A Construção e Reforçamento do Comportamento Feminino em “Diva” De José de Alencar
Por: i need café • 8/12/2019 • Artigo • 6.469 Palavras (26 Páginas) • 187 Visualizações
A construção e reforçamento do comportamento feminino em “Diva” De José de Alencar
Robson de Sousa Oliveira[1]
Resumo
O presente artigo procura analisar alguns aspectos da obra Diva de José de Alencar, publicado primeiramente em 1864, fazendo parte da séria de três livros Perfis de Mulher, ambientado na cidade de Rio de Janeiro, é um romance urbano buscando retratar a sociedade da época, levando em conta esses aspectos e pautado no debate de Literatura e História, a primeira sendo fonte história para a segunda, busca-se analisar a representação feminina, a mulher do século XIX, em uma cena de novos costumes e regras, qual o papel do romance e de suas representações para essa sociedade, um mergulho na mentalidade e sensibilidade de uma classe alta que é representada no livro e para ao qual o mesmo é destinado, servindo como parâmetro para o comportamento aceitável. Em uma sociedade onde a mulher é destinada ao matrimonio, certos comportamentos são reprovados e outros a levam a felicidade ao amor, que era representado no casamento.
Palavras-chave: José de Alencar; comportamento; História e Literatura; amor; casamento.
Introdução
História e Literatura são duas narrativas, elas nos contam algo, constroem um enredo a partir de acontecimentos. No caso da História, tais acontecimentos tentam chegar devem ter sido reais, e devem chegar o mais perto do que realmente aconteceu. A Literatura não é construída em cima de fatos reais, podendo também o ser, mas de todo modo, ela traz historias, personagens que não precisam ter existido, entretanto ela está fixada em um tempo, em um espaço, ela é feita por homens e são representações destes.
A literatura registra e expressa aspectos múltiplos do complexo, diversificado e conflituoso campo social no qual se insere e sobre o qual se refere. Ela é constituída a partir do mundo social e cultural e, também, constituinte deste; é testemunha efetuada pelo filtro de um olhar, de uma percepção e leitura da realidade, sendo inscrição, instrumento e proposição de caminhos, de projetos, de valores, de regras, de atitudes, de formas de sentir... Enquanto tal é registro e leitura, interpretação, do que existe e proposição do que pode existir, e aponta a historicidade das experiências de invenção e construção de uma sociedade com todo seu aparato mental e simbólico. (BORGES, 2010, p. 98).
Olhando para uma obra literária nos fale vale como fonte histórica, não olhando pra ela como sendo de fato a representação de um tempo, mas como os homens daquele tempo se representam, não é que eles estejam escrevendo a vida como ela é, o autor está inserido em um contexto social, sua escrita será construída a partir disso, escrevendo sobre o passado, presente ou futuro, o que faz valer é o tempo em que foi escrita. De acordo com a nova História, ou história cultural, seria essa a história das mentalidades, pois estamos no campo do imaginário, e o que a literatura pode nos mostrar é como funcionava a mentalidade de um povo em certo tempo da história.[2]
A literatura vai para além daquilo que está escrito, sendo ela um registro de seu tempo é um uso como fonte para história, mas não para simplesmente nesta constatação ela é a representação do imaginário.
Neste mundo verdadeiro das coisas de mentira, a literatura diz muito mais do que outra marca ou registro do passado. Ela fala do invisível, do imperceptível, do apenas entrevisto na realidade da vida, ela é capaz de ir além dos dados da realidade sensível, enunciando conceitos e valores. A Literatura é o domínio da metáfora da escrita, da forma alegórica da narrativa que diz sobre a realidade de uma outra forma, para dizer além. (PESAVENTO, 2003, p. 40)
Para Pesavento Literatura e História são maneiras de dizer a realidade e de lhe atribuir sentido, diferentes mas próximas. E esse confronto pode partir de um plano epistemológico, são narrativas que constroem um enredo, dão significado a partir da linguagem e artifícios retóricos ás ações encadeadas no tempo. Têm como referência o real seja para nega-lo, ultrapassa-lo ou transfigura-lo. Tanto História como Literatura realizam uma configuração no tempo, não é presente e nem passado, no caso da História, ele substitui esse passado, o presente da escrita inventa um passado para melhor explica-lo. A História e Literatura são formas de recriar o mundo partindo de um imaginário mas de forma compreensiva e significada, para a História nesse mundo de texto tudo tem que ter acontecido.[3]
A Literatura conta histórias fictícias, a História conta histórias reais, ou o mais próximo que conseguem chegar dessas dimensões, no entanto a História também se vale da ficção, essa estratégia, todavia, está ligada as escolhas feitas pelo historiador, a seleção do material, o enredo da narrativa, as metáforas que usa, os sentidos implícitos que estão colocados, mas faz isso com um limite, precisa ser real, o historiador não cria ele descobre, e isso através das perguntas que ele faz, então ele decide o que perguntar e o que escreve é uma versão interpretativa.[4]
A diferença entre história e ficção parece clara, sendo a História a que realiza uma representação adequada de um real já passado, já a ficção informa do real, mas não se deixa nele, podendo fugir do mesmo.[5]
No entanto essa distinção tem sido ofuscada pela “evidenciação da força das representações do passado propostas pela literatura”, como do teatro dos séculos XVI e XVII, e do romance do século XIX, que se apoderaram do passado, deslocando para a ficção literária o registro de fatos e personagens históricos e colocando situações que foram reais ou apresentadas como tais. ((BORGES, 2010, p. 99)
Quando se usa a Literatura como fonte histórica, tem que refletir sobre diversos pontos específicos, o tipo de texto, a escola, o discurso do autor, as intenções por traz, para ir contra elas. Daí a importância de saber o meio social do autor, para quem se dirige seu discurso, quem está lendo, onde está lendo.
Utilizar a literatura como documento para produção do conhecimento histórico requer também pensar sua estética, o cânone literário pertinente a esse tipo de escrita e que foi considerado para sua avaliação, pois o valor e a importância de um texto literário não são absolutos, podendo o historiador recorrer tanto aos escritores apreciados e reconhecidos como grandes pelo grupo de agentes intelectuais, quanto àqueles considerados como menores e medíocres. (BORGES, 2010, p. 101).
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