Historiografia - Revolta dos Dragões
Por: Andrew Batista Souza • 13/1/2018 • Trabalho acadêmico • 4.616 Palavras (19 Páginas) • 226 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ANDREW DE SOUZA, ERIKA GREGORY E LARA THOMS
HISTÓRIA DO BRASIL I
ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA – REVOLTA DOS DRAGÕES
Porto Alegre
2017
A REVOLTA DOS DRAGÕES (1742)
Análise das principais correntes historiográficas
A história da historiografia sobre a revolta dos dragões (1742) é definida, por duas principais correntes historiográficas conflitantes: uma historiografia primordial que insiste em uma revolta de cunho militar, procurando formar uma história heroica para o estado e uma segunda, mais atual, que se desvincula e critica alguns aspectos da primeira corrente.
Pretendemos analisar sua historiografia a partir de seus principais autores, procurando identificar algumas das diferenças entre suas visões sobre a revolta. Identificamos, porém, certa dificuldade para tratar do tema, devido à escassez de trabalhos sobre o assunto e a exaustiva repetição dos mesmos pontos de vista e ideias historiográficas, principalmente nas leituras da primeira corrente, devido à característica de supressão à outras visões sobre a história do rio grande do sul. Na segunda corrente, porém, mesmo que em menor número de artigos, existe uma maior variedade de temas, criticando e relativizando diferentes aspectos da historiografia que tomou tom oficial na primeira metade do século XX.
A revolta ocorreu nos primórdios da colonização do estado, no contexto da defesa contra os ataques da Espanha, a negligência dos portugueses com a vida no Rio Grande do Sul e a vida na região do porto de Rio Grande, onde se localizava o presídio, o qual, para alguns, a construção marcou o início da colonização do estado. Devido a este caráter de região mais nova, muitos dos soldados e dragões eram de outras regiões do país, assim como haviam alguns portugueses, principalmente entre o regimento dos dragões.
Esclarecerei aqui o termo Dragão, utilizado no contexto militar: Os Dragões eram unidades militares que combatiam como cavalaria e infantaria, dependendo da necessidade, após a independência do Brasil e a subsequente reorganização do exército, as companhias de dragões tornaram-se regimentos de cavalaria de 1ª linha.
Contextualização histórica - Revoltas coloniais
O século XVIII foi marcado no Brasil como a era das revoltas. Transformações intelectuais e políticas que inundaram o mundo europeu, junto com uma série de agravantes no comportamento lusitano na administração e gerência da colônia, acentuaram o descontentamento dos colonos para com a metrópole.
Fatores como a descoberta do ouro em terras brasileiras, as novas complexidades fiscais, as péssimas condições da população, junto com as ideias iluministas que, de certa forma, reflexionaram aqui contribuíram para essa incompatibilidade de interesses entre metrópole e colônia. Esses problemas contribuíram para que o papel do estado fosse levado em conta e, além disso, refletido o seu desempenho.
Nesse complexo cenário que dezenas de revoltas eclodem por todo o Brasil, cada uma com suas origens e características individuais. Essa tela cheia de recortes deu margem a uma complexa historiografia. Ao longo do século XIX, a ainda tão pouco desenvolvida historiografia brasileira era dirigida pelo Instituto Histórico Geográfico brasileiro centrado na construção do império, que silenciou essas manifestações, mas com o enfraquecimento da monarquia, os primeiros republicanos encontraram nessas manifestações uma gama de heroísmos e a memória dos grandes feitos brasileiros. Destacando uma espécie de sentimentos precursores de patriotismo e nacionalidade. Uma das principais críticas a essa historiografia reside nessa forçosa incorporação desses sentimentos.
Essa forma de conceber o passado, contudo, que ainda sobrevive, fere uma das boas regras da história. Atribuir a uma determinada época certos significados que então inexistiam compromete a interpretação da real dimensão da ação dos homens e das condições desse tempo que passou... Firmou-se com grande força a ideia de que as revoltas na época colonial traduziam uma atitude de resistência ao domínio de Portugal, como se latejasse um sentimento nacional que a Metrópole não deixava nascer indícios de manifestações antecipadas do apego a liberdade e à independência .( Figueiredo, 2005, PG. 13)
Essa tendência historiográfica não foi ignorada pela revolta que aqui vamos tratar. Acontecida no ano de 1742 a revolta dos dragões foi um movimento encabeçado principalmente Melos soldados do regimento dos dragões. Esses soldados vindos na época da criação de um núcleo colonial portuguesa nas terras sulinas . Eles atuavam no presídio de Jesus Maria e José que fica aproximadamente onde hoje se encontra a cidade de Rio grande. A revolta durou cerca de dois meses e foi o primeiro movimento de ordem social ocorrido onde hoje é o Rio Grande do Sul.
Contextualização histórica - A Organização Militar no Brasil Colonial
A coroa portuguesa não dispunha de uma organização militar capaz de sustentar um conflito. No sistema de capitanias, capitães donatários tinham a responsabilidade de defender a terra. Foi a partir do crescimento da economia das terras ao sul que se que acentuaram o interesse pelas terras cisplatinas. Esse canto mais remoto não dispunha de povoamento e eram inconvenientemente próximas aos vizinhos espanhóis. Os sul só havia sido desbravado pelos padres missioneiros, passava agora a ter um valor estratégico e comercial principalmente pelos rios da bacia do prata.
Junto com a importância da bacia do prata, a criação das primeiras estâncias e a utilização da fartura de gado, para a produção e comercialização de couro, carne e erva-mate, renderam em uma economia que estava crescendo muito no sul do país. Esse comércio também foi impulsionado pela descoberta de ouro. Esse crescente fértil chamou a atenção para essas terras. Tanto espanhóis quanto portugueses tinham interesses. A falta de fronteiras definidas e justificou as campanhas de povoamento português, acirrando as disputada que obrigou Portugal a tomar alguma atitude sobre a organização militar. Centralizando o poder militar em suas mãos a coroa foi a responsável por essa iniciativa. Inicialmente com medidas como aulas de artilharia e fortificações (que era uma espécie de engenharia de guerra) e em 1738 o ensino militar passou a ser obrigatório.
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