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No Olho do redemoinho, tudo muda ao nosso redor: a infância nas canções do rock nacional, década de 1980

Por:   •  11/2/2018  •  Artigo  •  7.250 Palavras (29 Páginas)  •  260 Visualizações

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No olho do redemoinho, tudo muda ao nosso redor: a infância nas canções do rock nacional, década de 1980

Resumo

Um redemoinho de imagens, sons e movimentos compõe a década de 1980. Iniciava-se o processo de redemocratização, um novo Código de Menores, também, marcou o período. Nascia, em 1985, o Movimento Nacional de Menino e Meninas de Rua e a nova Constituição em 1988. Neste contexto está centrado o recorte temporal deste trabalho, a década de 1980. Período em que o Brasil vivenciou experiências que mudaram profundamente a ordem política, econômica e social, que servem como moldura para pensar os desdobramentos musicais da década.  O cotidiano dos anos 80 fora registrado na produção musical, o que nos leva a estabelecer um debate sobre a utilização da temática “infância” nas músicas, consumidas pelos jovens no Brasil, essencialmente as do gênero rock, pela característica poética que assume. Assim, essa proposta parte da ideia de que as composições que sublinharam o rock nacional brasileiro, durante o período de reabertura política, fizeram uso de imagens da infância, geralmente associada à pobreza, de forma alegórica para evocar um passado recente. Para compor nossa hipótese trabalhamos com as canções Milagres (1985), Barão Vermelho, Teerã (1986), Paralamas do Sucesso e O senhor da guerra (1983), Legião Urbana. A partir de uma análise dos parâmetros internos da linguagem e dos parâmetros externos das canções, que se aproximam pelos aspectos melódicos e por seu contexto histórico, buscamos abarcar esta dimensão analítica das produções, alinhando uma perspectiva teórica e metodológica da História do Tempo Presente em diálogo com a Música e a História da Infância.

Palavras-chave: História; Infância; Música; Juventude.

Resumen

Un remolino de imágenes, sonidos y movimientos componen la década de 1980. El proceso de democratización esta comenzado, un nuevo Código de Menores, también marcó el período. Nacía en 1985, el Movimento Nacional de Menino e Meninas de Rua el y la nueva constitución en 1988. En este contexto se centra el marco temporal de este estudio, el período de 1980. Período en el que Brasil vivió experiencias que cambiaron profundamente la vida política, económica y social, que serve de marco para pensar acerca de los acontecimientos musicales de la década. La vida cotidiana de los años 80 fueran registrados en la producción musical, lo que nos lleva a establecer un debate sobre el uso del tema "Infancia" en la música, consumida por los jóvenes en Brasil, principalmente del género rock, por la función poética que toma. Así, tuvimos esta propuesta a partir de la idea de que las composiciones que hacían parte del rock nacional de Brasil, durante el período de reapertura política, hicieron uso de las imágenes de la infancia, por lo general asociados con la pobreza, para evocar el pasado reciente. Para componer nuestra hipótesis, trabajamos con las canciones Milagres (1985), Barão Vermelho, Teerã (1986), Paralamas do Sucesso y O senhor da guerra (1983), Legião Urbana. A partir de una análisis de los parámetros internos del lenguaje y los parámetros externos de las canciones, que se acercan los aspectos melódicos y por su contexto histórico, buscamos incluir esta dimensión analítica de la producción, aliando  una perspectiva teórica y metodológica de la Historia del Tiempo Presente en el diálogo con la música y la Historia de la infancia.

Palabras-llave: Historia; Música; Infancia; Juventud.

Introdução: o cinema, a rua e a música

Era uma noite fria da década de 1980, na cidade de São Paulo, Pixote era levado da delegacia para a FEBEM em um camburão. Um menino franzino, com apenas 10 anos de idade, chegava à instituição “correcional”, a frase na parede, se soubesse Pixote ler, avisava: “Respeite a Ordem”. Mesmo não sabendo ler, Pixote acabou entendendo o recado de um dos funcionários responsáveis pela disciplina “Aqui ninguém apanha de bobeira”. Foram noites de pouco sono, dias de alimentação insuficiente e muita violência. Depois de conhecer a realidade da instituição, Pixote ganhava as ruas, local onde “aprimorou” a criminalidade. O final do filme, um tanto lúdico, mostra o menino Pixote caminhando na estrada férrea, equilibrando-se na corda bamba da vida.

Assim como Pixote, protagonista do filme de Hector Babenco, existiram tantos outros meninos e meninas que circulavam pelas ruas na década de 1980. Esse período assinalado pela redemocratização brasileira foi marcado pela efervescência dos movimentos sociais. Entre o verão de 1984 e o outono de 1985 as ruas do país, principalmente das grandes capitais, foram tomadas por enormes movimentações populares. A população associada a partidos de oposição ao regime reuniam multidões, era o “Movimento Diretas Já”, que, iniciado em 1983, ganhava força. Associada a estas grandes manifestações surgiram vários movimentos sociais de base, oriundos de diversos matizes, entrava em pauta a discussão dos direitos políticos, civis e sociais, o que incluía a luta pelos direitos das crianças e adolescentes.

 Inúmeras foram às disputas, travadas no campo social, ao que se refere à questão da infância no país. O contexto da década de 1980 foi marcado por importantes e decisivas conquistas, e, também, pelo surgimento de grupos e entidades em prol da infância brasileira. E essas ações acabaram por culminar na formulação da constituição e posteriormente no Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990.

Toda essa movimentação em prol da infância, na década de 1980, se fazia presente na discussão midiática, principalmente na mídia impressa. Em um texto[1], publicado nos anais de XXVII Simpósio Nacional de História, Silvia Arend afirmou ter coletado aproximadamente 1600 matérias referente ao tema da infância, na década de 1980 e 1990, no Jornal Folha de São Paulo. Como metodologia a historiadora utilizou a página virtual do jornal e pesquisou com as seguintes palavras-chave: Criança; Menor; Garota/o; Menina/o; Infantil; Infância; Juventude; Família; Planejamento familiar; Aborto; Escola; Aluno; Filho; Brincar; Brinquedo; Sarampo; e Desnutrição. 

Não diferente dessa infinidade de publicações nos jornais, a década de 1980 foi marcada por inúmeras publicações de relatórios. Cifras e mais cifras, publicações da UNICEF[2], sobre crianças abandonadas na América Latina, apresentavam, mesmo que com oscilação números compreendidos entre 15 e 40 milhões, durante a década de 1980. Por sua vez, as informações nacionais ficaram por conta da FUNABEM[3], que publicou, em 1985, uma estimativa que existia, no Brasil, 7 milhões de “menores abandonados” [4].

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