VIVA LA VIDA: AS REPRESENTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA PELO OLHAR HISTORIOGRÁFICO
Por: Caroline Cassoli • 22/12/2016 • Artigo • 2.564 Palavras (11 Páginas) • 662 Visualizações
VIVA LA VIDA: AS REPRESENTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA PELO OLHAR HISTORIOGRÁFICO[1]
Caroline Cassoli Gonçalves[2]
“I used to rule the world
Seas would rise when I gave the word
Now in the morning I sleep alone
Sweep the streets I used to own”
(COLDPLAY, 2008, Parlophone)
Introdução
A Revolução Francesa inaugura a era das revoluções do século XIX, sendo ela a única ocorrida no século XVIII. Ela também é o maior produto historiográfico depois do nazismo. As heranças da revolução francesa são inegáveis e com grandes pesos na atual sociedade. O poder criador da revolução fez emergir desde formas de como se agir em revolução, formas políticas, até conceitos, rituais, e entre os mais importantes legados da revolução, os símbolos.
Partindo desta premissa, a simbologia da revolução francesa foi tão significativa que transpassa décadas e pode ser encontrada no nosso presente século. Mesmo depois de 200 anos a representatividade exercida acerca dos ideais da revolução permanecem e se fazem presentes por meio de inúmeras manifestações como obras de arte, monumentos, literatura, e também na música.
Aquilatando a importância acerca desta herança e da sua representação no momento em que foi produzida, busco analisar como fonte a música Viva la Vida composta pelos membros da banda britânica Coldplay no ano de 2008. A letra nos guia pela conversa de um rei deposto de seu trono consigo mesmo, refletindo sobre a revolução e sobre o seu papel enquanto governante. Para que tal analise seja realizada, busco o olhar de dois grandes teóricos da historiografia, e por meio de suas abordagens metodológicas destrinchar a dada fonte pontuando a sua significação e imponência se pensarmos no seu peso simbólico para os ideais da revolução.
As interpretações acerca da Revolução Francesa
A historiadora Lynn Hunt na introdução de sua obra “Política, Cultura e Classe na Revolução Francesa”, apresenta três linhas interpretativas acerca da revolução aquilatando as proximidades e rupturas entre elas, além de expor a sua própria interpretação. Para ela, toda interpretação carrega ideologias, por isso um consenso seria uma expectativa um tanto utópica.
Entre estas três linhas interpretativas, encontramos o Marxismo; o Revisionismo; e a interpretação de Tocqueville. O texto de Hunt foi escrito no auge do combate ao materialismo histórico, ou seja, da interpretação marxista da revolução francesa, o que de certa forma coloca Hunt tendenciada ao revisionismo. Alguns políticos e historiadores negaram por um tempo a herança da revolução francesa; e em seu segundo centenário – auge da interpretação revisionista – o estado almeja excluir a luta de classes e destruir esta interpretação marxista da revolução, o que Eric Hobsbawn critica veemente em sua obra “Ecos da Marselhesa”. Além destas duas correntes divergentes, ainda temos Tocqueville, que relata a história da revolução enquanto à assiste de seu quarto.
Na linha interpretativa marxista, temos Albert Soboul como principal historiador. Os marxistas estavam preocupados com as causas e consequências da revolução. Para ele tratou-se de uma revolução burguesa, contando com as classes “inferiores” como massa de manobra; o que resultou em uma base jurídica para o desenvolvimento do capitalismo industrial burguês, o que seria a sua maior consequência, tendo como causa a ação de uma burguesia exprimida pela aristocracia.
Já o revisionismo – que apesar de também se preocupar com as causas e consequências – critica veemente a analise marxista. François Furet classifica a revolução como uma luta pelo controle da linguagem e dos símbolos; como se a luta ocorresse apenas no cenário dos discursos, sem transcender para o âmbito social. Para eles, os membros do terceiro estado[3] é que foram os verdadeiros agentes da revolução. Houve uma crise de mobilidade social onde a classe média se revolta contra o estado. Ao contrário do que diziam os marxistas, os revisionistas acreditam que a revolução retardou o desenvolvimento do capitalismo devido ao caos nas ruas e da nação colapsada. Para os revisionistas a revolução foi desnecessária, ou seja, impõem esse olhar negacionista sobre a história.
Tocqueville, por testemunhar a revolução, a narra como um conflito no âmbito do poder político. Sckopol, historiadora tocquevilliana, aquilata que a revolução é fruto de um estado que não deu conta da competição militar da época. Para ele, não há a ascenção de uma classe, e o principal resultado da revolução é o engrandecimento do estado.
Da crítica de Hunt as outras interpretações acerca da revolução francesa, a autora propõe que nos desprendamos da pirâmide marxista[4], porém, não dispensa-la por completo. Hunt pontua o poder criador da revolução; como em formas de agir na revolução, formas políticas, símbolos, conceitos e rituais. Outra crítica feita pela autora se direciona ao negacionismo dos revisionistas. Enquanto eles afirmam que por chegar a níveis tão traumáticos e que ultrapassam essa “relação normal” entre sociedade e estado, a revolução teria sido desnecessária; Hunt questiona essa normalidade e afirma que a revolução não deve – e nem o fez – seguir tal normalidade, ou regra alguma, uma vez que com ela houve um corte temporal histórico a partir da onde se cria uma nova sociedade.
Entre símbolos e signos: a questão da representação
Símbolos e signos, apesar de exercerem funções semelhantes e a priori partirem de uma mesma natureza, recebem e atuam com significações distintas. Para a psicologia, o funcionamento do psiquismo é dado pelo processo de significação o qual se sustenta em sinais e signos.
Para se entender o signo, devemos partir do entendimento de sinal, do qual o mesmo é derivado. Na psicologia, o funcionamento do nosso sistema psicológico passa por diferentes etapas até chegar a “maturidade da mente humana”, e o seu funcionamento, basicamente, é dado pelo processo de sinalização. A mente humana, na sua gênese, funciona a partir do psiquismo, que seria um sistema de orientação e execução do controle da atividade vital, portanto, algo natural. A partir do momento em que a pessoa entra em contato com o seu meio sócio-cultural, o psiquismo fica subsumido no sistema cultural de comportamento, que seria o sistema psicológico. Portanto, a maturidade seria essa inserção da mente humana no seu meio social.
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