Casa Grande e Senzala (Roberto Ventura)
Por: Guilhermeks123 • 7/10/2016 • Resenha • 1.212 Palavras (5 Páginas) • 567 Visualizações
Casa – Grande & Senzala (Roberto Ventura)
Introdução
Gilberto Freyre é um daqueles escritores brasileiros que conseguem a façanha de serem amados e, ao mesmo tempo, odiados. Casa Grande & Senzala, seu principal livro, é uma das obras mais polêmicas do país. Monteiro Lobato comparou o lançamento do livro, em 1933, com a passagem do cometa Halley. Jorge Amado saudou o livro como uma revolução sem precedentes. O ensaio de Freyre é tido como uma ruptura dos estudos históricos e sociais tanto pelo tema – formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida – quanto pelas ideias, como a valorização da figura do negro, mas sobretudo pela linguagem, tida como coloquial, desprovida de ranço acadêmico.
Juntamente com o romancista Jorge Amado, Freyre foi um dos escritores brasileiros de maior sucesso internacional, pelo menos até a aparição do esotérico Paulo Coelho nos anos 90. Tanto Freyre como Jorge Amado foram responsáveis pela difusão da imagem do brasileiro como um ser simpático, sorridente, que se deixa seduzir pela beleza ardente da mulata, cuja sensualidade é glorificada quer em Casa Grande & Senzala, quer nos romances do Jorge Amado, como Gabriela, Cravo e Canela ou Tieta do Agreste. Casa Grande & Senzala é o ensaio brasileiro com o maior número de traduções internacionais e conta com mais de 20 edições nacionais. Homenageado com medalhas e títulos, Freyre é doutor honoris causa pelas universidades de Oxford, Columbia, Coimbra, Paris, Sussex, Munster, Recife.
Mas, Casa Grande & Senzala também sofreu fortes reações negativas. A obra foi tida, por alguns, como obscena e pornográfica. Teve exemplares queimados por colégios religiosos do Recife. O interesse de Gilberto Freyre pela cultura afro-brasileira e seus supostos ataques à moral cristã lhe rendeu acusações de ser comunista. O Dops de Pernambuco o fichou em 1935, como “agitador, organizador da Frente Única Sindical, orientadora das greves preparatórias do movimento comunista”. Em 1942 foi preso e espancado, junto com o pai, por ter acusado um beneditino alemão de ser pró-nazista. Em 1945, já no final do governo Vargas, foi indiciado por ter discursado em manifestação contra a ditadura no Recife.
Já sexagenário, Gilberto adota posições polêmicas que o tornaram maldito por mais de duas décadas por setores de esquerda. Apoiou o “golpe” militar de 1964, ou seja, o homem que criou a mitológica imagem de um Brasil harmonioso e tolerante acabou por adotar posições políticas que, na prática, se mostraram intolerantes. O novo Gilberto Freyre era movido pelo que Darcy Ribeiro chamou de “tara direitista”, acusando pessoas e mais pessoas de serem coniventes com propagandas comunistas. Ainda na década de 60 e 70, foi atacado por sociólogos como Florestan Fernandes e Octávio Ianni, que criticaram sua visão idílica de passado colonial. Foi resgatado na década de 70 e 80 com a terceira geração da escola dos annales e os representantes da “nova história” francesa, como Braudel, Duby e Ariés. Passou a ser elogiado como pioneiro por seu foco nos “novos objetos” e em figuras até então marginalizadas, como o escravo, a mulher, a criança, a arquitetura, a culinária, os hábitos alimentares etc. Temos a formação de uma linha do tempo: Gilberto Freyre tido como revolucionário e progressista nos anos 30 e 40, passando a ser criticado a partir dos anos 60 como um reacionário, ideólogo informal do regime militar. Tendo sua obra resgatada na década de 80 como pioneira nos novos rumos da historiografia.
A obra de Freyre enfatiza o universo nordestino, particularmente pernambucano, não apenas da senzala e da casa-grande, como também dos sobrados, da cultura da cana-de-açúcar, da geografia regional, da religião católica, da culinária, e de uma infinidade de outros temas que se relacionam, especialmente, com a cultura africana e indígena. O autor de Casa-Grande e Senzala estudava a cultura, os costumes, as superstições e a combinação desses elementos entre os três grupos formadores, segundo ele, da cultura brasileira.
As raças
As ideias racistas tiveram forte presença na década de 30, não só na Alemanha e Itália. Como também no governo de Getúlio Vargas, que praticou uma política de aproximação com países nazifascistas até 1942, quando o Brasil, sob pressão dos EUA, acabou por se juntar aos Aliados no conflito armado. Freyre se colocou na disputa ao lado daqueles que seriam os futuros vencedores da guerra: os culturalistas. Tal posicionamento de Freyre, se deveu, em grande parte, ao seu estudo nos anos 20 na Universidade de Columbia, em Nova York, onde foi aluno do antropólogo antirracista Franz Boas. Franz Boas tinha uma concepção culturalista que se assemelhava ao funcionalismo inglês do Malinowski que se opunha ao evolucionismo social de base biológica ou racial. Freyre valorizou a cultura brasileira por seu caráter sincrético e criticou os discursos que inferiorizavam os negros, os índios e os mestiços. Mostrava ser desprovida de fundamento a afirmação de superioridade ou inferioridade de uma raça sobre a outra, ainda que acreditasse na existência de uma hierarquia entre as diversas formas de cultura, por exemplo, proclamou a superioridade técnica do negro sobre o indígena e até sobre o branco no que se refere ao trabalho de metais, à criação de gado, à alimentação e à culinária. Freyre representa uma mistura peculiar entre o pensamento evolucionista e o culturalista (página 25), se manteve preso às ideias de raça e etnia, apesar de negar o racismo de autores como Silvio Romero. Freyre não superou os modelos raciais, contrariando Franz Boas, para quem o conceito de cultura deveria abolir o de raça. (Ler primeiro parágrafo da página 27).
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