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Processo de Civilização Brasileira

Por:   •  22/9/2018  •  Resenha  •  1.367 Palavras (6 Páginas)  •  166 Visualizações

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O Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão (1888), e um ano depois foi à vez da monarquia acabar, por ser um sistema muito vinculado à escravidão. Com isso a República surgiu como um cenário que trazia promessas de igualdade e cidadania, algo que era tratado como um passo obrigatório, e não como uma opção de governo, a principal referência era o modelo civilizatório da França.

Assim surgiram pensamentos que imaginavam um novo mundo sem os modelos de hierarquia social, um sentimento de ascendência e inclusão que possibilitariam uma cidadania as classes inferiores. Porém, com esse cenário, começaram a aparecer o racismo e as teorias raciais. Isso fez com que novas divisões entre os grupos de pessoas aparecessem, agora justificadas pelas ciências biológicas. Portanto o que seria um caminho para o progresso e ordem do país, visando um novo mundo, não mudou muito os modelos hierárquicos da população do sistema anterior, onde ser brasileiro era ser branco, livre e que preferencialmente tivesse uma alta influência hierárquica social, e excluindo aqueles que não atendiam a sua demanda.

Assim acabou se criando uma grande dualidade nessa primeira República, de um lado estavam as cidades urbanizadas, modernas e industrializadas, junto com a alta sociedade, e do outro lado tínhamos os libertos, mestiços, imigrantes, os excluídos desse novo projeto de governo. Isso fez com que se criasse certo saudosismo a monarquia, chegando a ser tratada como algo místico, a república estava tendo tantos problemas que a monarquia era vista como tempos “bons” que ficaram para trás. Um exemplo dessa visão era os libertos que tratavam a abolição como um presente da monarquia, ignorando todo o processo e luta por trás desse acontecimento. Com isso também cresceu o temor da elite para essas outras camadas sociais, elas eram chamadas de “camadas perigosas”, pois o medo por revoltas fazia com que essas outras camadas sociais acabassem sendo afastadas dos grandes centros urbanos.

Portanto, podemos interpretar pelo texto da Lilia Schwarchz que no período da Primeira República existiu o que é chamado de “dois Brasis”, de um lado as cidades levadas pela indústria e oportunidades de trabalho, mas também pela separação e exclusão com base nas teorias biológicas, para assim urbanizar e higienizar os grandes centros. E do outro lado os “demais Brasis”, que se encontravam nos sertões, longes da realidade que se encontrava a população do centro urbano. A autora coloca no final do texto que prefere o termo “Primeira República” do que o termo “Velha República”, pois teve o protagonismo de ser o início de algo, ao mesmo tempo em que as ruas se converteram em um local privilegiado e recebendo mudanças em relação ao progresso e urbanização, ela também teve manifestações, greves, a cultura popular sendo expressa. Mesmo esse período tendo sido um momento polêmico e controverso, com uma falta de dialogo entre o governo e a população. Foi também onde se iniciou a luta por direitos e pelo direito a cidadania.

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No final do século XIX a única possibilidade de seguir um ensino superior para alguém que vinha de uma família que não tinha condições de pagar os estudos, era a Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro. Castro aponta que a maioria dos estudantes militares vinha das províncias, principalmente do Norte. Para esses alunos o deslocamento cultural que eles enfrentavam era mais que apenas territorial, e sim um tempo social diferente do que eles estavam incluídos em suas províncias, como o próprio autor coloca, seria um mundo mais eurocêntrico, bem diferente do sertão no qual esses alunos estavam acostumados.

Também pode se notar que como a maioria das famílias desses alunos vivia afastada nas províncias deixadas pelos mesmos, o seu grupo de referência básica acabava sendo outros alunos, era através dessa forte convivência entre eles no “Tabernáculo da Ciência” (Expressão que os alunos utilizavam para se referir a escola, mostrando o apreço pelo estudo da Ciência e demonstrando questões positivistas muito fortes dessa época) que se tornavam parte da “mocidade militar”.

O “espirito de corpo” segundo Castro era como uma integração e solidariedade provindas de admirar si mesmo em seus companheiros e de esquemas de percepção, apreciação, pensamento e ação. E tudo isso é compreendido pelo autor no processo de iniciação e integração dos alunos novos no “Tabernáculo da Ciência”. Por exemplo, os alunos novos eram chamados de “bichos”, fazendo uma comparação a seres irracionais, que não deveriam estar daquela maneira ali na escola, pois ali era um lugar da Ciência. Por isso, os alunos novos deveriam passar por uma iniciação, o “trote”, que era feito pelos alunos mais antigos, nenhum oficial ou supervisor proibia essa prática, pois existia um sentimento de que, todos que estavam ali passaram por isso em um momento, portanto, os mais novos deveriam passar também e assim estarem preparados para estudar ali, um pensamento meritocrático e hierárquico bem comum entre os militares. Outra questão era o demonstrar a unidade do grupo, ou seja, a unidade estaria em risco com a entrada de novos alunos, e através da vitória culturas sobre os “bichos”, como Castro coloca em seu texto, o “trote” servia também como instrumento civilizatório e também para se reconhecerem como grupo.

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