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A Vinda Da Corte Para O Brasil

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Por:   •  24/6/2014  •  2.349 Palavras (10 Páginas)  •  319 Visualizações

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1808 – O ano em que o Brasil foi inventado

O que seria do Brasil sem a chegada da corte portuguesa em 1808? Sem nenhuma noção de identidade nacional, provavelmente, a independência teria chegado mais cedo, dividindo as capitanias em pequenos países cada um com o seu governante, semelhante ao que aconteceu com seus vizinhos da América espanhola. As diferenças regionais teriam se agravado, tornando o comércio e o intercâmbio entre as diversas regiões menor em muito mais complicado; em um lugar mantido por três séculos na ignorância, composto por ilhas escassamente habitadas e cultivadas, distantes e estranhas entre si. Nem mesmo a expressão “brasileiro” seria reconhecida como sendo a designação das pessoas nascidas no Brasil. Mas, graças a um francês chamado Napoleão Bonaparte não foi assim que as coisas se sucederam. No dia 08 de março de 1808, o príncipe regente D. João VI, junto com sua família e o resto da corte portuguesa chegaram até o Rio de Janeiro, após uma rápida passagem pela Bahia, mudando para sempre a imagem do Brasil. Contudo, antes de conhecer as primeiras medidas de D. João é necessário saber quais eram as condições pré-existentes a vinda da corte no Brasil, principalmente o de sua capital, o Rio de Janeiro.

Observada do mar, o Rio de Janeiro se parecia com um vilarejo tranquilo, perfeitamente integrado ao esplendor da natureza e às montanhas que o cercava. Era a cidade mais populosa e mais importante economicamente. Possuía rica elite de comerciantes e uma indústria naval capaz de construir grandes navios. De perto, a realidade era outra. O pedaço mais lucrativo do império português era um lugar tosco, desprovido de saneamento básico, educação superior e de moeda circulante. As ruas das principais cidades eram estreitas e mal iluminadas, lotadas de vendedores ambulantes cuja gritaria não deixava ninguém em paz. Em termos de saneamento básico nada superava o sistema de “tigres”, os escravos que despenhavam o papel de carregadores de esgoto e lixo, carregando barris cheios de dejetos nas costas e os levando para o mar. Com o passar do tempo, as substâncias que caíam em seus ombros deixavam listras brancas na pele negra, daí o apelido de “tigres”. De acordo com Lopes (2008, p.27) “As praias mais glamurosas do Rio moderno provavelmente eram um fedor completo no começo do século XIX.”

“Sob o calor úmido dos trópicos, imperavam a preguiça e a falta de elegância no modo de vestir-se e comportar-se.” (GOMES, 2008, p.32.) Na questão do cotidiano, vários brasileiros, até mesmo os ricos, levavam uma vida medieval. Os talheres praticamente não eram usados a mesa, sendo normal uma pessoa provar, com as mãos, do prato de outro conviva, o que se considerava uma prova incontestável de amizade. Eram comuns as refeições feitas no chão, sentados em esteiras, com o prato no colo, enquanto ratazanas passavam correndo pelo aposento. Outro aspecto que despertava a curiosidade dos visitantes era o grande número de negros, mulatos e mestiços nas ruas por causa do tráfico. Pela manhã, centenas deles iam buscar água no chafariz do aqueduto da Carioca, que era transportada em barris semelhantes aos usados para levar os excrementos até as praias no fim da tarde.

A pouca construção de domicílios junto com o aumento da população, graças aos melhoramentos urbanísticos desde 1763, elevou o número de pobres e dos moradores de favor. Pessoas acolhidas por algum parente, amigo ou protetor que fosse proprietário no meio urbano, o que, é claro, dependia do número de domicílios de cada época. Em outras palavras, se a população aumentasse em um ritmo mais intenso do que o da edificação de casas, a procura por domicílios acolhedores deveria crescer, mas, as chances de se conseguir “morar de favor” diminuíam. As casas dos pobres, em muito pouco, se diferenciavam das senzalas de escravos. Os terrenos não ocupados eram raros ou estavam localizados em locais de difícil edificação. A alimentação básica consistia quase sempre numa dieta semelhante à consumida pelos escravos, ou seja, farinha de mandioca, carne e peixe seco, produzidos em abundância do recôncavo ou importados do Nordeste e depois das regiões meridionais da colônia. O aumento do preço dos alimentos e a falta de moradia contribuíam para a propagação de doenças e mortes aos mais carentes da cidade, sem eles o destino dos pobres era de morrer precocemente sendo enterrados como indigentes pela Santa Casa da Misericórdia. Desde fins do século XVII, o óbito desse segmento constituiu séria preocupação das autoridades cariocas.

Em 1808, a chegada da família real intensificará o quadro de penúria. A abertura dos portos destruirá parte importante do artesanato urbano, florescentes desde fins do século XVIII. Os preços dos alimentos, devido ao aumento da demanda, registram um novo período de ascensão. Aliado a isso, a transferência de parte significativa da corte portuguesa intensificará a disputa pelo monopólio do solo urbano. (VENANCIO, 2013, p.25 e 26)

Mesmo com sérios problemas, o Rio de Janeiro ainda oferecia programas interessantes aos visitantes. Dentre eles estava passear no jardim público à beira mar, com seus quiosques, bancos de mármore, fontes e estátuas. Assistir aos desfiles marítimos de navios enfeitados nas águas da baía, participar da pesca da baleia e visitar a Igreja da Glória, cheia de graça e sem trocadilhos. Pois o Rio, mesmo pequeno possuía uma paisagem natural enorme com uma enorme variedade de pássaros, borboletas e macacos. Além do que, nos últimos anos, já havia um processo de assenhoramento da cidade do Rio de Janeiro por parte dos médicos, que se manifesta numa complexificação das análises que faziam do espaço urbano. Nesse período da virada do século XVIII para o século XIX, cada vez mais as ciências e a medicina se fazem presentes na administração dos espaços, de forma pragmática, buscando responder a problemas específicos para quem vive no Rio e não apenas para quem está de passagem. “A ação do governo sobre a cidade do Rio de Janeiro é anterior à vinda da corte. Desde o tempo dos vice-reis várias obras importantes para a saúde pública foram realizadas, como a construção de valas, o aterramento de lagoas e zonas alagadiças, a construção do Passeio Público, entre outras.” (KURY, 2008, p.130).

Enquanto isso, na Europa, Portugal enfrentava sérios problemas como alvo de Napoleão por causa da sua aliança com a Inglaterra, principal rival dos franceses. Como Portugal era um dos poucos países ainda abertos à Marinha inglesa depois do Bloqueio Continental, Napoleão pressionava dom João a abandonar seus velhos aliados. Mas as ameaças dos ingleses de ocupar o Brasil, caso

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