Discussão sobre o Texto do COOPER
Por: Lara Pinheiro • 26/3/2016 • Trabalho acadêmico • 968 Palavras (4 Páginas) • 483 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA ÁFRICA
PROFESSOR: MARCELO BITTENCOURT
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA
LARA RODRIGUES
DE BRITO PINHEIRO
RJ
2016
QUESTÃO 4
Para se entender essa construção da ideia de “peculiaridade africana” demanda-se a mobilização de elementos que antecedem o período da expansão Imperialista europeia da segunda metade do século XIX. Fazendo um resgate histórico, efetuado pelo próprio Cooper em sua obra, tornamo-nos capazes de vislumbrar a construção do imaginário europeu sobre a relação dos africanos com o trabalho.
A queda do comércio ultramarino escravista, que se consolidou definitivamente em 1850, determinou um importante movimento: a necessidade da utilização dessa mão de obra escrava para outros fins. Como o continente africano nesse momento já adotava um modo de produção baseado no escravismo, os escravizados passaram a ser absorvidos dentro da própria África. Os senhores africanos acabaram por adquirir cada vez mais escravos uma vez que o preço diminuiu com a diminuição das exportações e, além disso, o apelo mundial por produtos tropicais incentivou bastante o aumento do cultivo local, onde essa mão de obra era empregada.
Nessa conjuntura de manutenção e larga expansão da escravidão, as potências europeias, munidas de um discurso civilizador e salvacionista, empreenderam sua expansão sobre o continente africano. Cooper nos revela ainda as diferentes facetas desse imperialismo, que tem um apelo exterior (calcado na opinião pública do ocidente que se colocava contra a escravidão de “africanos por africanos” e analisava que a solução do problema viria com a implantação da mão de obra livre), mas também que vinha da dinâmica interna da própria África, exemplo concreto são as fugas de escravos para postos avançados europeus no continente africano.
No amálgama do jogo de poder, as potências europeias se reuniram em Berlim, em 1884-85, e depois em Bruxelas, em 1889-90, para discutirem sobre as regras desse empreendimento expansionista e determinaram que as potências colonizadoras deveriam agir veementemente contra o comércio africano de escravos.
No entanto, ao se inserirem na África, os europeus perceberam a forma com que as relações escravistas estavam extremamente imbricadas com a dinâmica social das diferentes realidades do continente. Diante desse quadro, abolir de fato a escravatura seria gerar diversos enfrentamentos com os chefes locais e, consequentemente, ameaçar a estabilidade da administração colonial.
Os europeus, pois, viram-se diante de um impasse. A solução que nasceu disso foi o que se chamou de abolir a “condição legal de escravidão”, a escravidão legitimada explicitamente pelo direito. A partir de então, não se poderia mais reivindicar num tribunal a propriedade de um escravo, porém, a realidade se configurava de outra forma. Na prática, a posse de escravos ainda existia e não era reprimida verdadeiramente pelas autoridades.
Além da vista grossa por parte das autoridades, franceses e britânicos, para dizerem que haviam solucionado o problema da emancipação, limitaram de forma extrema o que deveria ser considerado escravidão. A escravatura era considerada como um problema masculino e formas de exploração aplicadas às mulheres foram enquadradas na categoria de casamento. Como a poligamia era permitida, o homem senhor de escravos acabava por casar de forma legal com diversas mulheres escravizadas e, dessa forma, respaldado pela lei, continuava a explorar deliberadamente a mão de obra dessas mulheres.
Em situações como a que passou o Zanzibar em 1897 e o Quênia em 1907, mesmo com a abolição da escravidão, a transição para o trabalho livre assalariado nos moldes europeus não prosperou como se esperava. De modo geral, os ex-escravizados não aceitaram a adaptação ao modelo assalariado de trabalho, já que, nesses moldes, eles eram destituídos de posse de terra e do cultivo para a sua subsistência, o que não ocorria no antigo regime escravista.
Muitos escravos acabaram por se associar a seus antigos senhores e transformarem-se em agregados. Dessa forma, mantinham acesso a terra e agora tinham liberdade para se deslocarem, muitos até mesmo trabalhavam em atividades remuneradas nas cidades coloniais para complementarem suas rendas, atividades, obviamente, irregulares e nas quais o pagamento se dava por diárias. Tal arranjo acabava por subverter o esquema europeu de trabalho livre marcado pela disciplina, salários mensais e regularidade.
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