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Uma reflexão sobre o fenômeno religioso

Por:   •  26/4/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.794 Palavras (8 Páginas)  •  141 Visualizações

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UMA REFLEXÃO SOBRE O FENÔMENO RELIGIOSO. (2007)

Márcio Rogério da Costa Letona

Licenciado em História UFRGS/2003

Especialista em Ensino Religioso CESUCA/2009

INTRODUÇÃO

Ao nos deparáramos com a temática do fenômeno religioso devemos em primeiro lugar reconhecê-la como uma área do conhecimento bastante difícil de lidar, principalmente sob o ponto de vista que serviu de alicerce para a ciência moderna, ou seja, o cartesianismo. Contudo, as antigas certezas da ciência moderna vão gradativamente dando lugar à outras interpretações que não abandonam o pensamento lógico, procurando de acordo com os novos paradigmas estudar a realidade incluindo neste estudo as incertezas que antes eram desprezadas para que certas leis fizessem sentido.

Na Antigüidade, o homem parece ter se aproximado bem mais das explicações relativas à religiosidade, ou pelo menos acreditava mais nessa hipótese, em parte porque não dividiu o conhecimento em várias áreas tornandose um ignorante especializado1.

Na pré-história encontramos as primeiras manifestações da fé em algo sobrenatural, portanto os primeiros traços de religiosidade na espécie humana. Os indícios arqueológicos pictóricos encontrados em Altamira na Espanha (com mais de 15.000 anos de antigüidade) e Lascaux2 na França (aproximadamente 13000 a.C.) remetem em um primeiro momento à representações do mundo real, contudo se analisados e comparados com manifestações similares de remanescentes modernos podem indicar o início de uma atividade mística, origem do fenômeno religioso.

Portanto, o homem enquanto ser pensante, procura há milhares de anos explicações para os fenômenos3 que ocorrem, por assim dizer, fora do mundo físico, fenômenos estes que têm íntima ligação com o mundo psíquico, e que não puderam ser explicados através das simplificações iniciais do método científico moderno, e que também, talvez nunca possamos explicar a não ser que abandonemos nossas “certezas científicas”, e pensemos em relativizá-las tentando compreender o fenômeno religioso como uma ligação entre o plano material e o plano espiritual, do qual pouco conhecemos.

AS MANIFESTAÇÕES DO SAGRADO

Os milagres são entendidos como manifestações do sagrado, que quebram a ordem do mundo físico causando espanto aos céticos e devoção aos que tem fé, sua manifestação não segue uma ordem pré-estabelecida e pode ocorrer para poucas ou para muitas pessoas dependendo da situação.

Em seu livro Como Conhecer Deus CHOPRA sugere “que os maiores santos e mestres do mundo podem estar simplesmente se divertindo. Tem a capacidade de viver na luz enquanto o resto de nós não tem”.(2001: 174-5). Aceitando essa hipótese, que me parece bem plausível devo me permitir pensar no que ela estaria baseada.

Procurado a explicação em outras leituras deparei-me com a seguinte observação de FRANZ:

“Em todas as civilizações primitivas, ritual e atividades lúdicas não podem ser separados. Os rituais são realizados como jogos, ou o jogo é, por vezes, usado como ritual, e vice-versa, ou as duas coisas se combinam. Esse é um fato bem conhecido e exemplificado por todos os rituais chineses, que são ao mesmo tempo um jogo, uma atividade lúdica e um ritual sagrado”. (1980: 138-9).

Em sua análise que parte da psicologia junguiana a autora usa essa analogia entre as civilizações primitivas e a ritualística chinesa para nos dizer que um dos princípios que deve ser levado em conta quando analisamos o fenômeno religioso, seja ele, primitivo ou atual, seja ele uma adivinhação ou um ritual, tal fenômeno tem uma característica comum às religiões primitivas, ou seja, sua relação com o lúdico.

Contudo, conforme observa mais adiante FRANZ, no jogo envolvido nos rituais chineses o indivíduo tem que se desprender do ego pois o desejo de ganhar que induziria à trapaça deve ser sacrificado. Por isso a autora afirma mais adiante considerar esse comportamento uma “atitude religiosa básica: estar completamente envolvido na vida e, ao mesmo tempo, pronto para perder num jogo limpo” (1980: 139).

De fato, se analisarmos manifestações religiosas entre os povos primitivos do período paleolítico, o que teremos que fazer por comparação com o registro etnográfico atual em relação à arte rupestre, por exemplo, podemos comprovar essa ligação dos rituais sagrados com jogos, danças, ou seja atividades recreativas.

Analisando os escritos de YAKAR sobre o mundo espiritual dos caçadorescoletores da Anatólia no paleolítico, podem ser identificados traços da religiosidade primitiva a partir de quando o autor observa que “algumas das cenas de dança, pulo ou talvez corrida que aparecem na arte pré-histórica e nas pinturas das paredes de Çatalhöyük...bem poderiam ser representações de figuras num estado de alucinação tentando se comunicar com os espíritos” (2003: 48).

Temos então evidências arqueológicas das manifestações sobrenaturais em um período que remonta à época do VII milênio a.C. e que além destas representações de xamãs fornecem um outro dado interessante, em algumas pinturas há a indicação de ritos comunais4 com um grande numero de participantes executados em espaços abertos.

As manifestações do sagrado estão presentes entre nós há milhares de anos, não sabemos que nome nossos antepassados do paleolítico deram a elas, por outro lado nós as denominamos de milagres e esses milagres segundo CHOPRA podem ser compreendidos como manifestação da capacidade dos taumaturgos de alterar o estado de consciência das pessoas que estão ao seu redor, sendo esse um estágio já avançado de contato com Deus.

Se nossos antepassados buscavam esse contato, é porque acreditavam que nele estaria a satisfação de suas necessidades espirituais, buscavam sobretudo explicação para fenômenos que não sabiam controlar ou explicar, como nós continuamos buscando atualmente através de um amplo espectro de sistemas religiosos carregados de símbolos, que expressam o desejo de compreender o sobrenatural de acordo com diferentes culturas.

O RENASCER DA RELIGIÃO

Em seu livro O que é religião, ALVES apresenta um panorama bem interessante sobre o fenômeno religioso, utilizando exemplos bem pertinentes e problematizando sobre o abandono da religião pelo cientificismo na Idade Moderna. A partir da nova ótica burguesa, de explicar todos os fenômenos através do conhecimento científico, a religião perdeu sua centralidade5, mas continuou suscitando o interesse do

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