A Guerra do Peloponeso
Por: João Raffo • 26/4/2018 • Resenha • 2.188 Palavras (9 Páginas) • 255 Visualizações
ADRIANO SANTANA, EMILIO GUSTAVO ALVES DE ANDRADE, FILIPE ANDRÉ LOPES DE LEMOS, HELLINTON DOS SANTOS SILVA, JOÃO PEDRO MOTA RAFFO RODRIGUES, JOÃO VICTOR AMBROZIO, MARINA DREHMER
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Funari, P.P.A. ‘A Guerra do Peloponeso’. In. Mangnoli, D. (org) História das Guerras, São Paulo: Editora Contexto, 2006, pp. 19-45.
Leão, D. F. “Licurgo: o mítico criador da constituição espartana”. In. Leão, D.F. A globalização no mundo antigo, São Paulo: Editora Annablume, 2013, pp. 33-48.
Texto 1: A Guerra do Peloponeso-Pedro Paulo Funari
“A Guerra do Peloponeso” compõe a obra “História das Guerras”, organizada por Demétrio Magnoli. De autoria de Funari, o texto é dividido em 12 tópicos que trazem um panorama sobre esse conflito de suma importância histórica, destacando aspectos que contribuíram para lhe conferir tal estatuto, como as inovações no campo das estratégias militares e diplomáticas, bem como a sua dimensão (geo)política. Objetivamente, pode ser resumida como uma emblemática guerra protagonizada por Atenas e Esparta que ocorreu entre 431 e 404 a.C., tendo havido uma prévia entre 460 e 455 a.C. O dimensionamento desse evento histórico, contudo, está condicionado tanto à contextualização do mundo grego e das próprias cidades-Estados que Atenas e Esparta constituíam, como à explanação acerca da conjuntura da qual emergiu, a exemplo da relação que é possível estabelecer com as Guerras Medo-persas.
Quanto ao mundo grego no século V a.C., o autor apresenta-o como uma série de cidades, política e economicamente autônomas, dispersas por uma grande extensão do território mediterrâneo que comungavam traços culturais, como o idioma, a religião, os jogos olímpicos e tradições dos poemas homéricos – sendo as guerras um elemento importante, onde um homem demonstrava seu valor de acordo com sua coragem no campo de batalha. A ideia de cidadania nunca ultrapassava os limites das cidades, e desta forma, uma pessoa só era considerada cidadão dentro da sua própria cidade.
Ao passo que a Guerra do Peloponeso foi a primeira travada num contexto democrático, Funari cita sua importância como referência para os estudos sobre a relação entre regime político e guerra, comparando-a à Guerra Fria, um conflito que opunha duas grandes potências em disputas por território e áreas de influência: de um lado Atenas, cujo território havia sido recém-unificado, reunindo aldeias com habitantes-cidadãos, organizada sob regime democrático e voltada às trocas comerciais; e Esparta, fruto de uma longa conquista de territórios, governada por oligarquias, de economia agrícola e marcada pela disciplina e educação militarizada.
O autor traz, então, os bastidores do início da Guerra, iniciada em 431 a.C com o ataque de Tebas a Platea, mencionando as Alianças Militares provenientes dos conflitos contra os persas, encerrados em 479 a.C. Para combater os inimigos do Oriente, as diversas cidades-estado gregas uniram-se na chamada Liga Helenística, capitaneada pelas gigantes Atenas e Esparta. Contudo, ao fim das batalhas, Esparta retirou-se para reformular a antiga Liga do Peloponeso, junto com Corinto, Tebas e outras cidades. Essa liga cultivou relações internacionais com potências orientais como Lídia e Egito, ao passo que posteriormente teve apoio do Império Persa durante a Guerra. Em resposta, Atenas, desde o final dos conflitos focada em desenvolver uma marinha poderosa, convocou a modernamente chamada Liga de Delos, da qual faziam parte a ilha homônima e Argos, cidade vizinha e rival de Esparta.
Funari passa ao próprio evento, considerando as motivações estruturais da guerra, e citando, para tanto, Tucídides que pautou as diferenças de regime político e à origem de cada uma dessas sociedades. Após a vitória contra os persas em 479 a.C., havia um cenário geopolítico polarizado, com as demais cidades gregas aliadas a uma ou a outra potência, cujas divergências se tornaram cada vez mais claras - mesmo as estratégias entre Atenas e Esparta eram diferentes, a primeira focou na defesa de seu território (destaque para a busca de cidades aliadas e construção de muros de proteção) e a segunda voltou-se para a guerra em si, contando inclusive com intervenção estrangeira, algo inédito até então. Além do grande conflito, dividido em seis etapas, pauta como predecessor Primeira Guerra do Peloponeso, iniciada em 460 a.C. com conquistas de portos, territórios e aliados; e terminada com um acordo de paz em 451 a.C. Ao fim desse período, o mundo grego era regido por Esparta, a maior potência terrestre, e o recém-formado Império de Atenas, voltado para o comércio marítmo. Com um tradado de paz firmado em 446/445 a.C, acordaram-se algumas cláusulas, dentre as quais pode-se citar que as divergências ente as duas potências deveriam ser submetidas a arbítrio, uma novidade para a época.
Em 440 a.C., houve violação dessa cláusula. Num conflito entre Samos e Mileto pelo controle de Priene, Atenas interveio e pôs a pauta em debate arbitrário, o que causou revolta na recém-deposta (por Atenas) oligarquia de Samos, que pediu auxílio ao governo persa da Ásia Menor e derrotou o regime democrático ateniense imposto na cidade. Outra crise, desta vez entre Córcira e Epidamno elevou as tensões, visto que esta tinha apoio de membros da Liga do Peloponeso. Córcira, vendo-se em desvantagem, ameaçou pedir socorro a Atenas. Estava aí plantado o vislumbre de um conflito maior. Esparta vendo isto mediou o conflito, Córcira, insatisfeita com o desenrolar dos fatos, recorreu a Atenas, que fez algo inédito: um acordo defensivo, válido apenas se fossem atacados, isto aliado a outro fato inédito - um embargo econômico sobre os megários, que os impedia de adentarem o mercado ateniense e usar os portos.
A partir daí, diversas outras cidades dominadas pelo Império de Atenas começaram a se revoltar contra sua hegemonia, requisitando apoio da Liga do Peloponeso, que não veio.
Demasiado extensa, a guerra deu-se por sua maior extensão em conflitos terrestres, batalhas marítimas, aparecimento de grandes estrategistas tanto defensivos como de ataques (cujas táticas são até hoje estudadas), buscas incessantes por aliados fronteiriços, tomadas de portos e ataque às fontes de suprimentos das tropas rivais.
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