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A Análise da Caneta

Por:   •  30/5/2015  •  Ensaio  •  562 Palavras (3 Páginas)  •  389 Visualizações

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O objeto material como documento

        Eu gostaria, aliás, a esse respeito, de fazer um pequeno exercício. Não é, absolutamente, uma análise, é um mero exercício. Uma caneta esferográfica é um artefato. É um objeto fabricado pelo homem, que encerra vários níveis de informação, mas o dominante é o problema das relações entre os homens. Convém examinar três aspectos: tecnológicos, morfológicos e funcionais (que incluem tanto as funções utilitárias como as funções simbólicas). Sob o aspecto tecnológico, eu desmonto essa caneta e o primeiro ponto que me chama a atenção é a heterogeneidade da forma, o que significa ter eu diante de mim um artefato decomponível, desfibrável em unidades autônomas, mas que se articulam entre si. Essa heterogeneidade de partes articulares também vai ser de par com a heterogeneidade da matéria-prima: metal, plástico, uma solução química. A multiplicação de formas que correspondem a uma multiplicação de matérias primas, significa uma complexidade do artefato que vai levar-se imediatamente, a pressupor heterogeneidade, diversificação e complexidade em níveis relacionais. Mencionarei um só problema. Essa diversidade de matérias primas significa todo um quadro extremamente complexo de relações comerciais e basta lembrar, por exemplo, que o plástico é derivado do petróleo para se entender como, através do exame desta caneta, eu seria levado a examinar até alguns aspectos da dependência econômica. Os aspectos morfológicos são ainda mais ricos nesse sentido, pois a característica da articulação significa decomposição de operações. Há unidades diferentes de operação na fabricação desse artefato, que a forma indica. Unidades de operação significando, portanto, um certo tipo de divisão social do trabalho. A diversificação da matéria prima também leva à mesma direção, porque, inclusive, o processamento dessa matéria prima é altamente especializado: não se trata o metal da mesma forma que a solução química ou o plástico. As qualificações necessárias para o desenvolvimento de cada uma dessas unidade operativas na fabricação desse artefato articulado, são diferentes. Por outro lado, a regularidade das formas, a superfícies absolutamente lisa, em algumas partes, ou a superfície regularmente canelada em outras, indica procedimentos que não são manuais. Essas unidades de operação são todas elas mecanizadas e eu posso estabelecer como interferência, não só a produção mecânica, mas, também, a linha de produção - produção em série - de massa. Estou aqui em pleno terreno relacional: aspectos de organização da ação humana, divisão social do trabalho, fragmentação nas operações da fabricação de um artefato. Se eu examinar agora os aspectos funcionais, vou também extrair informações nesse mesmo sentido, desembocar nos aspectos relacionais. Por exemplo, as funções utilitárias revelam uma convergência de todos esses aspectos morfológicos, etc., para uma função que é transmitir a uma ponta, a carga química que se encontra dentro do artefato, e protegida por uma carapaça externa. Além do mais, o mecanismo retrátil me faz com que essa ponta aparece ou desapareça e uma vez que ela aparece, posso executar um traço gráfico (a solução química é composta de pigmentos), com vazão regulada. Em outras palavras, isto é uma caneta e serve para escrever. Relacionando, assim, a função de notação gráfica com esse caráter portátil do artefato (seu peso e portabilidade) e, mais ainda, com as condições de produção industrializada em massa, chego a questões importantes de nível relacional: a significação da escrita como função relevante de comunicação nessa sociedade que a produziu e que dela necessita a todo instante.

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