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Resenha do Livro Bem vindo ao Inferno

Por:   •  25/8/2016  •  Resenha  •  1.322 Palavras (6 Páginas)  •  644 Visualizações

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Rico nos detalhes, “Bem-vindo ao inferno” relata cada momento vivido por Vana Lopes, uma mulher que em 1993 foi vítima do ex-médico Roger Abdelmassih, acusado a 278 anos de prisão por ter cometido 56 estupros em sua clínica particular.

O livro se enquadra nos padrões de livro-reportagem, pois informa o leitor de forma aprofundada e complexa. Bem-Vindo ao Inferno apresenta dados concretos e provas, sem que seja necessário uma periodicidade.

Nos primeiros capítulos do livro o autor Claudio Tognolli traz em detalhes a infância de Vana. Nascida e criada até aos 13 anos em Diamantina, o autor relata momentos importantes dessa fase da vida da personagem. Nesses episódios, através da narrativa cheia de descrições, conseguimos notar que o autor exerceu o poder de percepção, descrevendo sentimentos e reações da personagem, indo além do tema, a infância, que pouco seria explorado em uma reportagem factual.  

A cidade de Diamantina também foi “desenhada” pelo autor nas primeiras páginas do livro. Claudio, novamente não mediu esforços em revelar cada detalhe do lugar. Utilizou a técnica de imersão para trazer ao leitor detalhes que normalmente não são abordados.  

Para dar construção cena a cena, em todo o livro é forte a presença do ‘onde”. Um exemplo é quando Vana fala sobre sua cidade, “fui gerada em julho de 1959 no inverno de Diamantina, Minas Gerais, entre os cristais das montanhas que circulam essa cidade”.

Nestes primeiros trechos do livro podemos perceber um corte cinematográfico. Claudio enquanto descreve a cidade de Diamantina e a infância de Vana, na página 19 começa a falar sobre as sensações ruins que Roger proporcionou a personagem. “Preso, ele me olha frio como um peixe (é a sua forma de exercer a soberba) e abaixava os olhos”. Na página seguinte, o autor começa um novo capítulo “Vendendo cabelo para sobreviver”, que não faz relação com o episódio vivenciado pela personagem, mudando totalmente o cenário e o tema.  

Logo nos primeiros momentos de leitura, é fácil notar a presença de um estilo que o autor adotou para desenvolver a história. Essa técnica faz com que o leitor se envolva com a história que está sendo narrada e desenvolva mentalmente as características e emoções da personagem.  

Cláudio antes de revelar a experiência marcante de Vana com o Abdelmassih, contextualiza o leitor em poucas páginas, descrevendo como a personagem se tornou estilista, conheceu o marido e quando surgiu o desejo de se tornar mãe, após seis anos de matrimônio. Após esse trecho, as próximas páginas passam a ser “recheadas” de humanização. O autor utiliza termos que demonstram a fraqueza de seu personagem no momento que está sendo narrado.  

Uma outra característica da técnica de humanização presente no livro, é quanto à maternidade. A personagem não consegue realizar o tão desejado sonho de se tornar mãe. Muitas mulheres também passam por essa situação. Esse é um tema que envolve as pessoas que estão lendo.

O foco narrativo durante todo o livro é em primeira pessoa, essa técnica permite ao autor, passar um número maior de detalhes e de sentimentalismo.  

Após o abuso sexual, Vana Lopes decide ir atrás de justiça e faz denúncias contra Abdelmassih. Para mostrar cada fase das investigações, o autor precisou fazer uma apuração profunda e levantar o maior número de informações possíveis para compor o texto, utilizando a técnica de precisão de dados.  Traz dados de funcionários do ex- médico e informações importantes para Vana, reveladas por fontes que queriam ajudar.    

Claudio também utiliza no livro outras técnica do jornalismo literário, a digressão. Esse método permitiu quebras no ritmo da narrativa em todos os capítulos que mostravam as fases de julgamentos e denúncias. Alguns exemplos do uso da digressão na história, é quando Vana vai estudar direito. Mesmo “correndo” atrás de justiça vai buscar estudo. Essa é uma quebra da narrativa. Vana também vai até Portugal conhecer seu futuro marido, quebrando a narrativa de perseguição nas buscas por Abdelmassih.

O autor revelou na íntegra diálogos entre Vana Lopes e informantes. Utilizou a técnica de precisão de dados. Informações que Vana recebeu de anônimos, são reafirmadas com documentos públicos da Justiça com embasamento na lei. Uma informante em especial e muito bem abordada na contextualização do livro, Madame X. Através do diálogo é possível construir perspectivas sobre o caráter do personagem e sobre suas intenções.

Cláudio no livro também utilizou a técnica de fluxo de consciência, onde a personagem se mostra com pensamentos aleatórios, desgovernados sobre um determinado assunto, como no exemplo abaixo, relatado na página 129.

“Entrei em desespero profundo. Mas o que significava isso? Ele recuperar a liberdade, depois de tanta crueldade e tantas denúncias? Senti-me violentada mais uma vez, agora moralmente. O que estava acontecendo?”

A técnica de monólogo interior também se apresenta nas próximas páginas, como no exemplo da página 238, quando a personagem apresenta um pensamento lógico que vai levando a outros pensamentos.

 “Segundo diversos juristas, meu ato está expresso na figura de dolus bônus, o dolo feito voltado ao bem... Não é crime tipifica do mudar o seu nome de exibição no Facebook e conversar com alguém, desde que o telefone e e-mail seja real. Em suma, eu estava dotada de boa fé”.

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