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Missões protestantes em terras indígenas

Por:   •  17/6/2017  •  Monografia  •  22.243 Palavras (89 Páginas)  •  265 Visualizações

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Deuses em guerra

Como o contato missionário tem modificado o universo cosmológico e social dos índios karajás

                               

                                           Monografia de curso apresentada no curso de História do UniCeub sob Orientação do Prof. Luiz Cláudio Machado

                                                         

BRASÍLIA

2005

Introdução

Os índios Karajás são um grupo conhecido por seus costumes tradicionais como uma língua própria, pertencente ao tronco lingüístico macro-jê, suas bonecas de cerâmica, seus rituais, como a festa de Aruanã e da casa grande Hetohoky e suas pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face. Sua população vive em aldeias espalhadas entre os estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás, nas margens do rio Araguaia.

O Rio Araguaia na língua Karajá chama-se Berohoky ou grande rio. Ele delineia e define todo o espaço cósmico e social do grupo. Nasce entre os estados de Goiás e Mato Grosso até o Pará. Aproximadamente no meio de seu trajeto o rio Araguaia se bifurca, recebendo o desvio à sua direita o nome de braço menor ou Javaés (na língua Karajá), formando a ilha do Bananal, com um total de dois milhões de hectares, onde se encontram várias tribos Karajás. Cada aldeia estabelece um território específico para a pesca, caça e a prática de seus rituais, demarcando os espaços culturais do grupo[1].

Geograficamente suas aldeias estão localizadas desde o município de Santana do Araguaia, no Pará, até a cidade de Aruanã no estado de Goiás.

O povo Karajá possui uma longa história de convivência com a sociedade branca, desde o final do século XVI, quando começaram a chegar ao vale do Araguaia os bandeirantes vindos de São Paulo a procura de escravos e de ouro, desencadeando vários conflitos entre a população Karajá. Outro fato que muito contribuiu para manter as aldeias em permanente contato com os brancos foi à política de navegação do rio Araguaia, criada pelo General Couto de Magalhães em meados do século XIX, que tinha como objetivo a introdução da navegação a vapor no Brasil. Com essa iniciativa o governo imperial  criou no ano de 1873 o serviço de catequese do Araguaia, - com o auxílio de Missionários Capuchinhos-  que tinha o objetivo de evitar que o índio fosse um obstáculo à navegação, cristianizando e  tornando-os “civilizados”[2].

Com o passar dos anos missionários salesianos, dominicanos e entidades protestantes como a London South American Evangelion Union, New Tribes Mission, Summer Institute of Linguistics, Batistas e Adventistas do Sétimo dia fizeram-se presentes entre os Karajás.

Buscando-se compreender como universo cosmológico e social do povo Karajá tem sido influenciado por essas ações missionárias, esse estudo torna-se necessário, pois busca compreender como ocorre o processo de influencia missionário no meio Karajá, explicando os objetivos, métodos e o discurso usado pelas ações missionárias, seja por meio da ajuda assistencial ou simplesmente buscando a conversão do índio. Ademais, pretende-se analisar se essa influencia tem gerado algum impacto no universo simbólico e no meio social do povo Karajá, buscando compreender se houve alguma resistência ou mudança na cultura do povo.

O trabalho limita-se ao período que vai do ano de 1873, quando se iniciou o processo missionário na região do rio Araguaia, até os dias atuais. O estudo se fará nos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins. Podendo ser dividido em três objetivos específicos:

 Logo que entram na puberdade, os jovens Karajás de ambos os sexos, fazem logo abaixo de seus olhos, dois pequenos círculos pretos, onde representam o sol e a lua. Em uma de suas Histórias os Karajás contam que:

 “O homem surgiu da terra, aprisionou o Urubu Rei e dele exigiu a entrega do sol. O pássaro cativo-Rãrãresa ofereceu a lua, mas sua matreirice foi percebida, e o sol, foi concedido. Por isso o Urubu-rei se tornou herói e passou um dia inteiro entre os homens, ensinando–os a pescar, caçar. Fazer roça, construir canoa e a fabricar a corda de Arco”[3].

Em geral a Cosmologia Karajá aborda temas como sua origem, o extermínio e o seu recomeço, a origem da Agricultura, fumo, a origem da chuva do homem branco do sol e da lua como foi colocado, entre muitas outros. E normalmente ela está associada aos rituais e ao meio social como o papel do homem e da mulher, o casamento, o xamanismo o poder político, as doenças, a morte, o parentesco, as plantações, as pescarias e o contato com os brancos[4].

Entre os Karajás, dois grandes rituais são referencias em sua Estrutura social: O ato de iniciação Masculina, o Hetohoky, e a festa de Aruanã, que representam os ciclos anuais baseando-se na subida e descida do rio Araguaia.

Assim para poder analisar a influência missionária no universo simbólico dos índios Karajás, que é o objetivo geral deste trabalho, torna-se necessário primeiramente conhecer a História do povo e as suas relações simbólicas e sócias.

 Os missionários capuchinhos que atuaram no Estado de Goiás por volta do Final do Século XIX até o inicio do Século XX, tinham como objetivo cristianizar os Índios e torná-los colonos sedentários. E ao realizarem essas práticas os missionários procuravam só trabalhar como Crianças visto que o objetivo da catequese, deveria ser resolvido na base, uma vez que ao estarem catequizando as crianças os capuchinhos estariam transformando a nova geração em futuros cristãos, diferente do que acontecia quando o trabalho de catequese era realizado junto aos adultos, que tinham já arraigados os costumes e seus valores tribais.

Já a missão novas tribos do Brasil (MNTB) é uma organização missionária protestante criada nos Estados Unidos e uma das maiores missões Evangélicas transculturais do Brasil. Ela se caracteriza:

“Como uma agência missionária de fé de caráter indenominacional e cujo objetivo é alcançar os minoritários grupos étnicos com o evangelho de cristo, e prestar assistência integral nas áreas de saúde, educação e desenvolvimento comunitário”[5].

 Entre os Karajá ela atuou no período de 1946 até os dias de hoje na aldeia de Macaúba no Estado do Mato Grosso.

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