Indio E Indigenas
Trabalho Escolar: Indio E Indigenas. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: biaselia • 1/3/2015 • 5.184 Palavras (21 Páginas) • 360 Visualizações
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2) 2001
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CULTURAS EM TRANSFORMAÇÃO
os índios e a civilização
A questão da sobrevivência física impõe iniciativas
objetivas: atendimento médico; garantia de território; punições
a práticas de genocídio. Já a sobrevivência cultural
apresenta problemas de outro tipo, sendo que o primeiro
é defini-la. Para tanto, propõe-se, nesse artigo, fazer
uma reflexão do que se entende por “cultura” e “tradição”
e, portanto, por sobrevivência cultural, contrapondo essas
concepções aos modos como algumas etnias indígenas
as entendem e utilizam, em especial os Xikrin, grupo
Kayapó que vive no Pará.
A IDÉIA DA CULTURA
O conceito de cultura tem uma longa história e sua origem
é anterior ao esforço da antropologia de estudar e
compreender povos com costumes e modos de vida diferentes.
Como mostra Elias (1990), cultura e civilização
são conceitos que surgem na Europa e que, já de início,
ganham significados diversos entre as várias populações
nacionais nascentes. Grosso modo, porém, esses termos
parecem conotar a unidade ocidental e as diferenças internas
a ela: se civilização é um resultado final de um processo
que culmina no Ocidente, cultura designa as particularidades
das populações ocidentais – os modos
franceses, ingleses, alemães.
Na antropologia evolucionista de fins do século XIX,
uma história comum a todos os povos culminaria na civiResumo:
A partir da experiência de um grupo indígena brasileiro, este artigo realiza uma reflexão sobre as
transformações culturais e o perigo de perda cultural e de identidade. Para isso, retomam-se os conceitos de
cultura e civilização tais como concebidos e pela antropologia e no senso comum, contrapondo-os às noções
indígenas de cultura e tradição, com o objetivo de entender como elas lidam com a permanência e a mudança
cultural.
Palavras-chave: cultura; etnicidade; índios no Brasil; identidade; história indígena.
CLARICE COHN
Doutoranda do Departamento de Antropologia da USP, bolsista do CNPq
Mas não vejo como a humanidade
poderia viver sem diversidade interna.
Lévi-Strauss1
Muito se comenta, e se lamenta, que os índios estão
perdendo sua cultura. Um índio calçado e
vestido com calça jeans, falando português, utilizando
gravadores e vídeos ou morando em uma favela
em São Paulo aparece aos olhos do público como menos
índio. Eles deveriam seguir suas tradições, se diz. E nós
deveríamos deixá-los em paz, devolvê-los ao isolamento,
para que possam seguir seus caminhos.
É claro que devemos muito aos nossos índios, e precisamos
deixá-los em paz. A questão é como fazer isso.
Certamente não é devolvendo-os a um isolamento que
nunca conheceram, pois nós somos apenas mais um dos
outros povos com que cada povo indígena manteve contato
ao longo da história, seja através de trocas amistosas,
seja de forma bélica. Por outro lado, não somos “apenas”
mais um povo; nossa tecnologia nos faz especialmente
perigosos e, ao longo desses 500 anos, a história não tem
sido fácil para os índios, que tiveram que lutar para sobreviver
a epidemias, guerras, escravidão, aldeamentos e
esforços de integração à população nacional – e foram
poucos os que conseguiram. Como, então, sem isolá-los,
mantendo-os em uma redoma de vidro, podemos contribuir
para sua sobrevivência física e cultural?37
CULTURAS EM TRANSFORMAÇÃO: OS ÍNDIOS E A CIVILIZAÇÃO
lização ocidental, ápice da evolução, e as diferenças culturais
ficavam subordinadas a uma concepção de estágios,
ou estados, que deveriam ser ultrapassados. Funda-se então
a missão civilizatória ocidental. Com a crítica aos evolucionistas
e a admissão da relatividade cultural, a antropologia
norte-americana, de um lado, e a inglesa, de outro, recusam
o que foi chamado de pseudo-história ou história conjectural
e buscam entender a diferença cultural. Está em jogo,
aqui, uma oposição entre diferença e desigualdade.
Na antropologia americana, cultura passa a ser definida
como um conjunto de traços que podem ser perdidos ou tomados
de empréstimo de populações vizinhas, enquanto a
antropologia
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