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Palmeira de Quem?

Por:   •  24/4/2019  •  Artigo  •  2.749 Palavras (11 Páginas)  •  104 Visualizações

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PALMEIRA, DE QUEM? Formação de emancipação de

Palmeira dos Índios-AL

José Adelson Lopes Peixoto[1]*

Francisca Maria Neta[2]**

Resumo: este artigo apresenta a formação territorial de Palmeira dos Índios e o seu processo de emancipação do município de Anadia, situados no agreste alagoano. O objetivo do trabalho é identificar as disputas entre índios e não-índios pela posse da terra, assim como, a tentativa de invisibilizar e silenciar a cultura indígena no município de Palmeira dos Índios. O estudo baseia-se na literatura de estudiosos como ANTUNES (1665, 1973), BARROS (1969), ROCHA (1978), MARTINS (1994), PEIXOTO (2015), TORRES (1973, 1974), entre outros e em documentos cartoriais e paroquiais, laudos e relatórios antropológicos. Usou-se também de pesquisa de campo a partir de entrevistas e visitas em aldeias indígenas. Essa análise propõe uma reflexão sobre a formação social, política, econômica e cultural de Palmeira dos índios, identificando como as disputas pelo poder tentaram colocar o índio na invisibilidade, ao silenciamento e até ao esquecimento.

Palavras-Chaves: Indígenas, Invisibilidade, Silenciamento.

Formação de Palmeira dos Índios

A cidade de Palmeira dos Índios foi fundada em terras que pertenciam a Sesmaria de Burgos, doada em 23/12/1661[3], ao desembargador Cristovam de Burgos e outros. (TORRES, 1973, p.37).  Em 26/07/1712, parte das terras dessa sesmaria foi vendida ao português Manuel da Cruz Vilela que tomou posse no ano seguinte. O sesmeiro foi assassinado em 1729 e a viúva Maria Pereira Gonçalves e os demais herdeiros fizeram a doação, em 1773, de meia légua de terras a frei Domingos de São José, com a condição de que o frei erguesse uma capela ao Senhor Bom Jesus da Boa Morte. Este ano é considerado pela literatura e pelos documentos paroquiais[4] como início do processo de catequese dos índios que já viviam na região. (ANTUNES, 1973, p.47).

Como a igreja foi construída no alto da serra, num local de difícil acesso, denominado Igreja Velha, local pouco propício à edificação de uma vila, o frei decidiu transferir a igreja e para isso utilizou-se de uma estratégia para convencer os índios. Retirava ou mandava alguém retirar a imagem[5] da capelinha de palha e a fazia aparecer numa fenda existente no tronco de uma árvore no local onde atualmente se ergue a igreja Matriz. (TORRES, 1974, p.13). Entre os indígenas, circulam relatos de que seus antepassados enfeitavam a imagem como cocá de penas e colares de contas e isso desagradava o padre e esse teria sido o motivo principal da mudança da imagem.

Emancipação política-administrava da Palmeira dos Índios

O município de Palmeira dos Índios celebra sua emancipação política em 20 de agosto. No calendário, essa data marca a libertação da dependência política e administrativa de Anadia; na prática, não se pode deixar que o ufanismo do jubileu silencie alguns questionamentos que são imperativos para o entendimento do real sentido da emancipação. A construção dessa independência foi forjada nas disputas pelo poder político e no desejo de posse das melhores terras que circundam a cidade. Assim, a liberdade se fez sobre o direito de muitos dos habitantes do lugar, notadamente daqueles que habitavam o território desde muito antes da chegada daqueles que são oficialmente apresentados como fundadores da pequena vila que se fez cidade.

No entorno da cidade, habitam índios aldeados na Fazenda Canto, Mata da Cafurna, Serra da Capela, Cafurna de Baixo, Serra do Amaro, Coité, Riacho Fundo, Boqueirão, Fazenda Jarra e Vista Alegre, além de muitos desaldeados, residentes nos mais diversos bairros da cidade. Encontram-se divididos em dez (10) aldeias, porém nem todas estão reconhecidas pelo governo, pelos seus pares, pelos órgãos de tutela ou pela sociedade envolvente. É necessário salientar que a maioria das aldeias fica ao norte da cidade e suas terras ocupam as serras em volta da área urbana. Essa localização deve-se, segundo os índios mais velhos, à possibilidade de visualização do vale, o que lhes permitia, no passado, identificar qualquer ameaça de invasão às suas terras.

De Kariri-Wakonãn a Xukuru-Kariri

Os indígenas são pertencentes à etnia Xukuru-Kariri e um grupo se autodenomina de Xucuru-Palmeira, mas se dizem pertencentes ao mesmo grupo dos primeiros, porém não são reconhecidos por eles. Na cidade, são conhecidos como Xukuru, contudo, os atuais índios principalmente os mais velhos afirmam que ouviram seus avós dizerem que “eles não são Xukuru, mas sim índios Kariri da tribo Wakonãn”. O termo Xucuru é um apelido, afirmam.

Segundo alguns estudiosos alagoanos, entre eles Antunes (1965, 1973), Torres (1973, 1974), Barros (1969) e Almeida (1999), os Xukuru palmeirenses são oriundos da Serra do Ororubá em Cimbres, atual município de Pesqueira em Pernambuco. Contam os atuais indígenas palmeirenses que uma família Xukuru de Cimbres saiu das suas terras devido a uma grande seca que assolava seus territórios e solicitou abrigo aos Kariri de Palmeira, recebendo autorização para se fixarem na entrada da Serra da Cafurna, onde se estabeleceram e, muitas vezes, passaram a hospedar os Kariri quando esses desciam da Serra em direção à cidade.  

A presença desses povos foi se tornando frequente na cidade, cuja população passou a chamar todos os índios que habitavam Palmeira dos Índios de Xukuru, em lugar de Kariri-Wakonãn. Daí tornou-se comum e muito generalizado aos moradores da cidade dizerem: “Palmeira dos Índios, terra de Xucuru”, quando poderiam afirmar que é terra dos Kariri-Wakonãn. Depois, a cidade foi recebendo outras denominações como Terra de Graciliano, Terra da Pinha, Terra do Amor, Terra da Cultura... E o índio foi sendo relegado ao esquecimento, a invisibilidade, ao silenciamento e até ao esquecimento.

A povoação da Mata da Cafurna, e ocupação do local conhecido como igreja Velha é confirmado em um Laudo antropológico de 1990, que descreve a realização de algumas escavações há 40 cm de profundidade nas quais encontraram vestígios de cachimbos, discos de pedra polida, lascas de sílex e quartzo, cacos cerâmicos de panelas e urnas funerárias. (HOFFNAGEL, LIMA; MARTINS, 1990, p.11). Por ser palco de inúmeros achados arqueológicos, costuma-se dizer que a cidade foi construída sobre um cemitério indígena. Várias igaçabas foram encontradas durante construções de prédios públicos na sede da cidade, ainda na primeira metade do século XX.

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