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LETRA DE PETRO VAZ DE FIRE

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Por:   •  26/5/2014  •  Resenha  •  7.182 Palavras (29 Páginas)  •  312 Visualizações

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MINISTÉRIO DA CULTURA

Fundação Biblioteca Nacional

Departamento Nacional do Livro

A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA

Senhor:

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a

nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também

de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem

contar e falar — o saiba pior que todos fazer.

Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para

aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei

fazer, e os pilotos devem ter esse cuidado. Portanto, Senhor, do que hei de falar começo e digo:

A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de março. Sábado, 14 do dito mês,

entre as oito e nove horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grã- Canária, e ali

andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito

mês, às dez horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, ou melhor, da

ilha de S. Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.

Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau,

sem haver tempo forte nem contrário para que tal acontecesse. Fez o capitão suas diligências para o

achar, a uma e outra parte, mas não apareceu mais!

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa,

que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos

diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os

mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira

seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos.

Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto

e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte

alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz.

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra,

surgimos âncoras, em dezenove braças — ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E

à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos

em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze,

doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de

um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez

horas pouco mais ou menos.

Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios

pequenos, por chegarem primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do

Capitão-mor, onde falaram entre si.

E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele

começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira

que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.

Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos

com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os

arcos. E eles os pousaram.

Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente

deu-lhes um barrete

vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um

sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de

papagaio; e outro deu-lhe um ramal

grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o

Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles

mais fala, por causa do mar.

Na noite seguinte, ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a

capitânia. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos,

mandou o Capitão levantar âncoras e fazer vela; e fomos ao longo da costa, com os batéis e esquifes

amarrados à popa na direção do norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde

nos demorássemos, para tomar água e lenha. Não que nos minguasse, mas por aqui nos acertarmos.

Quando fizemos vela, estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta

homens

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