Romantismo. Contextualização histórica na Europa
Pesquisas Acadêmicas: Romantismo. Contextualização histórica na Europa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 27/2/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 2.245 Palavras (9 Páginas) • 671 Visualizações
Romantismo
Contextualização histórica na Europa:
O final do século XVIII presenciou a ascenção da tipografia, inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o desenvolvimento da impressão em grandes quantidades de jornais e romances. No início, os romances eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia um novo capítulo da história era revelada. Esse esquema, importado para a colónia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem às telenovelas que conhecemos nos dias de hoje.
Assim, com a Revolução da Imprensa, uma das principais características do período Moderno, houve também a ascenção dos romances impressos, popularizando o artefato (o livro já não era considerado um artigo de luxo, inacessível) e proporcionando um largo alcance da literatura às camadas inferiores da sociedade e também às mulheres, que raramente tinham acesso às letras e, quando muito, eram alfabetizadas.
Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774. Foi também na Alemanha que se assistiu às primeiras manifestações românticas organizadas “Sturm Und Drang”. Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a Revolução Francesa, responsável pela difusão dos pensamentos Iluministas na Europa e nas suas colônias, que tanto inspirou os poetas árcades brasileiros.
Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a ideologia defendida por seus autores.
Contextualização histórica em Portugal:
Em Portugal o Romantismo durou cerca de 40 anos 1825 a 1865. A Invasão de Napoleão fez com que a corte portuguesa fugisse para o Brasil. Absolutistas versus Liberais. D. Pedro IV foi defensor de uma constituição liberal e seu irmão D. Miguel defendia idéias absolutistas. Por isso D. Pedro reuniu um exército para enfrentar seu irmão. Independência do Brasil. D. Pedro IV declara a independência do Brasil e proclama-se imperador, como D. Pedro I.
Em Portugal, o Romantismo começou com a publicação do poema Camões, de João de Almeida Garrett. Escrito no momento em que o país se encontrava sob domínio inglês e enfrentava graves perturbações políticas, o poema tenta resgatar o passado e o orgulho do povo português.
O movimento romântico português durou quatro décadas e teve três períodos diferentes, cada um com uma geração particular de autores.
Primeira geração: empenhada em implantar o Romantismo em Portugal, apresenta ainda influências neoclássicas e certa preocupação com questões históricas e políticas. Entre seus autores, destacam-se João de Almeida Garret e Alexandre Herculano - cujas produções tendem ao subjetivismo extremado, ao medievalismo, ao nacionalismo e à idealização da mulher.
Segunda geração: consolida o movimento romântico em Portugal. Caracteriza-se pelas ideias do "mal do século": negativismo, morbidez e sentimentalismo exagerado. O principal autor dessa tendência é o romancista Camilo Castelo Branco, autor de estilo passional e pitoresco.
Terceira geração: livre dos exageros ultra-românticos, apresenta espontaneidade lírica e musical. Sobressaem-se nesse período a poesia de João de Deus e a prosa de Júlio Dinis.
Termina em 1865 com a Questão Coimbrã, um “debate” entre os defensores do status quo, desatualizados em relação à cultura europeia e os jovens que tinham assimilado ideias novas. No entanto diversos autores românticos publicaram as suas obras com sucesso depois desta data, tal como Camilo Castelo Branco.
Características:
Subjetivismo: o autor trata os assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o que sente, aproximando-se da fantasia.
Sentimentalismo: exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é permitido.
Culto ao fantástico: a presença do mistério, do sobrenatural, representando o sonho, a imaginação; frutos da pura fantasia, que não carecem de fundamentação lógica, do uso da razão.
Idealização: motivado pela fantasia e pela imaginação, o artista romântico passa a idealizar tudo; as coisas não são vistas como realmente são, mas como deveriam ser segundo uma ótica pessoal.
Egocentrismo: cultua-se o "eu" interior, atitude narcisista, em que o individualismo prevalece; microcosmos (mundo interior) X macrocosmos (mundo exterior).
Escapismo psicológico: espécie de fuga. Já que o romântico não aceita a realidade, procura modos de refugiar-se, por exemplo, no passado, no sonho ou na morte.
Liberdade de criação: O escritor romântico recusa formas poéticas, usa o verso livre e branco, libertando-se dos modelos greco-latinos, tão valorizados pelos clássicos, e aproximando-se da linguagem coloquial.
Medievalismo: há um grande interesse dos românticos pelas origens de seu país, de seu povo. Na Europa, retornam à idade média e cultuam seus valores, por ser uma época obscura.
Condoreirismo: corrente de poesia político-social os autores defendem a justiça social e a liberdade.
Nativismo: fascinação pela natureza. Muitas vezes, o nacionalismo romântico é exaltado através da natureza, da força da paisagem.
Luta entre o liberalismo e o absolutismo: poder do povo X poder da monarquia. Até na escolha do herói, o romântico dificilmente optava por um nobre. Geralmente, adotava heróis grandiosos, muitas vezes personagens históricos, que foram de algum modo infelizes: vida trágica, amantes recusados, patriotas exilados.
Byronismo: atitude amplamente cultivada entre os poetas da segunda geração romântica e relacionada ao poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar um estilo de vida e uma forma particular de ver o mundo; um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do sexo. Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, pessimista, angustiada e, por vezes, satânica.
Religiosidade: como uma reação ao racionalismo materialista dos clássicos, a vida espiritual e a crença em Deus são enfocadas como pontos de apoio ou válvulas de escape diante das frustrações do mundo real.
Nacionalismo (também denominado patriotismo): é a exaltação da Pátria, de forma exagerada, em que somente as qualidades são enaltecidas.
Pessimismo: também conhecido como o "mal-do-século". O artista vê-se diante da impossibilidade de realizar o sonho do "eu" e, desse modo, cai em profunda tristeza, angústia, solidão, inquietação, desespero, frustração, levando-o, muitas vezes, ao suicídio, solução definitiva para o mal-do-século.
Fusão do grotesco e do sublime: o romantismo procura captar o homem em sua plenitude, enfocando também o lado feio e obscuro de cada ser humano.
Importância do Sebastianismo
Almeida Garrett, escritor de características arcádicas e românticas, do início do século XIX, é autor de algumas das obras fundamentais da Literatura Portuguesa, entre as quais Viagens na Minha Terra é o expoente máximo. Trata-se de um olhar crítico da sociedade portuguesa, com descrições deliciosas sobre a nobilitação de muitos burgueses que outrora haviam desdito das práticas da Nobreza e, afinal, acabaram por conhecer o mesmo fim...
Em Frei Luís de Sousa, o mito sebastianista está bem presente. A história da peça aborda uma autêntica catástrofe que se abateu sobre a vida de uma família nobre do final do século XVI. Tem como característica peculiar o facto de todas as personagens assumirem, ao longo do enredo, posições coerentes e de uma grande dignidade, pelo que é difícil definir quem é a personagem principal, da mesma forma que, no final, perante tão graves consequências de toda a tragédia abatida, surge no leitor uma sensação de profunda injustiça.
De uma forma resumida, o enredo é o seguinte: D. João de Portugal, um nobre muito respeitado na sociedade, desapareceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, por sinal a mesma na qual o rei D. Sebastião perdeu a vida. Contudo, a morte de D. João de Portugal nunca foi provada, passando-se exactamente o mesmo com D. Sebastião.
Entretanto, a mulher de D. João de Portugal, D. Madalena, esperou sete anos pelo marido, uma espera que se revelou infrutífera. Pese ter casado com D. João de Portugal, a meio da peça o leitor dá-se conta do facto de ela nunca o ter amado verdadeiramente. Pelo contrário, o homem que amava era Manuel de Sousa Coutinho, um português fiel aos valores patrióticos e inconformado com o domínio espanhol, que se vivia na altura em Portugal (1599).
Tomando uma atitude corajosa, Manuel e Madalena vão desafiar a sorte (hybris), casando sem ter a certeza da morte de D. João de Portugal. E aí começa a verdadeira dimensão trágica desta peça magistralmente gizada por Garrett: realmente, tudo apontava para uma alta improbabilidade da hipótese de D. João de Portugal ainda estar vivo e mesmo a sociedade via com bons olhos o casamento entre Manuel e Madalena. O casal teve uma filha, D. Maria de Noronha, uma jovem muito especial, culta, adulta, mas simultaneamente criança e fisicamente débil. Ora, aqui surge o grande drama da acção: caso D. João de Portugal, por uma possibilidade trágica, ainda estivesse vivo, Maria era uma filha ilegítima, o que, para a sociedade da época, era um pecado muito grave.
Temendo a catástrofe, D. Madalena tem constantemente premonições trágicas, as quais vão ser concretizadas com a chegada de um Romeiro, que diz vir da Terra Santa e querer falar com Madalena. Ao revelar a sua identidade, uma série de consequências irão advir. Mostrando uma dignidade tocante, Manuel de Sousa Coutinho rende-se ao destino cruel e vai professar, juntamente com Madalena. Maria, a filha, revoltar-se-á contra uma sociedade retrógrada que, por uma questão meramente formal, passou subitamente de aprovadora para acusadora: «Vós quem sois, espectros fatais?... Quereis-mos tirar dos meus braços?... Esta é a minha mãe, este é o meu pai... Que me importa a mim com o outro, que morresse ou não, que esteja com os mortos ou com os vivos...» De nada lhe valeu a revolta, antes pelo contrário. O seu rótulo de ilegítima custar-lhe-á a morte por vergonha.
Outros aspectos igualmente interessantes poderiam ser referidos e ajudariam à compreensão desta magnífica peça - nomeadamente o papel de Telmo Pais. Todavia, importa realçar que por toda a obra perpassa um carácter sebastianista.
Almeida Garrett – Vida e Obra
Nome completo do escritor: João Batista da Silva Leitão de Almeida.
Nasceu no Porto em 1799 e faleceu em Lisboa em 1854.
O apelido irlandês está na genealogia da família: Garrett é o nome da sua avó paterna, que veio para Portugal no séquito de uma princesa.
A obra “ frei luís de Sousa” concentra-se no período da vida de Manuel de Sousa Coutinho imediatamente antes do seu ingresso, juntamente com a esposa D. Madalena de Vilhena, na vida monástica: um seu biógrafo atribuiu essa decisão ao facto de o primeiro marido de D. Madalena, D. João de Portugal, tido por morto na Batalha de Alcácer Quibir, estar ainda vivo e ter regressado a Portugal, tornando ilegítimo o casamento de D. Manuel e bastardos seus filhos. Garrett acentua o carácter dramático desta situação, dando ao casal uma única filha adolescente, Maria de Noronha, e um aio ainda dedicado à figura do seu velho amo, D. João de Portugal. O desfecho trágico é desencadeado pelo nacionalismo de Manuel de Sousa Coutinho, que prefere pôr fogo ao seu palácio a nele acolher os representantes da opressão espanhola e se vê forçado a tomar residência no antigo paço que fora de D. João de Portugal; este regressa ao antigo lar, disfarçado de romeiro, e confirma as apreensões de D. Madalena ao se identificar com o retrato de D. João. Os esposos adúlteros, falecida a filha, decidem ingressar na vida religiosa.
A cronologia da vida de Almeida Garrett :
1799 – Almeida Garrett nasce no Porto.
1809 – Parte para a ilha Terceira por causa das invasões francesas. Aí recebe de um tio, bispo de Angra do Heroísmo, uma educação religiosa e clássica.
1816 – Matricula-se no curso de Direito em Coimbra. Adere às ideias liberais e começa a escrever algumas peças de teatro.
1820 – Escreve a tragédia Catão, representada em Lisboa no ano seguinte.
1821 – Já formado, casa com Luísa Midosi e publica o Retrato de Vénus, que lhe valeu um processo judicial e um julgamento de que foi absolvido.
1823 – Com a Vila-Francada, exila-se em Inglaterra, onde contacta com a literatura romântica (Byron e Walter Scott).
1824 – Parte para o Havre, em França, como correspondente.
1825 – Publica em Paris Camões.
1826 – Publica ainda em Paris D. Branca.Regressa a Portugal após a outorga da Carta Constitucional, dedicando-se ao jornalismo político.
1828 – Exila-se de novo em Inglaterra devido à aclamação de D. Miguel.
1830 – Inicia a compilação do Romanceiro.
1832 – Integra-se no exército liberal de D. Pedro IV, desembarca no Mindelo e participa no cerco do Porto, escrevendo aí a primeira pare do Arco de Santana.
1834 – Após a guerra civil, Almeida Garrett é nomeado cônsul geral em Bruxelas. Estuda a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe).
1836 – Regressa a Portugal e separa-se de Luísa Midosi, que em Bruxelas o teria traído. Passos Manuel encarrega-o de reorganizar o teatro nacional, nomeando-o inspector dos teatros.
1837 – Perde o cargo de inspector dos teatros por demissão de Passos Manuel. Apaixona-se por Adelaide Deville, que morrerá em 1841 e de quem terá uma filha, Maria Adelaide.
1838 – Publica Um Auto de Gil Vicente.
1841 – Publica O Alfageme de Santarém.
1842 – Costa Cabral instaura um governo de ditadura, contra o qual Garrett luta na oposição parlamentar.
1843 – Escreve o drama Frei Luís de Sousa que será publicado no ano seguinte. Começa também a escrever o romance Viagens na Minha Terra, que publica em folhetins na Revista Universal Lisbonense.
1845 – Publica o romance Arco de Santana e a colectânea de poemas Flores sem Fruto. Inicia-se a paixão por Rosa Montufar, a Viscondessa da Luz.
1846 – É publicado em dois volumes o romance Viagens na Minha Terra.
1850 – É representado no Teatro Nacional o drama Frei Luís de Sousa.
1851 – É nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros e recebe o título de Visconde e Par do reino. Conclui a compilação do Romanceiro.
1853 – Publica Folhas Caídas, colectânea poética que causou escândalo na época.
1854 – Almeida Garrett morre a 9 de Dezembro em Lisboa.
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