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A Resistência da mulher à ditadura militar no Brasil

Por:   •  23/5/2018  •  Resenha  •  821 Palavras (4 Páginas)  •  401 Visualizações

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Ana Maria Colling descreve em seu livro a dificuldade, ainda presente, da insersaçao da mulher nos espaços públicos e nos espaços políticos. Contextualizando a luta feminista em uma época na qual o silenciamento era a força maior do aparelho social e politico, a autora busca entender como se davam as relações entre as mulheres e a repressão, bem como analisar de que forma essas mulheres eram tratadas dentro dos movimentos de esquerda e como o apagamento histórico de suas narrativas corroborava para que esse grupo continuasse sendo inferiorizado. Dentre todas as reflexões que se pode tirar da leitura, a principal é como o machismo está entranhado na nossa sociedade e como já se tornou parte do senso comum.

As mulheres que escolhessem se tornar militantes estavam desafiando todas as expectativas existentes em relação ao papel que elas deveriam cumprir socialmente. Se manter fora do alcance dos comentários e olhares públicos, se restringir aos afazeres da vida privada e doméstica, não se impor em ambientes predominantemente masculinos, não pensar e não contraria, era dessa forma que deveriam se portar. Entretanto, num período onde, numa perspectiva internacional, o mundo passava por diversos debates que suscitaram nos movimentos de contracultura, onde já se discutia a libertação sexual das mulheres e começavam a circular as primeiras  pílulas contraceptivas, era difícil para as brasileiras ficar de fora e não tomar pra si certas influencias. E mobilizadas pelo ímpeto de participar e não ser submissa, elas se uniram aos grupos da oposição.

A primeira consideração a ser feita sobre a participação das mulheres nesses grupos de esquerda, por mais “descontruídos” que fossem, é que, da mesma forma como elas sofriam como o sexismo da direita conservadora, elas sofriam com o sexismo dos parceiros de luta. Muitas vezes vistas como integrantes do grupo que necessitavam de uma espécie de cuidado, como o elo mais fraco, sendo muitas vezes subjulgadas pela suas escolhas, os homens, que reproduzem cegamente esse discurso, diferente de como se referiam aos seus outros companheiros homens, tentavam limita-las a aparência, ou a sexualidade. Para aqueles homens, as companheiras, numa perspectiva de classe, eram suas semelhantes, mas para isso, para que existisse essa “compatibilidade”, o silenciamento do corpo feminino era fundamental.

Nas tentativas de começar o debate de gêneros dentro dos grupos de oposição, as mulheres eram acusadas de criar “rachas” na esquerda. A lógica era que o movimento deveria se manter unido numa mesma medida, reforçando um mesmo discurso, para derrubar um inimigo em comum. Contudo, a contradição que se cria é essencial para entender por que o movimento opositor se complicou para obter algum sucesso efetivo mais imediato. Colocando as causas reivindicadas pelas mulheres em segundo plano, a esquerda masculina só continuava ainda mais reforçando essa mentalidade patriarcal. Dizendo que a necessidade que as mulheres tinham de expor sua voz era uma forma de sectarismo, reproduziam a mentalidade estatal sem sequer refletir sobre isso. Da mesma forma como a ditadura tem seus valores embasados nas relações de poder, e necessitam tornar mudos diversos grupos para o ascender do seu em especifico, os homens da esquerda também contavam com a opressão em favor de um “bem maior”.  É um pouco difícil compreender qual a lógica de querer destruir um sistema essencialmente patriarcal sem querer destruir a raiz que sustenta todo ele.

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