DOSSIÊ E CARTA EVENTO: Era Napoleônica
Por: Mariana Santos • 18/9/2018 • Dissertação • 1.460 Palavras (6 Páginas) • 205 Visualizações
DOSSIÊ E CARTA |
EVENTO: Era Napoleônica |
CONTEXTO HISTÓRICO
Após o estabelecimento do Bloqueio Continental em 1806, pelo imperador francês Napoleão Bonaparte, todas as nações europeias haviam sido proibidas de comercializarem com a Inglaterra. Dessa forma, qualquer nação que se opusesse ao acordo seria jurada de guerra e invadida pelas tropas napoleônicas, o que ocorre com a Rússia em 1811. O país rompeu o Bloqueio, abrindo os portos aos navios ingleses e virando alvo da França.
Um exército de aproximadamente 610 mil soldados de diferentes nações, incluindo Napoleão, foi encaminhado à Rússia na primavera de 1812, cruzando o Rio Niemen, em Kovno, no dia 24 de junho. O objetivo era chegar à longínqua Moscou, capital russa, e derrotar o czar Alexandre I. Contudo, o desconhecimento do enorme território somado à tática de “terra arrasada” - na qual ocorria a evacuação de aldeias e destruição de cidades pelo exército russo, levando consigo todo suprimento possível - fazia com que, progressivamente, o exército francês morresse de fome, exaustão e doenças, tornando-se cada vez menor. Mesmo assim, o Grande Armée - como ficou conhecida a armada napoleônica - foi capaz de vencer batalhas e conquistar Moscou, em 14 de setembro, que encontrava-se devastada. Sem alimento ou água potável, o exército retirou-se da capital, aproximando-se cada vez mais do temeroso inverno.
Iniciado em meados de novembro, o “general inverno” foi responsável por grande parte do fracasso da campanha francesa, que não estava equipada para demasiado frio, com roupas rasgadas e sem agasalhos, além de se encontrar em péssimas condições. Em 14 de dezembro, após percorrerem 1.100 quilômetros de volta e a temperaturas de -36°C, os sobreviventes do exército liderado por Napoleão cruzam novamente o Rio Niemen, retornando à França. O episódio, que rendeu apenas cerca de 100 mil sobreviventes desnutridos e irreconhecíveis, trouxe o enfraquecimento de Bonaparte e esgotamento de seu exército, além do começo da Guerra da Sexta Coalizão.
REMETENTE
René Grangier
René Grangier, filho bastardo de Simón Grangier - importante alfaiate e comerciante de tecidos -, nasceu dia 12 de abril de 1790, na cidade de Limoges, província de Limousin, França. Iniciou sua carreira militar em 1805, na batalha de Austerlitz - conflito no qual 75 mil franceses, sob comando de Napoleão Bonaparte, venceram 80 mil russos e 25 mil austríacos, forçando o imperador da Áustria, Francisco II, a assinar um tratado de paz. Esse episódio determinou o triunfo de Bonaparte, consagrando-o como estrategista militar e firmando seus anseios imperialistas.
Em 1808, Grangier casou-se com Emmanuelle Ramolino, filha de um ferreiro da região de Aquitaine. No ano seguinte, Ramolino dá à luz Oliver Grangier, primeiro filho do casal, que morre nos primeiros meses de vida. Dois anos após a tragédia, nasceu Daiane Grangier. Nesse período, o czar Alexandre I recusou-se a obedecer às imposições de Napoleão, sabotando o Bloqueio Continental ao manter relações comerciais com a Inglaterra. Em vista disso, Napoleão invade a Rússia, iniciando sua campanha.
Devido à sua experiência militar, René Grangier integrou-se ao Grande Armée, deixando mulher e filha em Limoges, à espera do seu regresso e da vitória francesa. Durante sua jornada, o soldado sofreu com a fome, desidratação, temperaturas baixíssimas e ferimentos graves. Grangier veio a óbito em 17 de dezembro de 1812, próximo a cidade de Tauroggen, acometido por cianose nas extremidades, amputações, hipotermia e infecções em suas lesões.
[pic 1]
GROLLERON, Paul Louis Narcisse. The Scout, 1881. Glasgow Museums Resource Centre (Fonte: Art UK)
DESTINATÁRIO
Emmanuelle Ramolino
Emmanuelle Ramolino, nascida em 13 de março de 1792 em Aquitaine (região do sudoeste da França), cujo pai era ferreiro da região e a mãe morrera no parto, foi educada em casa pelas tias. Além disso, aprendeu a tocar piano quando tinha 8 anos e ler aos 12.
Em 1807, durante uma viagem a Limoges, Emmanuelle conheceu René Grangier, com quem casou-se no ano seguinte. Apaixonados, o casal teve dois filhos - entretanto, o primeiro morreu aos três meses e, dois anos após a perda, Ramolino deu à luz sua segunda filha, Daiane Grangier.
Em 1812, seu marido integra-se ao exército de Napoleão, deixando-a sozinha junto à filha - que morreu de peste no ano seguinte, à espera do pai. Durante esse período de sofrimento, Ramolino enviou inúmeras cartas para os mais diversos cantos da Rússia, mas não recebeu nenhuma resposta. Sem saber lidar com a morte de Daiane e do marido, Emmanuelle suicidouse em 2 de janeiro de 1814.
CARTA
Beresina, 1º de dezembro de 1812
Emmanuelle,
Desculpe-me por não ter escrito antes, meu tempo é bem limitado aqui. Encarei o abismo nos últimos dias e não sei se conseguirei sobreviver para fitar seus olhos, sentir-te próxima a mim novamente, ou ao menos ver nossa Daiane crescer. Há cinco dias, fomos atacados pelos russos em uma batalha de três dias, perdemos muitos homens, os quais encontram-se sob a neve nesse momento. Tudo isso pôs-me a pensar que tu poderias me perder também. Bref [1], nada compara-se ao frio. Sim, o frio e a fome dizimam nosso exército.
Tremo constantemente, meus membros estão roxos e não os sinto mais, meus esforços para aquecer-me mostram-se inúteis e a exaustão toma conta de mim. Vous, ma chérie [2], não faz ideia do quanto sinto falta dos nossos dias de verão, da sua comida ou de ao menos um lugar para dormir. O perigo aqui é constante e o frio invade meus pensamentos a todo tempo, deixando-me incapaz até mesmo de andar. O fuzil está mais pesado, meu uniforme não se fecha, os botões desfazem-se. Estou vestindo trapos, o sangue e lama pesam em meu corpo.
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