melhor explorado ao longo do trabalho, abordando mais especificamente a situação do açúcar no Brasil.

Em meados do Século XVII, no período de ocupação do Nordeste brasileiro por partes dos Holandeses, o Brasil protagonizou o primeiro grande ciclo de grande produção do açúcar, levando o produto ao patamar de disseminação no consumo. Após a expulsão dos Holandeses em 1654, o plantio e produção do açúcar se disseminou por parte das Américas, mais precisamente nas Antilhas, onde não parou mais de se expandir. Paralelamente, de acordo com relatos, o consumo de açúcar em partes da Europa acompanha a produção das américas e já em meados do século XVIII, a título de curiosidade, o consumo beirava a faixa de 5kg por cabeça, tendo como média anual, só na Inglaterra, de 150 Toneladas8.

Além da cana-de-açúcar, muitos outros produtos foram introduzidos e originados no processo de colonização nas Américas, que vão de animais à microrganismos. Todo esse processo de trocas culturais e microbiológicas existentes pela chegada dos Europeus à América pode ser encaixado no que Alfred Crosby chama de “Columbia Exchange”9

O MUNDO DO AÇÚCAR E SUAS RELAÇÕES NO BRASIL

O cultivo da planta se deu por todo o litoral brasileiro e baseou-se majoritariamente na implementação da monocultura, base central da agricultura e Colonização Portuguesa no Brasil e se interiorizou de acordo com a necessidade de ocupação de novas terras férteis. Mas a situação da Grande Lavoura se restringiu a três

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