Relações Etno-Raciais
Dissertações: Relações Etno-Raciais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 23/11/2014 • 674 Palavras (3 Páginas) • 728 Visualizações
1 CONCEITOS INICIAIS: A QUESTÃO DE RAÇA E
ETNIA
1.1 Raça
Se esta disciplina apresenta em seu título a expressão
“relações étnico-raciais”, precisamos primeiramente deixar claro dois conceitos essenciais para a compreensão de seu conteúdo:
os conceitos de raça e etnia. Comecemos pelo primeiro.
Historicamente, desde o século XVI, o termo raça recebeu
inúmeros tratamentos, reforçando racismos, preconceitos
e discriminações pelo mundo afora. Por isso, é preciso
desenvolver com calma esse conceito, a fim de se perceber
como essa construção foi lenta, paulatina e extremamente
“eficaz” ao longo de nossa trajetória histórica. Esse
detalhamento será dado nos próximos tópicos, quando
trataremos sobre o racismo científico e o mito da democracia
racial no Brasil.
Neste momento, nossa primeira abordagem sobre o
termo raça deve enfatizar que não se trata de diferenciar
biologicamente os seres humanos, uma vez que as vertentes
teóricas construídas a partir do século XVI já foram superadas,
pela perspectiva de que somos uma só raça humana.
Portanto, vamos deixar claro: não existem “raças humanas”,
nossa constituição genética indica que somos uma única
raça humana. Corroborando essa afirmação, Flores (2008)
escreve:
As mais recentes pesquisas dos especialistas no
assunto, os geneticistas, demonstram que nos genes
não se comprovam as teorias das raças humanas. A
genética, com vigor para se tornar a principal ciência
do século 21, tem afirmado que não há motivos para
acreditar que a espécie à qual pertencemos, Homo
sapiens, possa ser dividida em grupos biológicos
distintos e separados. A diversidade biológica é,
incomparavelmente, pequena quando analisada
com as experiências e as situações ambientais e
culturais. Por isso, quando afirmamos que as raças
não existem, queremos chamar a atenção para o
fato de que somos todos parentes e também somos
todos diferentes. Assim, a palavra raça será tomada aqui a partir de uma
perspectiva sócio-histórica, segundo preconizam as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
aprovada em junho de 2004 pelo Ministério da Educação:
É importante destacar que se entende por raça a
construção social forjada nas tensas relações entre
brancos e negros, muitas vezes simuladas como
harmoniosas, nada tendo a ver com o conceito
biológico de raça cunhado no século XVIII e hoje
sobejamente superado. Cabe esclarecer que o
termo raça é utilizado com frequência nas relações
sociais brasileiras, para informar como determinadas
características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo,
entre outras, influenciam, interferem e até mesmo
determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no
interior da sociedade brasileira (Brasil, 2004).
Portanto, podemos assumir o uso do termo raça quando
quisermos nos referir aos aspectos físicos (à aparência exterior
herdada e transmitida hereditariamente), que mostram
repercussões negativas nas relações entre brancos e negros, ou
seja, quando for necessário demonstrar as tensões existentes a
partir das diferenças na cor de pele, olhos, tipos de cabelo etc., a
partir de um padrão estético branco e europeu, que estabelece
também relações de dominação.
Complementando essa concepção, contemplamos também
a problemática de raça sob uma perspectiva política, ou seja, a
partir do uso que os movimentos negros fazem desse termo nas
lutas contra o racismo e contra toda forma de discriminação.
Vejam o que diz a militante do movimento negro Nilma Bentes
(apud Munanga e Gomes, 2006, p. 176): cultural produzida no interior das relações sociais e de
poder ao longo do processo histórico. Não significa, de
forma alguma, um dado da natureza. É no contexto
da cultura que nós aprendemos a enxergar as raças.
Isso significa que aprendemos a ser negros e brancos
como diferentes na forma como somos educados e
socializados a ponto dessas ditas diferenças serem
introjetadas em nossa forma de ser e ver o outro, na
nossa subjetividade, nas relações sociais mais amplas.
(...) É preciso, portanto, saber em que situação, por
que, para que e por quem está sendo utilizado o
conceito raça, para distinguir seu significado. Temos
que distinguir se a conotação empregada lhe atribui
um caráter negativo e racista, ou se está sendo
atribuído um caráter positivo para a compreensão da
história e o reconhecimento da presença do negro em
nossa sociedade.
Percebam que, aqui, a ênfase é dada nas circunstâncias em
que o conceito raça é utilizado, se positiva ou negativamente,
daí o uso político do termo pelo movimento negro para definir os
anseios e lutas dos negros na sociedade brasileira. Dessa maneira,
de forma corrente, a palavra raça acabou sendo fortemente
associada aos negros no Brasil, a despeito da presença de
outros grupos em nossa população. Isso mostra a apropriação
política que o conceito acabou sofrendo pelo movimento negro
brasileiro.
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