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Adam Smith

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Por:   •  16/9/2014  •  5.505 Palavras (23 Páginas)  •  194 Visualizações

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Pode-se esperar que os marxistas tenham poucas discordâncias sobre o significado do trabalho no passado e no presente. O mesmo não se pode dizer, entretanto, acerca do trabalho no futuro. Uma vez que irei falar acerca do trabalho sob o socialismo e o comunismo, sob uma perspectiva histórica, o que vou apresentar aqui é uma perspectiva marxista, não a perspectiva marxista.

Um bom exemplo de como as interpretações subjectivas e os preconceitos de classe podem influenciar a visão individual de uma sociedade socialista encontra-se na novela utópica outrora popular de Edward Bellamy, Looking Backward. Este livro apareceu em 1888, no meio de um período de rápida industrialização, concentração crescente de poder económico e luta de classes violenta. Bellamy imaginou que a construção de trusts da sua época acabaria finalmente por levar à concentração de todo o capital nas mãos de uma única corporação gigante. Isto simplificaria a mudança de propriedade de todos os meios de produção para o estado, o qual aplicaria então regras racionais, para criar uma sociedade bem ordenada e igualitária. Tal cenário de uma transição indolor, pacífica, e a concepção de uma ordem social justa, prendeu a imaginação do público aqui e no estrangeiro. Nada desde o romance Uncle Tom's Cabin teve uma influência tão grande neste país. Milhões de exemplares do livro foram vendidos, muitos leitores foram convertidos a formas de pensamento socialistas, "Bellamy Clubs" brotaram por todo o lado, e as ideias expressas no livro contribuíram fortemente para o programa do Partido Populista.

Bellamy utilizou um artifício literário simples e agora familiar para apresentar a sua utopia. O herói, Julian West, emerge de um sono hipnótico no ano 2000 para descobrir-se nuns Estados Unidos em que as classes, a exploração e o dinheiro haviam desaparecido e onde todos desfrutavam dos padrões de vida das camadas médias acomodadas da Boston do século XIX. Como West estava no novo mundo, o leitor aprendia como uma boa sociedade teria sido alcançada e como funcionava.

O que é relevante para a presente discussão é o modo como Bellamy tratou o trabalho na sua utopia, uma vez que ele transporta para o seu sonho sobre o futuro as atitudes características da burguesia em relação ao trabalho e ao lazer. O trabalho é um fardo. Idealmente, deveria ser evitado. Mas se isso não for possível, deveria ser ultrapassado na vida o mais cedo possível, de modo a que o máximo tempo de vida das pessoas pudesse ser desfrutado no lazer. Assim, em Looking Backward, toda a gente é obrigada incorporar-se ao exército do trabalho aos 21 anos, laborando em tarefas de "interesse comum" durante os primeiros três anos. Posteriormente seriam livres para escolher uma ocupação, sujeita a algumas restrições do governo. O trabalho obrigatório acaba aos 45 anos, começando então um novo período de boa vida para damas e cavalheiros cultivados.

Para sermos justos devemos dizer que Bellamy não denigre o trabalho como tal. É a sua concepção do lazer que tipifica a mentalidade da burguesia na sociedade capitalista e nas classes superiores ao longo de história. Adam Smith, o grande teórico da economia capitalista, é muito mais explícito quando, num contexto diferente, define trabalho como uma actividade que exige ao trabalhador que desista "da sua tranquilidade, liberdade e felicidade". O salário, de acordo com Smith, é a recompensa que o trabalhador recebe pelo seu sacrifício. Como é totalmente diferente a perspectiva marxista! Veja-se o profundo desprezo de Marx, relativamente a esta atitude negativa de Smith para com o trabalho:

"O teu trabalho será medido pelo suor do teu rosto"! Era a maldição de Jeová sobre Adão. E isto é o trabalho para Smith, uma maldição. A "tranquilidade" surge como o estado adequado, como idêntica à "liberdade" e à "felicidade". Parece bastante afastado do pensamento de Smith que o indivíduo, "no seu estado normal de saúde, força, actividade, habilidade e destreza", necessite também do dispêndio normal de um número de horas de trabalho, e da interrupção da sua tranquilidade. É certo que o trabalho é medido exteriormente, pela adequação dos objectivos atingidos e pelos obstáculos a superar na procura desses objectivos. Mas Smith nem suspeitava que a superação de obstáculos constituísse, em si mesma, uma actividade libertadora, – e que, por outro lado, os objectivos externos fossem estabelecidos a partir das urgências naturais e meramente externas, tornando-se assim em objectivos do próprio indivíduo – daí a auto-realização, a objectivação do assunto, daí a verdadeira liberdade, cuja acção é, precisamente, o trabalho. Ele tem de facto razão, em que o trabalho nas suas formas históricas, tais como o trabalho escravo, o trabalho servil e o trabalho assalariado, aparece sempre como algo repulsivo, sempre como trabalho forçado por causas externas; em oposição, e por contraste, ao trabalho como forma de "liberdade e felicidade". Isto é duplamente válido: para este trabalho contraditório; e, relacionadamente, para o trabalho que ainda não criou, por si próprio, as condições subjectivas e objectivas... pelas quais se torna trabalho atraente, uma forma de auto realização do indivíduo, que exclui uma mera forma de diversão ou de gozo pessoal. O trabalho realmente livre ... é ao mesmo tempo o da mais maldita severidade e o do mais intenso esforço. O trabalho da produção material pode assumir este carácter apenas (1) quando seu carácter social é assumido, (2) quando é de uma natureza científica e ao mesmo tempo de carácter geral, não meramente um esforço humano, como uma força natural especificamente dirigida, mas algo aparece no processo de produção de uma forma meramente natural, espontânea, como uma actividade que regule todas as forças de natureza. A propósito, Adam Smith só tinha em mente os escravos do capital.

Marx e Engels, viram o trabalho como fundamental para a existência humana. Este tema é desenvolvido por Engels, no seu ensaio inacabado "O papel desempenhado pelo trabalho na transformação do macaco em homem" ("The Part Played by Labour in the Transition from Ape to Man") onde sustenta que o trabalho "é a primeira condição básica para toda a existência humana, e isto numa tal extensão que, em determinado sentido, nós temos de dizer que o trabalho criou o próprio homem". Esta especulação de Engels sobre a evolução dos seres humanos, focaliza-se na ideia de que, caminhando em dois pés, liberta-se o uso das mãos, tornando possível o seu desenvolvimento para tarefas mais complexas. A especialização das mãos, em contrapartida,

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