Macau e Educação: Palavras que deveriam andar sempre juntas, mas não é bem assim.
Por: Sarah Monique • 27/3/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 1.204 Palavras (5 Páginas) • 295 Visualizações
Macau e Educação:
palavras que deveriam andar sempre juntas, mas não é bem assim.
Entrevistado: Vandelúcio Bezerra, 53, professor.
- Quem é o senhor e como está presente no contexto educacional da cidade?
Meu nome é professor Vando, leciono na rede estadual e municipal; na rede estadual à 27 anos, na municipal um pouco mais pra cá, não tem esse tempo todo. Além de professor já fui diretor de escola da rede estadual. Isso nos dá uma certa experiência, né, aí quando a gente volta para a sala de aula a gente passa a ver a educação com outros olhos.
- Foi em Macau que o senhor começou a lecionar?
Foi. Eu sou formado em Letras pela universidade federal, era um campus que aqui era chamado a época de CRESM (Centro Regional de Ensino Superior de Macau), conclui Letras e lecionei em escolas privadas, públicas (municipais e estaduais), por aqui mesmo.
- Segundo o Portal da Transparência, Macau recebeu do Governo Federal em 2013 cerca de 975 mil reais para investir na educação, o senhor como professor da rede pública de ensino tem visto esse dinheiro realmente sendo investido?
Olha, é lamentável né?! Daí as greves, nossos movimentos, nossos protestos... Que ao longo da história, não é de agra de 2013, que nossos gestores, tanto da rede municipal quanto da rede estadual, não aplicam como deveriam. E a prova tá no desenvolvimento dos alunos, no resultado final, que as escolas, principalmente do município, estão sucateadas, a merenda de péssima qualidade, e não se vê recursos (a olho nu não se vê). Se percebe pelo resultado dos alunos. As escolas são mal aparelhadas, não se tem estrutura e inclusive, está havendo a greve na rede estadual, por causa disso. É visível que o governo federal aplique, agora nós não sabemos onde.
- Há um levantamento sendo feito que diz que o IFRN – Campus Macau aprovou mais gente na faculdade, do que todas as escolas públicas da cidade juntas nos últimos 10 anos. A que o senhor atribui isso?
Como eu falei né, a questão nossa, da rede pública, não é a questão “só salário” de professor não, claro que o salário é um ponto, mas não se aplica como deveria aplicar. Por exemplo, temos uma rede municipal onde nós não temos uma gestão democrática, nós não temos por exemplo recursos geridos pelo diretor e pela comunidade escolar, certo?! A reforma da escola sempre é por ultimo, primeiro se prioriza o carnaval. Um exemplo tá tendo agora, tem escola da rede municipal que nem começou as aulas ainda por falta de estrutura. Das estruturas das escolas, salvam-se poucas; não há aquele acompanhamento pedagógico, por exemplo, nós da rede municipal, nós não temos um Plano Municipal, somos regidos pela Lei Estadual de Educação, nisso você já vê; Concurso Público? Vai haver um agora, depois de 15 anos; nós não temos um quadro de professores fixo, onde você capacita e ele fique permanentemente, cada ano muda-se esse quadro. Somando isso a um péssimo salário, à falta de estrutura, o resultado dos alunos é esse mesmo. Porque o que eu vejo no IFRN ou as próprias Universidades é que, apesar de públicas, elas tem uma Política Pedagógica, elas tem uma forma de você direcionar a educação. Tem problemas sim, mas é diferente da gente que temos os nossos gestores que, passa ano e dirigem pra eles mesmos, não dirigem pra comunidade. É carnaval, é festa e a comunidade fica dessa forma. Daí é a reprovação é natural. É natural e chato falar dessa forma. As escolas do estado até se saem melhor do que as municipais, não é que sejam melhores, mas tem uma estrutura melhor, tem uma gestão democrática, há concursos, apesar da dificuldade que o estado tem, oferecem concursos, já no município não se oferecem. Somando-se a isso, os problemas políticos existem.
- Ano passado teve uma grande onda de protestos por todo o Brasil, em Macau também tiveram esses protestos. A seu ver, esses protestos surtiram algum efeito na cidade?
Em Macau eu acredito que mal surtiu efeito. Há muita gente boa, que protesta não só nesses protestos, que protesta no seu dia a dia, mas tem pessoas também que se aproveitam e fora isso não protestam. Por exemplo, de que adianta protestar num dia, se essas pessoas não vão a Câmara Municipal assistir as sessões, pra ver o trabalho nosso? Como é que a pessoa protesta um dia e nos demais dias não cobra do prefeito uma educação de qualidade, prefere o carnaval? Como é que as pessoas protestam num dia, se nos outros dias protestam por que o time perde? Picham sedes de futebol mas não vão pichar as prefeituras. Não digo assim, que é questão de modismo, mas, salvando poucas pessoas que protestam no dia a dia, é muito pouco. Porque protesto não é a questão de um dia, é todo dia quando necessário. Por que não começaram as aulas? Por que a merenda tá faltando? As pessoas não fazem isso. Por exemplo, no carnaval agora, as pessoas estão reclamando das bandas, mas não está reclamando que na escola municipal está faltando professores.
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