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Análise Histórica do Romance Malinche de Laura Esquível

Por:   •  27/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.592 Palavras (11 Páginas)  •  268 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA IBÉRICA

Projeto de Mestrado em Cultura, Poder e Religião

Análise crítica da obra Malinche de Laura Esquivel

SIDINEI DE ARAUJO LEMES

Alfenas

2019


SIDINEI DE ARAUJO LEMES

Análise crítica da obra Malinche de Laura Esquivel

Trabalho apresentado à Prof.ª Dr. Fernanda Aparecida Ribeiro para obtenção de nota parcial referente à Disciplina As representações da Cultura Ibérica Medieval na literatura da América Latina.

Alfenas

2019

O presente trabalho objetiva realizar uma análise crítica sobre a obra Malinche de Laura Esquivel publicada no ano de 2006.  Laura Esquivel nasceu na Cidade do México em 30 de setembro de 1930, é escritora, argumentista, redatora e deputada. Estreou como argumentista em 1985 com o filme Guido Guán y Los Tacos de Oro.  Com um outro roteiro foi desencorajada a rodá-lo, assim optou por transformá-lo em um romance, surgindo assim Como água para chocolate (1989). Esquivel tem como obras lançadas, o já referido Como Água para Chocolate (1989); La ley del amor (1995); Íntimas suculências (Contos) (1998); Estrellita marineta (1999); El libro de las emociones (2000); Tan veloz como el deseo (2001); Malinche (2006); A Lupita le gustaba planchar (2014) e El diário de Tita (2016). A obra que propomos analisar de Esquivel Malinche, publicada no ano de 2006 descreve a conquista do México sob o olhar de sua protagonista a índia Malinalli e sua relação de amor com Hernán Cortés, o líder dos conquistadores. Malinalli se faz uma importante peça no objetivo de conquista do capitão espanhol já que ela é utilizada como intérprete em seus contatos com os líderes dos nativos do novo mundo. O romance de Esquivel perpassa nessa relação demonstrando como a Malinche se porta diante deste mundo que se abre à sua frente, onde a sua condição entra em conflito com a história e consigo mesma, que caminho tomar: a do seu povo ou do novo mundo que se apresenta?

A protagonista da obra de Esquivel é tratada pelo mito mexicano (século XIX) como uma traidora de seu país por ter se relacionado amorosamente com Hernán Cortés e colaborado com os espanhóis na conquista do que hoje conhecemos como território do México. A autora de Malinche vai nos contar a história dessa conquista através do olhar da protagonista conhecida tanto pelo nome que dá o título a obra como por Malintzin (seu nome de batismo indígena), ou Malinalli forma que os espanhóis a chamavam por não conseguir pronunciar seu nome indígena e ainda Marina seu nome cristão após sua “conversão” ao catolicismo. Na obra de Esquivel a controversa personagem vai ser sempre chamada de Malinalli.

Antes de tudo, queremos ressaltar que o uso da literatura como forma de se contar um fato histórico tem se tornado uma maneira de se recontar a história por um outro ponto de vista, muitas vezes ignorado pela historiografia tradicional. Permitindo assim, que novos pontos de vista sejam explorados sobre um determinado fato histórico até então ignorado. O que levará a autora do romance à uma visão diferenciada de outros autores que escreveram sobre a Malinche e a trataram como traidora de seu povo, tal fato nos permite realizar um outro olhar sobre a protagonista e questionar qual posição realmente ocupou Malinalli na história: a traidora ou de uma mulher empoderada, como demonstra o romance de Esquivel?

Segundo Ribeiro e Miranda (2015):

Por se tratar de uma narrativa escrita por uma escritora feminista, a representação da protagonista terá características específicas, como a demonstração de uma consciência nítida sobre sua condição de mulher dentro da sociedade, bem como a intenção de modificar a situação opressora em que vive. Como os pensamentos e sentimentos de Malinalli são o cerne do enredo, o romance propõe, através desse recurso, um questionamento do mito de traidora de sua pátria.

Já Pozo González cita o romance Xicoténcatl de 1826, de um autor anônimo, para apresentar uma versão na qual Malinalli - a Malinche perpassa pelos olhos das personagens entre a mulher desvirtuosa que seduz Cortés, que poderia ser uma mulher notável se não fosse sua corrupção adotada pelo “adestramento” espanhol. Mas também apresenta um arrependimento de Malinalli, abdicando da religião a qual tinha sido imposta e se comprometendo a não mais cooperar com os desejos ambiciosos de Cortés (POZO GONZALES, 2016).

Ainda sobre Malinche, Pozo Gonzáles destaca que Bernal Diaz del Castillo sentiu admiração por Malinalli já que utilizava em seus escritos sempre a anteposição “doña” ao nome de Marina (nome de batismo cristão de Malinalli) e não economizou elogios à índia. Entretanto, Pozo Gonzáles, destaca:

Talvez, e segundo Herren (1993), La Malinche imaculada teria sido inventada para contrabalançar a concepção da Malinche vilã, pois La Chingada teria sido criada só a inícios do período da restauração mexicana, já no século XIX, ao redor de 1828, após ser publicada a obra Jicoténcal, de autor anônimo. Nessa obra, Malinche teria sido configurada sob o papel da mulher do mal, a tentadora, a traidora da pátria, a mulher pérfida que, aliada aos estrangeiros, teria ajudado à queda do Império Asteca. (POZO GONZALES, 2016).

Portanto, podemos compreender que a presença da personagem Malinche tanto na historiografia quanto no romance perpassa entre a mulher de destaque e aquela que por sua lascividade, corrupção entregou o seu povo e seu território nas mãos dos inimigos espanhóis. Diante de tal fato, Ribeiro e Miranda (2015) destacam da seguinte forma o romance histórico escrito por Esquivel:

Ao resgatar o passado, principalmente uma figura feminina cuja interpretação histórica tem tanto um lado positivo como negativo. Esquivel reivindica a possibilidade de mostrar uma versão a partir do olhar da mulher, buscando uma interpretação para as ações da personagem histórica.

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