A História na América Latina: Ensaio de crítica historiográfica de Malerba
Por: mbpnmaria • 8/5/2017 • Abstract • 972 Palavras (4 Páginas) • 257 Visualizações
MALERBA, Jurandir. A História na América Latina: ensaio de crítica historiográfica. Rio de Janeiro: FGV, 2009, pp. 13-48.
Em seu texto o autor Malerba (2009) – Doutor em História Social pela USP, inaugurou a Cátedra Sérgio Buarque de Holanda de Estudos Brasileiros na Freie Universität/DAA, atualmente é Professor Titular Livre da UFRGS e também pesquisador do CNPq – faz uma reflexão acerca das vertentes historiográficas latino-americana, apresentando-as em uma perspectiva histórica, remontando seus itinerários nas últimas quatro décadas, interpretando-as a fim de demonstrar o processo de mudança dessa historiografia durante este período, mais especificamente a partir da década de 60, levando em consideração, e como ponto fundamental, o contexto histórico de transformações epistemológicas e sociais em sua amplitude a partir da década de 60, marcada por um cenário de crise da cultura ocidental e seus valores, a qual as intentonas revolucionárias de 68 tanto expressou.
Segundo o autor esta década é tomada como inflexão não tanto pela quantidade e qualidade de produção historiográfica - uma vez que houve uma explosão historiográfica durante este período –, mas principalmente pelas mudanças de caráter, quase que traumático, no modo de se conceber e se escrever a história. Segundo o autor, o momento é marcado pela transição paradigmática radical que abandonou as histórias de caráter sintético e holístico, baseadas em grandes teorias explicativas, um tanto universalistas, se tornando a favor de novas modalidades analíticas que são focadas em objetos construídos em escala reduzida, chamados de “novos objetos”. Outro ponto fundamental de referência e inflexão para compreender esta trajetória da historiografia latino-americana são, de acordo com o autor, as ambíguas e fortes relações que ela mantem com outros centros culturais e historiográficos no decorrer do tempo, relações estas que refletem grandes influências de polos culturais ditos hegemônicos. O autor também destaca e analisa o papel do marxismo na historiografia latino-americana, culminando também na renovação da disciplina.
Sobre estas premissas, autor faz a ressalva de que por objetivar delinear tendências, é inevitável a proposição de generalizações, o que faz parte do recurso do raciocínio e uma estratégia argumentativa. Assim, portanto, é natural que elas se apliquem de forma mais valida para uma parte e não para outra parte da América Latina, isto em decorrência dos descompassos nas trajetórias das esferas políticas, sociais, econômicas e também historiográficas, nacionais. Por este mesmo viés, o autor justifica os inevitáveis recortes de sua pesquisa, por consequência da magnitude da produção historiográfica nos últimos 40 anos, evidenciando assim que seu critério de escolha é baseado nas que ele chama de “tendências majoritárias” das linhas mestras historiográficas. Nesta linha o autor da destaque aos campos da história social e da história econômica, caracterizando os anos 1970 e 1980, e a considerada ‘nova’ história política e cultural, em 1970 e 1980.
Dito isto, o autor faz um apanhado do contexto antes da década de 60, na qual predominava a história que se poderia chamar de “tradicional” e elucida que as principais posturas históricas eram o positivismo e o historicismo. A historiografia era focada na história política e diplomática, direcionada a elite governante. Segundo o autor, no Brasil este quadro só começou a mudar a partir do golpe militar de 1964. Em seguida o autor passa a apresentar e analisar o “Contexto histórico e intelectual da ‘transição paradigmática’”. O autor destaque que em relação a disciplina histórica a história social foi abertamente rejeitada, sendo emergido um interesse renovado nos vários aspectos da existência humana, tendo como convicção de que a cultura do grupo e até mesmo do indivíduo era vetores preponderantes de mudanças tanto quanto as forças impessoais, essa ênfase segundo o autor implicou no retorno as formas narrativas da história. Segundo o autor, essa virada foi em consequência de uma guinada cultural no ocidente, que implicou num reexame da racionalidade científica. De acordo com o mesmo, a fé na ciência e também no progresso, foi abalada em maio de 68, assim os modelos macro-históricos e macrossociais baseados tanto no mercado e no antagonismo das classes e no Estado, se tornaram incapazes para abarcar os anseios do momento, surgindo assim a “nova história cultural”, que tentou preencher as lacunas existentes. Começou a partir disso a se definir uma corrente de pensamento que se denominou “pós-estruturalismo”, que é precursora do “pós-modernismo”. Esta ultima é incrédula das metanarrativas, dando valor a multiplicidade de discursos e de jogos linguagens, dando ênfase ao questionamento da natureza e do conhecimento, dissolvendo a ideia de verdade. Havendo a partir disso o abandono das totalidades, assim não haveria mais “história” e sim histórias “de” e “para” grupos determinados, a depender “de onde se fala”. Surgindo assim uma história das mulheres, dos negros, dos homossexuais, e etc..
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