A China Escolhe Seu Caminho. E nós?
Artigos Científicos: A China Escolhe Seu Caminho. E nós?. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: caricaro • 17/11/2013 • 4.723 Palavras (19 Páginas) • 281 Visualizações
Quem andaase pelas ruas de pequim a dez dias do inicio do 18º congresso do partido comunista chinês marcado para 8 de novembro, não perceberia nenhum sinal da aproximação do evento de escolha do novo presidente e da cúpula do governo do país pelos próximos dez anos. Num processo diametralmente oposto à recente eleição presidencial americana, o Congresso pouco desperta a atenção da população da segunda maior potência econômica do planeta. Uma estudante universitária de Xangai, coração econômico do país, chegou a dizer que teria de pesquisar no Baidu, a versão chinesa do Google, para saber a data da mudança. Não que ela se importasse muito com a iminente troca de guarda de seu país. "Isso aqui é a China", disse ela, pedindo para não ser identificada. "Minha opinião não faz a menor diferença. Além disso, o próximo presidente já está escolhido há anos. Todos sabem disso." É verdade. Todos já sabem que Xi Jinping, atual vicepresidente do país, é o escolhido para ser o secretáriogeral do PC e, portanto, também o próximo presidente do país. A opinião da estudante é a mesma de quase três dezenas de chineses ouvidos por EXAME nas cidades de Hangzhou, Xangai e Pequim durante a segunda quinzena de outubro. Os chineses também pouco sabem sobre Xi, além do fato de ele ser filho de um dos líderes da revolução chinesa próximo do extimoneiro Mao Tsétung e de ser casado com uma cantora do Exército. Aos 59 anos, Xi é formado em engenharia química e doutor em direito. É conhecido por posições liberais e por apoiar a continuidade das reformas econômicas. Em um país com 4 000 anos de história, e onde democracia nunca passou de uma ideia estrangeira, esse desinteresse é compreensível. A transformação da China nos últimos 30 anos éalgo sem precedentes, e as políticas de abertura econômica não serão alteradas pelo novo presidente, muito pelo contrário. O maior desafio de Xi Jinping será manter o país no mesmo rumo que tirou 300 milhões de pessoas da pobreza nas últimas duas décadas e tornou a China um dos motores vitais da economia mundial. As decisões do novo presidente serão acompanhadas com lupa por governos e empresários do mundo todo. O objetivo é claro levar a prosperidade para o próximo bilhão de chineses. Mas o caminho, não. O modelo de exportação de manufaturados e pesados investimentos em infraestrutura terá de ser refinado. Mais chineses terão de trocar o campo pela cidade. E todos terão de gastar mais. A revolução que começou com as quinquilharias de 1,99 vai subir de patamar: as empresas terão de passar dos carrinhos de brinquedo para os carros elétricos de verdade. Foi quase impossível lutar contra a China dos produtos baratos. Agora será a vez de enfrentar uma China cada vez mais sofisticada. "Essa mudança é importantíssima para a Ásia, para o mundo e, sobretudo, para o Brasil", diz o exministro de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior Sergio Amaral, atual presidente do Conselho Empresarial BrasilChina. As exportações de bens primários continuarão crescendo em ritmo acelerado. Mas isso não significa que o Brasil esteja fadado a mandar somente soja, minério de ferro e celulose para o outro lado do mundo. Mais de 520 milhões de pessoas devem ascender à classe média na China até 2021, estima o analista Homi Kharas, do centro de pesquisas americano Brookings Institution. Se até 2030, como está planejado, a renda per capita triplicar e a classe média urbana chinesa chegar a 1 bilhão de pessoas, o país terá um potente mercado consumidor para qualquer produto. As empresas brasileiras podem estar diante de um mercado inesgotável, mas também terão de enfrentar uma nova geração de empresas concorrentes endinheiradas, qualificadas e potencialmente letais na China, os parques tecnológicos passam de 300, e 2,2% do PIB é investido em pesquisa e desenvolvimento. Não mais. O casal tem um sedã japonês Mazda na garagem do prédio. Zhang e Weiwei levam uma vida confortável em uma das cidades mais ricas do país e sonham com o fim da política de um filho por casal um novo filho significaria mudança para uma casa maior. Histórias parecidas existem aos milhões mas os chineses passam do bilhão. O país é muito maior e mais complexo que meia dúzia de cidades que se transformaram em mecas de consumo na última década, como Xangai, Pequim e Shenzhen, classificadas pelo governo como cidades tieri, ou de primeiro nível. A renda média per capita chinesa nas áreas urbanas é de 10 000 dólares anuais próxima da média brasileira , enquanto na zona rural não passa de 3 000 dólares. Mais: 10% dos domicílios mais ricos do país detêm 85% dos ativos pertencentes às famílias chinesas, segundo revelou uma pesquisa realizada pela Universidade do Sudoeste da China. Mobilidade social é uma coisa; a inevitável tensão entre ricos e pobres é outra. "A disparidade é o principal desafio que o país tem de resolver", afirma Fan Gang, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e professor da Universidade de Pequim. Atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas ainda vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de 2 dólares por dia. Uma das principais transformações que Xi terá de comandar é o desenvolvimento de uma rede de proteção social. Ironicamente, poucas sociedades assimilaram tão bem o conceito de Estado mínimo quanto a China "comunista" isto é, no aspecto da prestação de serviços públicos. O único serviço gratuito prestado à população pelo Estado é a educação básica (os 12 anos de ensino compulsório). E, mesmo assim, se o aluno tirar notas tão ruins a ponto de não conseguir se classificar para uma escola de ensino médio, sua família terá de pagar pelo ano repetido. Universidade pública, como se conhece no Brasil, não existe. As universidades são, sim, do governo, mas todas são pagas. Nos hospitais públicos, se o paciente não tiver dinheiro, não é atendido. Mas o que acontece se ele estiver com uma doença grave? "Volta para casa e espera pela morte", diz uma médica, que pede para não ser identificada. Apesar de o governo ter começado a implantar um sistema de aposentadoria há cerca de 20 anos, os benefícios são baixíssimos e cobrem apenas parte da população. Qualquer aumento de renda entre os chineses mais pobres se transforma em consumo de itens de primeira necessidade. Por isso mesmo, no Brasil o segmento que mais deve se beneficiar dessa expansão da população urbana chinesa é o agronegrocio. A expectativa é que até 2020 o consumo chinês de soja cresça 67%; o de frango, 550; e o de suínos, 42%. "O governo chinês tem grande preocupação com a segurança alimentar e quer garantir comida para a população", diz Marcos Molina, presidente do Marfrig, frigorífico que detém a marca Seara.
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