Artigas E Rosas: Idéias E ações Na Concepção Teórico-política Do Caudilhismo
Pesquisas Acadêmicas: Artigas E Rosas: Idéias E ações Na Concepção Teórico-política Do Caudilhismo. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: ezekias1 • 3/5/2014 • 5.480 Palavras (22 Páginas) • 387 Visualizações
CHOUNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - FFLCH - DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA DA AMÉRICA INDEPENDENTE I
FLH0351
1o. Semestre de 2011 - (noturno)
Professor Sean Purdy
Ezequias da Silva Lira
Nº Usp: 6885815
Artigas e Rosas: idéias e ações na concepção teórico-política do caudilhismo
Introdução
Geralmente se tende a usar o termo caudilho ou caudilhismo com um significado literal histórico próximo de um chefe de um bando ou milícia, vários intelectuais atribuíram aos caudilhos uma imagem de uma oligarquia terratenente responsável por conflitos internos e externos sempre em defesa de sua propriedade e dos interesses de sua classe e com fortes aspirações partidárias e ideológicas associadas a uma expressão violenta como é exemplo fornecido por Aurélio Pôrto, na obra “Revoluções e caudilhos” de Arthur Ferreira Filho: “Guerreiro, político, as suas ideologias refletem seus pensadores pessoais. A lei suprema é o fio da espada. E projeta-se na história cercado pelas marés crescentes de sangue”1.
Contudo, devemos compreender também a sua importância ou o seu conceito na formação nacional latino-americana. Como já é conhecido, o que possibilitou a ascensão e o sucesso dos caudilhos platinos foi a falta de controle espanhol sobre suas colônias, consequência das crises européias somadas ao atraso da coroa na inserção do novo contexto europeu, marcado pela revolução industrial inglesa e pelas nascentes __________
1 PÔRTO, Aurélio in: FERREIRA FILHO, Arthur. Revoluções e caudilhos. 3. ed. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1986. pp.15
idéias liberais. Mas quais foram as ideias e os projetos que estes homens consumavam ou sua imagem passou a representar dentro do que John Charles Chasteen chamou de “revoluções inacabadas”1 para assentar uma estabilidade e uma ordem política quase democrática como as que no mesmo período países como o Chile ou a Costa Rica já conheciam de certa maneira durante os anos de 1870-1880. Sabemos que as ideias trazidas da Europa repercutiram em campos de recepção distintos, no caso do Uruguai e da Argentina não foi diferente, esta área de recepção foi um campo de produção diferente e uma conjuntura política específica daquela de origem que acabaram reinterpretando estas ideias importadas em função da estrutura dos seus respectivos contextos para alcançar a Revolução Americana, mas, e depois?
Analisando o caso do Uruguai e da Argentina, temos duas figuras centrais que idealizaram esta continuidade, José Gervásio Artigas (Uruguai) e Juan Manuel Rosas (Argentina), o primeiro, foi um símbolo de um federalismo igualitário, humano e patriótico que por pouco tempo viu seu objetivo concretizado, que logo se tornou famoso entre o “populacho” do interior do Uruguai, onde atuava seguindo um ideal independentista e libertador. O outro, um homem metódico e influente nos meios econômicos, que aliando esta figura com a política organizou a Argentina, de maneira precisa empreendendo um federalismo muitas vezes de ditadura permanecendo por 23 anos no poder. Identificaremos, portanto os aspectos comuns e sua importância em seus respectivos contextos, agregando ambos na concepção teórico-política do caudilhismo, confrontaremos suas ações políticas e sociais no contexto da formação dos Estados Nacionais do Prata e como suas imagens foram usadas pela historiografia neste objetivo, mas antes devemos nos deter nos caudilhos e nas características do seu sistema
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1 CHASTEEN, John Charles. “Independência”. In: CHASTEEN, John Charles. América Latina – uma história de sangue e fogo. Rio de Janeiro: Campus, 2001 [1996], pp.88-100.
de clientelismo – o caudilhismo - que dominou a América Latina por tanto tempo.
Os Caudilhos
Ainda durante o século XIX eram poucos os países da America Latina que possuíam certa estabilidade política, muitos dos governos latino-americanos enfrentavam, desde a sua independência, um processo caótico de construção do estado. Segundo John Charles Chasteen em sua América Latina – uma história de sangue e fogo, o Nativismo foi a grande estratégia dos crioulos partidários da independência, a qual glorificou a idéia de uma identidade americana definida pelo local de nascimento, algo que os crioulos compartilhavam com os pólos indígenas, com aqueles de sangue misto e mesmo com os filhos de escravos africanos. Ainda segundo Chasteen, o discurso da América para os americanos fez com que os crioulos pudessem conquistar a independência mantendo a velha hierarquia de status e raça criada pela colonização inalterada1. A visão dos liberais que exerciam o poder na América espanhola após a independência implicava em grandes mudanças, os países estavam destroçados pelas guerras e os seus projetos iam de encontro a interesses pré-estabelecidos provocando violentos conflitos. Os conservadores, por outro lado, clamaram por ordem e proteção a propriedade, mas na verdade não queriam que as coisas mudassem, e foi em meio a este vazio político que homens fortes - os caudilhos – que em sua maioria tinham sido chefes militares durante a independência ou patrões que puderam obter certas lealdades e passar da administração de sua fazenda à dominação de uma região, ocuparam a lacuna deixada pela desorganização administrativa. A preponderância dos caudilhos se traduziu em um sistema de dominação – caudilhismo – e foi em meio a essa escassa definição de fronteiras entre os países e as desordens internas que geravam que a
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1 CHASTEEN, John Charles. “Independência”. In: CHASTEEN, John Charles. América Latina – uma história de sangue e fogo. Rio de Janeiro: Campus, 2001 [1996], pp.88-100.
imposição do caudilhismo não permitiu esboço nenhum de ordem liberal e democrática antes do final do século XIX. Olivier Dabéne, em sua obra América Latina no Século XX, nos apresenta as condições em os caudilhos surgiram:
“O caudilho latino-americano foi o reflexo de uma sociedade caracterizada por um modo de assentamento e uma relação com a terra era tipo predador. Movidos pelo desejo de exploração das riquezas locais, os recém chegados se instalaram ao longo da costa e se apropriaram de grandes extensões de terra no interior do continente. Daí o surgimento de uma sociedade rural
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