Entre Durval Muniz e os Narradores de Javé
Por: bsgama • 3/4/2015 • Resenha • 510 Palavras (3 Páginas) • 388 Visualizações
Resenha: Entre o texto de Durval Muniz e o filme de Eliane Café.
Discente: Edgar Augusto Barbosa de Souza Gama
O filme “Os Narradores de Javé” retrata a resistência de um povo de uma cidade fictícia ao saberem que seu lugarejo será tomado pelas águas de uma represa. Na luta contra a marcha do progresso, as pessoas acham uma possível solução: escrever um “livro científico” que retrate a história do local, indicando que, para muita gente, aquele local é um patrimônio. A partir daí o filme se desenvolve em cima de questões sociais, culturais, antropológicas, etc. No entanto, o filme também carrega muitos conceitos de Durval que eu gostaria de citar.
“O historiador quase sempre está manipulando memórias. Sejam escritas (...) ou orais, as memórias individuais ou coletivas tem se transformado numa das fontes cada vez de maior importância para o trabalho de gestão da história.”
No caso do filme, o “manipulador de memórias” é Antônio Biá. Encarregado de colher as memórias, Biá tem a oportunidade de se redimir com a população da cidadela (já que havia sido expulso por conta de erros seus) e de salvar aquele local. Sendo assim, ele sai de casa em casa colhendo cada memória que a população tem a lhe contar (diga-se de passagem, muitas vezes usufruindo do posto para obter benefícios ao seu próprio favor).
Outra coisa que me chamou a atenção foi, também, a passagem do texto que diz
“(...) a identificação entre o sujeito e o objeto de pesquisa, no caso da História Oral, tem acarretado muitas vezes uma reificação das memórias dos entrevistados e levado a tomar ao discurso dos indivíduos não como um ponto de vista sobre o real, mas como uma realidade individual, como uma totalidade fechada em si mesma e não uma singularidade num dado campo discursivo.”
Durante o processo de coleta dos contos das pessoas, Biá depara-se com várias histórias. Todas apresentam algum antepassado herói, dentro de uma moral, costume, ou linguagem de quem está narrando. Ainda sobre isso, temos a “memória voluntária”, que Durval nos explica que
“(...) ela não é o acesso direto ao passado, mas fruto de um trabalho de rememoração que é feito no presente, relativo ao presente que foi e o presente que é.”
Ou seja, as histórias contadas a Biá são fruto da atual situação de quem está contando. Inclusive a própria história da saga de Biá é contada por Zaqueu, um do moradores daquele lugar. Ele estava sempre se afastando da cidade (inclusive em momentos da história que estava contando) e muito do que conta é fruto do que a ele (provavelmente) foi contado, já que nem todos os fatos ele próprio presenciara.
Retornando ao campo da memória de cada um, notamos que existe um embate entre memórias e que estas configuram-se como individuais/históricas. Segundo Durval, a memória histórica é aquela que narra “a versão oficial, a versão do vencedor” e que invade e sobrepõe-se às memórias coletivas e individuais (e, justamente por isso, acaba tornando-se uma convenção).
Notamos que as memórias dos indivíduos não só são herdadas como também são articuladas em torno do que está sendo narrado.
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