O Jango e o Golpe de 1964 na Caricatura.
Por: Liriane21 • 29/11/2016 • Resenha • 1.819 Palavras (8 Páginas) • 426 Visualizações
RESENHA
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o Golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro, Zahar, 2006.
Liriane Valéria Pereira Soares[1]
Um Golpe para impedir um golpe de um presidente indecifrado
Rodrigo Patto Sá Motta é graduado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais, possui mestrado pela mesma instituição e doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Sua carreira na área de História é vasta, atuando principalmente com História Política, suas pesquisas mais recentes dizem respeito as questões relacionadas ao golpe de 1964 e aos temas que se circunscrevem ao regime militar. Atualmente ocupa o cargo de presidente da AMPUH, órgão máximo de representação da área da História.
A obra de Patto Sá Motta, Jango e o Golpe de 1964 na Caricatura não é destinada apenas a pesquisadores do período, mas também ao grande público. Por mais que seja um resultado de pesquisa acadêmica, sua leitura é fácil e sensível, desprovida de muitos palavreados rebuscados e de difícil compreensão.
Em 11 capítulos muito esclarecedores e através de caricaturas o autor nos traz algumas representações de como a mídia noticiou o complexo e agitado cenário político nos anos que antecederam o Golpe. Nas palavras de Motta, durante a primeira metade dos anos 1960 houve “uma polarização aguda entre esquerda e direita, gerando a sensação de que havia alguma ruptura grave – como um golpe ou uma guerra civil – e, ao mesmo tempo, relativa liberdade de expressão”.
Mas por que caricaturas?
Decorreu de duas razões: caricatura permanece a designação genérica para as diversas formas de humor gráfico; além disso, a maioria dos desenhos reproduzidos e analisados aqui, efetivamente, consistem em caricaturas de personagens retirados da “grande” política, mesmo que, em sua maioria, ultrapassem o formato de retrato pessoal. (MOTTA, 2006: 15-16)
Essa forma de linguagem tem a função de comentário ou crítica política, servindo como fonte de conhecimento, já que sugere lidar com a verdade, sendo ainda uma forma de estimular o pensamento e a reflexão. As caricaturas selecionadas foram publicadas nos mais expressivos jornais da época por obterem maior repercussão e expressarem os sentimentos das classes dominantes, sentimentos vistos nas imagens de Lan, Hilde, Augusto Bandeira e Theo. Mas publicações de pequenas imprensas, tanto de direita quanto de esquerda, também foram escolhidas, pois o que interessava era o discurso político que continham.
O primeiro e o segundo capítulo, situam o leitor no período em questão. Personagens identifica os nomes que merecem maior atenção, além de João Goulart, no caso seriam: Carlos Lacerda, polêmico jornalista que tinha prazer em atacar Vargas, seus seguidores e o comunismo, normalmente representado por um corvo nas caricaturas, visto que presenciou a crise do Governo Vargas (fato que o agradou, já que era seu inimigo político) e a renúncia de Jânio Quadros teve sua imagem relacionada ao agouro de mandatos, foi também Governador da Guanabara em 1960, tornando-se principal opositor de Jango; Leonel Brizola, herdeiro do Governo Vargas, com ideologias nacionalista e popular, foi líder nacional das esquerdas, candidato a Deputado Federal da Guanabara em 1962 e porta voz direto dos defensores das reformas propostas por João Goulart; Sant Tiago Dantas, assessor de Goulart, ocupou a pasta das Relações Exteriores, conseguindo uma forma de reatar laços com a temida URSS consolidando a política externa independente do Brasil.
O Interregno Parlamentarista mostra brevemente como Jango chegou ao cargo de Presidente. No ano de 1960 João Goulart era vice de Jânio Quadros, mandato desafinado já que eram opositores. No ano seguinte, Quadros renuncia ao mandato e Jango assume a presidência, trazendo aos corações conservadores o medo do fortalecimento do comunismo e o retorno dos tempos do varguismo. Baseados nesse medo, Ministros Militares colocaram-se contra a tomada de poder de Goulart e impediriam que assumisse o cargo, gerando um clima de pré-guerra civil. Coincidentemente em meio a essa crise, Jango viajava pela Ásia, tendo passagem pela China Comunista, intensificando o medo. Durante a viagem, os assessores do presidente e as forças opositoras firmaram um Ato Adicional para que Jango pudesse efetivar-se como presidente, a emenda parlamentarista limitava o poder de João Goulart e o submetia ao Congresso Nacional, porém abria a possibilidade para um plebiscito que foi realizado em 1963 onde João Goulart e o presidencialismo obtiveram vitória significativa. Tinha-se esperanças de dias melhores.[pic 1]
João Goulart foi uma figura paradoxal na história brasileira. Homem de personalidade tímida, tido muitas vezes como ingênuo e incapaz de conduzir o país, ao longo do seu mandato mostrou-se malicioso e ardiloso, com talento para negociações, chegando a ser chamado de ditador em potencial, uma figura perigosa. Especulava-se que suas estratégias maliciosas eram apenas para alcançar seus objetivos – manter-se no poder a qualquer custo - e não salvar o país, seus discursos eram para agradar quem o ouvisse, portanto, um oportunista, além de apresentar ações ambíguas e convicções nada concretas, sendo instável e indeciso. Nos capítulos 3 - O Grande Manipulador - e 4 – Hamlet Equilibrista – ficam evidentes essas suposições e as críticas ao jogo de equilibrismo político que Jango fazia. Nem atores da direita ou da esquerda confiavam nas posições de Goulart que na tentativa de agradar a todos poderia cometer um deslize e cair, como mostra a charge da Lan[2], sendo arruinado ou por machados e foices ou por lanças.
No capítulo, 5 Mar de Lama, corrupção é o tema principal. Nos dias atuais é um assunto polêmico e em 1950 não era diferente. Surgiram denúncias de práticas corruptas no governo Vargas, onde foram acusados de usar verbas públicas para benefício próprio. No governo de Jucelino Kubitschek, marcado por grandes obras, a oposição foi instigada a denúncias de corrupção pelo porte das obras – exemplo da grandiosidade dos investimentos foi a construção de Brasília. Para “varrer” essa sujeira, Jânio Quadros se elege, mas renuncia ao cargo e assim Jango assumiu a presidência, mesmo que a oposição estivesse convicta de que ele era tolerante a corrupção, já que seus antecessores no partido possuíam bagagem corrupta, sendo essa uma suposição ponderante na mobilização culminante no Golpe.
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