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Formação Economica Do Brasil

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Por:   •  16/11/2013  •  4.820 Palavras (20 Páginas)  •  259 Visualizações

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VIMOS ACIMA até que ponto a mineração absorveu as atividades econômicas da colônia. A contrapartida da fulgurante ascensão das minas foi a decadência da agricultura. Coincide com esta causa in- terna de decadência o novo equilíbrio internacional do séc. XVIII. Desenvolve-se plenamente, então, a política colonial adotada desde o século anterior pelas grandes potências concorrentes de Portugal no ultramar; particularmente pela França e Inglaterra. É a chamada política do "Pacto colonial" destinado a reservar o mercado nacio- nal de cada país às produções de suas respectivas colônias, e o comércio à marinha de sua bandeira. Este exclusivismo nacionalista colocará Portugal e suas colônias em muito má posição; sem marinha (esfacelara-se sob o domínio espanhol a que possuía), e não con- tando com um mercado nacional apreciável, restringe-se a saída pa- ra seus produtos coloniais. E os concorrentes do Brasil na produ- ção do açúcar, em particular as Índias Ocidentais, começam a ga- nhar terreno sobre ele. Elas estão aliás melhor situadas que o Brasil. Em primeiro lugar pela proximidade maior dos mercados con- sumidores; além disto, pelo próprio fato de se desenvolverem em época mais recente. Repete-se o caso tão freqüente da concorrência de uma indústria mais jovem, que livre da rotina que embarga os passos da mais antiga, conta com trunfos maiores para a vitória. Esta circunstância explicará talvez, em grande parte, o atraso técnico relativo, no séc. XVIII, da indústria açucareira do Bra- sil. Fato que será constatado e reconhecido pelos observadores contemporâneos. Seja como for, a primeira metade do séc. XVIII é um período sombrio para a agricultura brasileira. Mas a situação modificar- se-á completamente na sua última parte. Apontei acima os fatores que trouxeram o declínio da mineração; em seu lugar ressurgirá no- vamente a agricultura, que volta a ocupar a posição dominante que desfrutara nos dois primeiros séculos da colonização. Mas não será apenas este fator negativo que estimula o refluxo das atividades da colônia para o cultivo da terra. Estendiam-se novamente os mer- cados para seus produtos. Para isto contribui particularmente o desenvolvimento considerável da população européia no correr do séc. XVIII; a par disto, o incremento das atividades econômicas e relações comerciais em todo o mundo, este prenúncio da nova era que se inaugura na segunda metade daquele século, a era da Revolu-

ção Industrial. Isto se reflete intensamente no mundo colonial. Seus mercados se alargam, seus produtos se valorizam. A importân- cia do comércio colonial para os países da Europa, neste período, se manifesta nas lutas que em torno dele se acendem. Todos os con- flitos europeus, pode-se dizer que desde a guerra de Sucessão da Espanha, e inclusive as guerras napoleônicas, têm sempre, como ul- tima ratio, o problema colonial. Aliás estas guerras, cujo teatro principal é quase sempre nas grandes rotas marítimas, vão contribuir para a valorização dos produtos do ultramar, embaraçando e tornando escasso o seu forne- cimento. Quem estará então bem colocado é Portugal. Potência já então de segunda ordem entre os países coloniais da Europa, abri- gado à sombra poderosa de seu aliado inglês, o Reino é dos países europeus que menos se envolveram nos conflitos. Desta sua posição de neutralidade dúbia, que terminaria num desastre, ele foi tiran- do, enquanto pôde, vantagens consideráveis. Durante um certo tempo dominou mesmo o comércio colonial, e com isto recobrou uma posição que desfrutara dois séculos antes, e que parecia já irremediavel- mente perdida para sempre. Mas se Lisboa se tornara, pelos fins do século, o grande em- pório do comércio colonial, a sua colônia americana não seria me- nos avantajada pela posição privilegiada da metrópole. Todos os demais produtores de gêneros tropicais se viam atingidos pela luta em que se envolviam suas respectivas metrópoles. A neutralidade portuguesa se estendia sobre o Brasil e seu comércio. Podia ele, em paz, desenvolver suas riquezas e vender sem empecilhos seus produtos. Mas não é só: nos últimos anos do século seus principais concorrentes ainda sofrem golpes mais profundos que a guerra. São as agitações políticas e sociais que transtornam a vida das colô- nias inglesas e francesas das Antilhas, sobretudo o grande colapso de São Domingos (Haiti), em 1792. No comércio dos produtos tropi- cais a posição do Brasil se tornará ímpar. Ainda ocorre na segunda metade do século mais um fator parti- cular que estimula a agricultura brasileira. Até então, o grande gênero tropical fora o açúcar. Outro virá emparelhar-se a ele, e sobrepujá-lo-á em breve: o algodão. Embora conhecido imemorialmen- te, o papel do algodão nunca fora de destaque; em particular na Europa, onde nada havia que o avantajasse às fibras de produção local então utilizadas para os mesmos fins que ele: o linho ou a lã. Os progressos técnicos do séc. XVIII permitirão o seu aprovei- tamento em medida quase ilimitada, e ele se tornará a principal matéria-prima industrial do momento, entrando para o comércio in- ternacional em proporções que este desconhecia ainda em qualquer outro ramo. Arkwright constrói o seu fuso em 1769, no mesmo ano em que Watt obtém patente para a máquina a vapor que tornaria possí- vel o emprego desta energia em larga escala. Em 1787 Cartwright inventa o tear mecânico. São datas preciosas para o Brasil. O con- sumo do algodão na Inglaterra, o grande centro da indústria têxtil moderna, acompanha estas datas. Não ia no qüinqüênio 1771/5 além de 4,76 milhões de libras (peso); no penúltimo do século (1791/5), logo depois da introdução do tear mecânico, atingirá 26 milhões. Já não bastavam para este volume considerável os antigos e tradicionais fornecedores do Oriente; e a América, aproveitando

suas reservas imensas de terras virgens, virá preencher a falta e tornar-se-á o grande produtor moderno do algodão. O Brasil terá sua parte que a princípio não é pequena, neste surto sem paralelo no passado do comércio algodoeiro. O algodão é produto nativo da América, inclusive do Brasil, e já era utilizado pelos nossos indígenas antes da vinda dos euro- peus. Com a colonização o seu cultivo se difundiu. Fiado e tecido em panos grosseiros, servia para vestimenta dos escravos e classes mais pobres da população. Exportou-se mesmo, ocasionalmente, em pequenas quantidades; e na falta da moeda, os novelos de fio e pa- nos de algodão chegaram a circular em certas regiões como tal; há- bito que tanto se arraigou, que no Maranhão, p. ex., exprimiam-se ainda naquelas mercadorias, em princípios do séc. XIX, os valores monetários locais: novelo de fio, por 100 réis: e rolo de pano, por 10$000. Mas até o terceiro quartel do séc. XVIII, quando

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