A Antropologia da Escravidão
Por: Karlos A. S. Castro • 14/12/2023 • Resenha • 2.070 Palavras (9 Páginas) • 59 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – DEHIS
DISCIPLINA: História da África Antiga 2023.2
Prof. Dr.: Josenildo de Jesus Pereira
ALUNO: Karlos Alberto Sousa Castro Nota:
RESENHA
MEILLASSOUX, Claude. (1995). Antropologia da escravidão. O ventre de ferro e dinheiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Antropólogo e africanista de grande visibilidade, o francês Claude Meillassoux, nascido em 1925 e morto em 2005, foi um estudioso intelectual que ajudou de forma relevante no crescimento e desenvolvimento das teorias relacionadas ao marxismo no continente europeu. Em 1947, graduou-se no Instituto de Estudos Políticos de Paris na seção de economia. Daí, foi para os Estados Unidos, onde terminou seu mestrado em Economia e Ciência Política na Universidade de Michigan em 1949. Porém, foi em meados de 1955 que Meillassoux, foi contratado para fazer diversas pesquisas juntamente a um projeto em Ciências Sociais, iniciado pela UNESCO, que ele começou a destinar sua atenção aos estudos relacionados as sociedades do continente africano, tratando de forma especial as questões referentes ao colonialismo na África.
O livro, Antropologia da escravidão, lançado em janeiro de 1995 e tendo como editor Jorge Zahar, traz em seu conteúdo, traços da corrente marxista, pontuando de forma enfática as classes sociais e as relações que se realizam entre indivíduos da mesma classe e de classes sociais diferentes, fator que aumenta a óptica que se tem voltada apenas na relação senhor e escravo. É a partir desse panorama que ele condiciona a importância que tem de ser atribuída às variáveis do grau de parentesco, da estrutura e da posição de classes sociais e quando ligadas a outras como por exemplo, a forma de produção, as formas de tentar mostrar o direcionamento, os choques que ocorreriam nas mudanças sociais e na intensidade.
A principal tratativa desta obra são os aspectos relativos à escravidão na África, tendo como base uma forte análise dos fatos históricos atribuídos a este fenômeno no continente africano, e também em sua própria vivência, fazendo levantamento etnográfico nos mais diferentes setores do continente.
Nos primeiros capítulos da obra, denominados introdutórios, tenta-se derrubar a tese originada pelo ramo do direito que os escravos são transformados em simples objetos, servindo apenas para uso e exploração e que sua alma de ser humano seja modificada pela de um animal. Outra informação contida na obra é a observação da diferença que encontramos entre um homem livre e outro que não possui o privilégio da liberdade. É importante frisar, como destaca Meillassoux, que embora essa diferença seja indispensável para o desenho de uma genealogia da relação entre nativos e indivíduos que não pertencem ao grupo determinado, assim como para mostrar a maneira que começa uma forma de exploração do trabalho, ela não age como peça explicativa para o método escravista, pois só se concretiza e se faz em uma economia de mercado.
Esses capítulos também mostram a efetiva função do mercado como o espaço que cede o escravo, em relação a quantidade e também em sua qualidade de espaço em que se instaura o sistema escravista, e que pode dar as peças que moldarão a maneira do individuo e de classe dos escravos comercializados em determinado espaço. É dessa forma que o mercado se mostra como um espaço constitutivo das distintas sociedades do continente africano.
Em sua estrutura, esta obra é dividida em três capítulos centrais. O primeiro capítulo, denominado O Ventre – Dialética da escravidão, trata sobre os escravos, enfatizando a sua forma de viver e a sua reprodução enquanto grupo social. O capítulo também mostra os objetivos, impactos e alcance das guerras, a evolução das negociações comerciais e o papel dos Estados na manutenção e desenvolvimento da escravidão. Define o tráfico de escravos como a maior atividade dessa região, observamos também que esse sistema atuava como início das formações políticas e militares, garantindo assim o crescimento de vários Estados, como os de Tekkur, Gana, Mali, Ghiroy e Silla. Estados estes que distribuíam a população escrava para a região do Saara e para o Mediterrâneo. Foi nesse setor que cresceu o monopólio de uma classe aristocrática que se fortaleceu na guerra de rapina.
O outro capítulo, denominado O Ferro – A escravidão aristocrática, mostra a forma da escravidão aristocrática, apresentando exemplos com sistemas desse tipo em alguns locais do continente africano. Essa aristocracia criou uma abundância de funções que iriam ser destinadas aos escravos e com o objetivo de dar condições para a sustentação e reprodução dessa classe: militar, camponesa e escravatura de corte.
Meillassoux destaca que a principal atividade dessa aristocracia era a guerra, atividade que dava forma à organização social e aos dispositivos internos que legitimavam a dominação de tal grupo. Mesmo que o produto das apreensões de escravos fosse destinado ao comércio, não seria a aristocracia dos Estados da África que fariam a atividade, mas sim a classe dos comerciantes, que se entregava inteiramente a tal função de organização social e de sobrevivência. Junto a esse crescimento dos impérios africanos existiu também o crescimento da economia mercantil. Tais impérios foram financiados pelos conceitos do Islã no que tange o papel que tal religião teve no início das atividades comerciais.
Por fim, o terceiro capítulo, denominado O Dinheiro – A escravidão comercial, mostra exemplos de escravidão mercantil na África, que passa a ser uma atividade de maior caráter, transpondo a barreira da classe aristocrática. A comunidade de maior tamanho poderia usar a escravidão e seus benefícios o que, tirou grande parte do poder dos impérios, favorecendo assim para o surgimento expressivo do que o autor intitula como “mosaico de territórios tribais e burgos comerciais”, fazendo crescer e distribuindo a escravidão no campo e trocando o “comércio dos homens pelo comércio dos produtos”.
Meillassoux observa que a escravidão e o seu crescimento estão ligados ao comércio, e não ao modelo social de parentesco, pois essa ligação só pode ser realizada por uma outra categoria social, que seja diferente de uma categoria que possua qualquer grau de parentesco com a inicial. Podemos observar também que, elementos como a guerra e o comércio cediam a mão de obra necessária para sustentar economicamente as regiões que necessitavam das trocas comerciais, assim como a das regiões geograficamente mais distantes.
...