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A ideologia imperialista da "Nova Ordem Mundial"

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Por:   •  10/9/2014  •  Tese  •  3.378 Palavras (14 Páginas)  •  530 Visualizações

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O "Fim da História"

ou

A Ideologia Imperialista da “Nova Ordem Mundial”

Luiz Marcos Gomes

A grande maré capitalista que tomou conta do mundo, particularmente após a derrocada dos regimes estabelecidos nos países do Leste europeu e na extinta União Soviética, não significou somente a explosão das propostas neoliberais nos terrenos econômico e político. Implicou, também, uma ofensiva sem precedente da ideologia burguesa-imperialista visando à conquista dos corações e mentes em escala mundial. Uma das manifestações mais emblemáticas dessa ofensiva foi, primeiramente, o artigo, aparecido ainda em 1989, com o título "O fim da história" e, posteriormente, em 1992, o livro “O fim da história e o último homem”, ambos do norte-americano Francis Fukuyama1.

O esforço principal de Fukuyama, que tem provocado grande repercussão, foi o de tentar elaborar uma linha de abordagem da história, indo de Platão a Nietzsche e passando por Kant e Hegel, a fim de revigorar a tese de que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade, ou seja, de que a humanidade teria atingido, no final do século XX, o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes.

Para ele, este século viu, primeiramente, a destruição do fascismo e, em seguida, do socialismo, que fora o grande adversário do capitalismo e do liberalismo no pós-guerra. O mundo teria assistido ao fim e ao descrédito dessas duas alternativas globais, restando apenas, atualmente, em oposição à proposta capitalista liberal, resíduos de nacionalismos, sem possibilidade de significarem um projeto para a humanidade, e o fundamentalismo islâmico, confinado ao Oriente e a países periféricos. Assim, com a derrocada do socialismo, Fukuyama conclui que a democracia liberal ocidental firmou-se como a solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.

Fukuyama não contrapõe a chamada democracia liberal somente ao socialismo, mas também a uma miríade de regimes autoritários de direita que entraram em colapso e que, de acordo com ele, acabaram adotando, em maior ou menor grau, o modelo da democracia liberal. Na América Latina, aponta o caso das ditaduras na Argentina, no Brasil e no Chile. Na Ásia, lembra o fim do regime De Ferdinand Marcos, em 1987, e sua substituição peio governo de Corazón Aquino. Na África do Sul, cita a libertação de Nelson Mandela pelo governo de maioria branca de F.W. de Klerk e a busca de um governo de co-participação de brancos e negros. Tudo, segundo ele, com muitas variantes, mas sempre no rumo de um modelo de democracia liberal. Liberalismo, para Fukuyama, e o regime fundado, no terreno político, na democracia burguesa e, no terreno econômico, "no direito de livre atividade econômica e troca econômica, baseado na propriedade privada e nos mercados".

Em suma, ao longo do século a democracia liberal teria superado os "totalitarismos" de direita e esquerda, e também quaisquer outras variantes autoritárias, e triunfado como o regime mais adequado ao progresso e à liberdade humana. As propostas que restam hoje em contraposição à democracia liberal estão na defensiva, e representariam o conservadorismo e o atraso. Veja-se, por exemplo, diz Fukuyama, a situação dos países que permanecem socialistas, como China, Cuba, Coréia do Norte e Vietnã. Para ele, "embora o poder comunista persista no mundo, deixou já de refletir uma idéia dinâmica e atraente. Hoje, os que se dizem comunistas empenham-se numa luta contínua de retaguarda para preservar alguma coisa da sua posição e do seu poder. Os comunistas encontram-se na posição nada invejável de defender uma ordem social ultrapassada e reacionária, como os monarquistas que conseguiram sobreviver até o século XX".

Passando por cima da realidade histórica mais banal, Fukuyamama desconsidera o fato evidente de que o fascismo somente se explica se ligado intimamente ao capitalismo monopolista e às suas crises, da mesma maneira que o surgimento de um conjunto de regimes ditatoriais e fascistas na América Latina, no decorrer dos anos 70, foi a expressão política da forma de desenvolvimento capitalista ocorrida nesses países. (Ou seja, foram regimes que sufocaram a democracia burguesa, reprimiram os movimentos populares, recorreram à tortura como método normal de ação, tudo para garantir a acumulação capitalista num modelo de desenvolvimento associado ao capital financeiro internacional que, por seu lado, garantiu a esses países o apoio político necessário.) O que seria da ditadura militar brasileira, que operou um dos mais famosos ciclos de expansão capitalista na periferia, entre fins da década de 60 e começo dos anos 70, período conhecido como "milagre brasileiro” sem o incentivo e o suporte dos Estados Unidos (inclusive na preparação e desencadeamento do golpe militar)?

No complexo processo de desenvolvimento capitalista, a concorrência se transforma no seu contrário, o monopólio, da mesma forma que a democracia burguesa se transforma na ditadura fascista, num regime policial de terror, onde o capital monopolista finalmente consegue implementar as mudanças a ferro e a fogo para romper a crise e reiniciar um outro ciclo de expansão. Senão, como explicar os regimes fascistas surgidos na Itália, Alemanha e Japão, após um período histórico de crises vivido por todos esses países? Em seguida, essas potências capitalistas "renovadas" aguçam suas contradições com as "antigas" potências dominadoras do cenário mundial, surgindo, então, os conflitos mundiais como a 2a Grande Guerra, que, de início, não foi mais do que uma guerra imperialista pela repartição do mundo, uma guerra pela disputa de mercados, de colônias, de zonas de influências. Fukuyama parece ter tanto receio e dificuldade de encaixar o nazi-fascismo em sua teoria que tenta apresentá-lo como uma espécie de pesadelo característico de uma época específica, que dificilmente se repetirá.

É uma de suas afirmações mais gratuitas e perigosas, pois é como se quisesse se livrar rapidamente do monstro fascista apenas fazendo uma profissão de fé de que se trata de fenômeno histórico isolado e superado, e não de uma ameaça permanente que pode ressurgir das entranhas de seu liberalismo baseado na propriedade privada e nos mercados. Diz ele sobre a Alemanha nazista: "Inclino-me a aceitar o ponto de vista de que o Holocausto foi tanto um mal único quanto o produto

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