A IMAGEM DA ÁFRICA ATRAVÉS DAS LENTES DE JORNAIS SERGIPANOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX (1874 – 1879)
Por: GLEIDSONMENEZES • 27/1/2019 • Artigo • 7.003 Palavras (29 Páginas) • 297 Visualizações
A IMAGEM DA ÁFRICA ATRAVÉS DAS LENTES DE JORNAIS SERGIPANOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
(1874 – 1879)
GLEIDSON MENEZES DA SILVA*
geu_dandao@hotmail.com
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir como a África era apresentada aos sergipanos através dos jornais no final do século XIX. A abordagem a seguir está embasada nos apontamentos teóricos da micro-história, que segundo Giovanni Levi e Peter Burker (1992), orientam para a observação de características minuciosas dos registros históricos. Com isso, foi feita a investigação em dois jornais sergipanos o Jornal do Aracaju, de 1874 e o Jornal o Pharol, de 1879, analisando e descrevendo as representações sobre o continente africano, como também evidenciando alguns detalhes marginais desses periódicos, como a identificação dos donos, a descrição das publicações, a análise de textos para constatar como o continente africano era abordado nas matérias jornalísticas – estereótipos, imagens, aspectos econômicos, sociais e naturais. Com isso, poderemos notar as diferenças nas imagens da África trabalhadas em cada uma das publicações editadas em Sergipe no final do século XIX. No primeiro jornal mostrará o continente como potencial de riqueza para a dominação imperialista, já no segundo focando na população e seus defeitos morais e sociais.
Palavras-chave: África, Jornais, Sergipe, Imperialismo.
ABSTRACT
The present work aims to discuss how Africa was presented to sergipanos through newspapers in the late nineteenth century. The following approach is based on the theoretical notes of microhistory, which according to Giovanni Levi and Peter Burker (1992), guide the observation of minute characteristics of historical records. This led to an investigation in two Sergipe newspapers, the Jornal do Aracaju, in 1874 and the Jornal o Pharol, in 1879, analyzing and describing the representations on the African continent, as well as highlighting some marginal details of these journals, such as the identification of the description of the publications, the analysis of texts to verify how the African continent was approached in journalistic matters - stereotypes, images, economic, social and natural aspects. With this, we can note the differences in the images of Africa worked on in each of the publications published in Sergipe in the late nineteenth century. In the first paper he will show the continent as a potential wealth for imperialist domination, already focusing on the population and its moral and social defects.
Keyword: Africa, Newspapers, Sergipe, Imperialism.
INTRODUÇÃO
A imagem da África foi construída de forma estereotipada ao longo dos séculos pela humanidade. No Brasil oitocentista não era diferente, de acordo com Oliva[1] algumas sociedades viam esse continente a partir de imagens que começaram a ser construídas durante a antiguidade e se consolidaram com os relatos dos viajantes durante a expansão marítima europeia a partir do século XV. Já na província de Sergipe a imagem do continente africano não se diferenciava do restante do país, pois colocavam os africanos como inferiores[2], e essa ideia perdurou no censo comum sobre o continente, identificado como algo homogêneo ou um lugar inóspito, um mundo atrasado. Este artigo tem como objetivo fazer uma breve analise de como o continente africano foi apresentado no século XIX à sociedade sergipana através de dois jornais[3].
Os impressos publicados na época e escolhidos para a análise são: o Jornal do Aracaju, de 1874 e o Jornal o Pharol, de 1879[4]. O primeiro periódico era da capital da província e o segundo do interior, os referidos jornais destacaram-se como importantes espaços de formação de opinião e instrumento politico a serviço dos agentes que detinham o poder no campo da política.
O periódico da capital apresentou uma abordagem da África através dos relatos de um viajante a serviço da Coroa inglesa, o Sir Samuel Baker, que tinha como missão especial combater o tráfico de escravos no interior da África. Além da missão oficial, o inglês tinha uma missão particular fazer vários estudos topográficos sobre as nascentes dos rios da região por onde andou. A publicação faz uma apresentação positiva do continente, mostrando um território à chegada da industrialização, a exemplo da estrada de ferro, com o solo considerado o mais fértil do planeta, com excelentes produções, dentre elas o café.
Já o impresso do interior, o Jornal o Pharol, apresenta uma visão negativa do continente africano, construída sob os estereótipos criados a respeito desse continente, e serve de síntese de como a África sofreu preconceito desde antiguidade até a publicação desse respectivo jornal. Outro ponto sutilmente apontando pelo periódico é como apresenta os motivos legitimaram a escravidão africana. A impressa demostra um evidente caráter parcial na medida em que procura formar opiniões sobre o continente africano.
Dessa forma, em apenas dois artigos de jornais é possível explorar as sutilezas que permeavam o imaginário sobre o continente africano, usando como principal fonte as ideias contidas nesses dois impressos.
1 A ÁFRICA APRESENTADA AOS SERGIPANOS NO FINAL DO SÉCULO XIX
1.1 JORNAL DO ARACAJU
Os jornais desde sua construção, distribuição e leitura, trazem registros de diferentes áreas da sociedade, ocupando um espaço social importante. Os periódicos de Sergipe provincial apresentam registros sobre os mais diferentes campos sendo marcante a diversidade temática. Essa característica dos impressos sergipanos também foi observada por Silva e Linhares (2009)[5], que a partir das revistas encontradas para a análise de suas pesquisas, perceberam a variedade dos assuntos abordados em vários jornais e revistas do século XIX em Sergipe. O Jornal do Aracaju foi comandado pelo Dr. Bacharel Manoel Luiz Azevedo d’Araújo, integrante do partido conservador, e foi proprietário de 1872 até 1874. A partir das fontes coletadas[6], supõe-se que o jornal surgiu em 1870 e deixou de circular em 1879. Durante esse período, grande parte dele dedicou-se a retratar a vida da capital sergipana, publicando principalmente as informações relativas ao Estado, em sua coluna intitulada “Parte Oficial”[7]. O jornal possuía quatro páginas, tinha como proposta duas publicações semanais, sua circulação se daria nas quartas feiras e nos sábados. Na sua publicação do dia 21 de janeiro de 1874, uma quarta-feira, na seção intitulada “Literatura”, trouxe o texto de Samuel Baker.[8] Se trata de uma transcrição do Jornal Diário de S. Paulo[9], de 1874, que conta a historia do viajante a serviço da Coroa inglesa.
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