A NARRATIVA HISTÓRICA COMO FORMA DE ANÁLISE
Por: Hevilton1 . • 26/10/2017 • Ensaio • 3.169 Palavras (13 Páginas) • 222 Visualizações
A NARRATIVA HISTÓRICA COMO FORMA DE ANÁLISE
Hevilton Wisnieski da Silva[1]
Analisando a ilustração enquanto problema histórico, percebe-se, inicialmente, que a mesma teve um raio geográfico de influência bem amplo, não se restringindo ao “centro” da Europa (França, Inglaterra, Alemanha e Itália), mas atingindo a “periferia” do Velho Continente, de Portugal até a Rússia, e também as Américas. Além disso, não foi coetânea nos vários países em que se difundiu. Pode-se dizer mesmo que a ilustração variou conforme as diferenças de nacionalidade, de credo e de região, havendo, portanto, diferentes ilustrações, vividas por homens e mulheres, por brancos e também sob a influência das tradições indígenas. Luis Carlos Villalta[2]
Pensando em possiblidades de pesquisa, logo que me deparei com o universo do livro, supus a necessidade de se analisar a presença do livro em um contexto, não como “um livro” mas como “o livro (...) um fato social, isto é, objeto de escrita e leitura, mas também de venda, compra, colecionamento; motivo de censura, crítica, classificação; vítima de esquecimento ou algo retido pela memória coletiva”[3], o que abre um vasto campo de investigação para que seja possível alcançar acontecimentos históricos. Mas de que maneira alcançar esses tais acontecimentos históricos sendo que passado não existe mais, passou, ninguém pisa em um mesmo espaço, uma mesma lama, no mesmo lugar e deixa a mesma marca, por condições diversas, a exatidão não pertence ao ofício do historiador, assim como relativizando o conceito de ciência, percebo que a exatidão está muito menos do que a abstração para o desenvolvimento desta nas mais diversas áreas que com o tempo foram se concretizando.
A citação acima inicia com a palavra analisando, do verbo analisar, o que implica em observar e estabelecer conclusões, um fim, mas no entanto, a escrita histórica acima, não deixa dúvidas de que esta narrativa deste autor, não é a primeira, nem a única sobre a temática ilustração, o que demonstra que a análise histórica sofre metamorfoses de acordo com o tempo e o espaço em que ela ocorre, e que o distanciamento temporal, implica em desconstruções daquilo que se afirma e se “comprova” no período que está sendo investigado. Percebo isso, no momento em que o autor insere uma segunda palavra importante para a escrita da história: problemática. Esta, está inserida no ofício histórico desde a suposição, como citei acima, de uma análise temática do passado. No entanto, essa temática não é trazida do passado, é o historiador em seu presente que a busca, de acordo com a problemática estabelecida por necessidade do presente. O autor conclui, que não houve um movimento iluminista, como comumente se afirma em textos os mais diversos, mas vários movimentos iluministas no século XVIII conforme influências culturais, e de espaço, porque os vestígios desse período aos quais ele teve acesso, e que ele os transformou em fontes para a sua investigação, foram por ele analisados e questionados, criando uma visão própria do autor, sujeito de seu tempo, e publicados em sua narrativa.
Pois bem, eis que existem muitas disputas em torno da terceira palavra, não dele, mas que eu usei para definir o seu modo de publicar os resultados de sua pesquisa, a narrativa. “É essencial enxergar que os documentos e os testemunhos só falam quando sabemos interrogá-los”[4] já dizia Marc Bloch, portanto a escrita da história depende muito da forma como o historiador, torturador dos mortos, como diria o professor Benatte, interroga os documentos, vestígios do passado por excelência, mas não histórias e nem fontes, pois dependem da mudança de estatuto do objeto para que ele seja fonte:
Em história, tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em “documentos” certos objetos distribuídos de outra maneira. Esta nova distribuição cultural é o primeiro trabalho. Na realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu lugar ou estatuto.[5]
Assim antes de questionar, a participação do autor em sua escrita, existe desde muita antes de sua escrita. A narrativa do autor, seria então uma forma de representação ou a descrição de uma pesquisa, um meio pelo qual o autor não conseguiria escapar a partir do momento em que se submetesse a iniciar uma pesquisa histórica, mas, muitos historiadores se colocam contra a afirmação de que utilizam a narrativa em seus trabalhos e, se colocam mesmo contra a própria narrativa
Aos muitos daqueles que desejam transformar os estudos histórico sem uma ciência, o uso contínuo que os historiadores fazem de um modo de representação narrativo é índice de um fracasso a um só tempo metodológico e teórico[6]
Ainda segundo o autor a narrativa é a forma do discurso que nada altera no conteúdo representado, seria uma forma de simular a estrutura e o processo dos eventos reais,
Dessa forma a narrativa representa o lado negativo da história, em que a pesquisa histórica se afastaria de qualquer possibilidade científica ao se aproximar do modo de representação narrativo. Muitos confundem a narrativa da história com a narrativa da ficção, tomando como base os objetivos que cabem a cada uma, vejo que como Hayden White afirma, o que distingue a história da ficção é o seu conteúdo e não a forma, ou seja, a forma de representar do narrador na ficção é uma invenção livre enquanto que para o historiador existe uma restrição que provém da documentação à disposição do historiador, que são vestígios de eventos históricos do passado e que, portanto, não podem ser inventados pelo historiador, somente questionados
O método histórico consiste em investigar os documentos afim de determinar qual é o enredo verdadeiro, ou mais plausível, que pode ser contado a respeito dos eventos, estes entendidos como evidência. Um relato verdadeiramente narrativo, segundo esse ponto de vista, é menos o produto dos talentos poéticos do historiador-pressupostos, quando se trata do relato narrativo de eventos imaginários- do que o resultado necessário de uma aplicação apropriada de um “método histórico”[7]
Ainda segundo o autor a narrativa é a forma do discurso que nada altera no conteúdo representado, seria uma forma de simular a estrutura e o processo dos eventos reais, assim entendendo que ao historiador cabe ‘fazer amarras’ por meio da narrativa nos eventos aos quais tem acesso nos documentos, pois o documento por si só não é história, e a representação dos eventos reais precisa da análise e da participação como já foi dito acima, do historiador, para que a história seja passível de apreciação, interpretação, discussão e mesmo possa dar prazer aos seus leitores.
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