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ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. “História e antropologia”, In: Cardoso, Ciro e Vainfas, Ronaldo. (Org.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 2012, pp. 151-168.

Por:   •  22/10/2019  •  Resenha  •  2.261 Palavras (10 Páginas)  •  434 Visualizações

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ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. “História e antropologia”, In: Cardoso, Ciro e Vainfas, Ronaldo. (Org.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 2012, pp. 151-168.

Joana Stefany Vieira

José Anderson de Sousa Lima[1]

        O texto História e antropologia é um ensaio de natureza teórica e empírica [a]escrito pela historiadora brasileira Maria Regina Celestino de Almeida, e integra a coletânea Novos Domínios da História, publicado em 2012. Essa obra é considerada um complemento de Domínios da História (1997), em virtude da necessidade de se explorar novos campos, temas e metodologias não contemplados na publicação anterior – seja porque eram temas que estavam sendo iniciados enquanto campos de análise ou porque os historiadores brasileiros ainda não se familiarizavam com as temáticas, como a “micro-história” a “nova história militar” e “a história do tempo presente”. A autora atua nas áreas de História Social da Cultura, História Indígena e História Social,se graduou em 1975 em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, concluiu seu mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense em 1990 e doutorou-se em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, com sua tese Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial - Novos Súditos Cristãos do Império Português, em 2000. Tem pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social), na École des Hautes Étudesen Sciences Sociales e no Consejo Superior de Investigaciones Científicas[b].

        Em História e antropologia Celestino faz uso das concepções de autores como: Marc Bloch, Natalie Davis, Carlo Ginzburg, Hebe Mattos, Max Weber, entre outros para tratar a intensificação do diálogo entre história e antropologia a diluição parcial de suas fronteiras influenciaram as analises dos diferentes povos e sobre nós mesmos[c]. A autora acredita que novas práticas admitem concepções mais amplas sobre as relações de troca entre povos de diferentes etnias, essas novas análises são as principais responsáveis pelas revisões feita tanto nas histórias desses povos quanto nas histórias regionais e nacionais. O texto é dividido em tópicos onde celestino trata as questões conceituais e analíticas, as fontes e métodos para o estudo das relações de contato, a religiosidade e adaptações culturais e os grupos étnicos e políticos. A grande problemática que o ensaio trás é exatamente o preconceito do diálogo entre história e antropologia durante o século XIX: os seus métodos confluíam e existia uma linha de demarcação bem forte entre ambas as áreas. De um lado se encontram os historiadores com suas pesquisas empíricas baseadas em documentos escritos em que buscavam reconstruir o real passado de diferentes sociedades e do outro lado encontram-se os antropólogos interessando-se por povos “primitivos” a partir de uma perspectiva sincrônica[d] levando em consideração os aspectos teóricos que já haviam sido definidos. Historiadores e antropólogos encontravam-se separados por diversas fronteiras e isso limitava muitos as suas abordagens e interpretações.

        Quando os antropólogos começam a se interessar pelos processos de mudança sociais e os historiadores começaram a valorizar o homem comum, suas crenças, seu cotidiano, a comunicação entre esses campos se tornou possível. As mudanças que ocorreram nas duas disciplinas propiciaram uma ampliação do diálogo e isso trouxe grandes benefícios, principalmente porque se ampliam as ideias sobre as relações de alteridade e diversidade[e]. Contudo deve-se entender que esse diálogo não foi simples e que em meio a grandes discussões e controvérsias foram que essas mudanças começaram a aparecer. Entre os antropólogos, a ideia de estreitar laços com os historiadores surgiu da década de 1950, mas no geral prevaleceram os pressupostos da escola funcionalista – que entendia as abordagens e metodologias da história como ferramentas insignificante em suas pesquisas. Com isso, o sujeito antropológico na maioria das vezes continuou separado do seu contexto histórico. Já os historiadores estavam abandonando o historicismo do século XIX desde a escola dos Annales e com isso buscava-se o diálogo com outras áreas das ciências sociais, buscando enfraquecer a percepção eurocêntrica do “outro” e problematizar os conceito de sociedades primitivas e culturas hierarquizáveis.

        Uma das grandes contribuições da antropologia para a historia foi o ato de buscar a compressão e significação dos objetos e dos comportamentos, levando em consideração todas as diferenças culturais existentes entre os indivíduos em contato. Com isso, a posição do homem comum e o que acontecia em seu cotidiano se tornaram algo bem mais considerável para a historiografia: figuras como a da mulher e do cativo se tornaram significativas por conta das pesquisas direcionadas para o reconhecimento e sentido das suas condutas e mentalidades. E assim figuras como a do nativo americano e do africano escravizado vistos antes apenas como vítimas passivas ou como portadores de culturas prestes a sumir passam a fazer parte dos agentes históricos e suas ações passam a ter acepções. Ademais, Celestino mostra alguns impasses que podem surgir na ação de refletir sobre culturas a partir de termos históricos e antropológicos, dentre eles, o estruturalismo, que se torna um dos elementos que mais complica a aproximação entre históriae antropologia, o maior problema desse pensamento “é estar continuamente vacilando entre proclamar a complementariedade das análises históricas e estruturais, e afirmar sua oposição” (pág. 155). Historiadores e antropólogos que procuram reconhecer os processos históricos como elementos necessários para a explicação e transformação das sociedadestem enfrentado cada vez mais esses obstáculos.

        No caso de estudos de grupos subalternizados cada vez mais é valorizado os fatores particulares e culturais nas convenções politicas desenvolvidas pelos atores, por meio de observações que fazem com que se identifique diferentes culturas politicas de classes subalternas. A partir dessa perspectiva povos nativos e africanos na América, até então vistos apenas como sujeitos sem nenhum tipo de cultura não seriam anulados, são sujeitos que ousaram se inserir nas sociedades coloniais, misturando-se com diferentes grupos e com isso  incorporavam novas práticas, que utilizarampara tentar diminuir os danos e conseguir novos lucros. Mais recentemente as abordagens de historiadores e antropólogos caminham buscando cruzar interpretações das duas disciplinas, busca-se valorizar a compensação que as próprias sociedades estudadas têm sobre suas trajetórias a atitudes. Esse exercício no entanto carrega consigo algumas limitações e pode fazer com que quem escreve produza algum tipo de anacronismo por fazer alguma comparação imprópria, “dados históricos e etnográficos revestem-se de significados em contextos temporais e culturais específicos” (pág. 158) sua utilização pode ser extremamente rica, no entanto requer muitos cuidados, para que não aconteçam apropriações inadequadas.

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