TODOS SÃO IGUAIS AOS OLHOS DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Por: renatinha.rnm • 11/6/2019 • Resenha • 836 Palavras (4 Páginas) • 196 Visualizações
SCARANO, Julita.
Devoção e escravidão: a irmandade de N.S. do
Rosário dos Pretos no Distrito Diamantino
no século XVIII
A obra nos apresenta uma das várias facetas que constituiu as
relações sociais na escravidão. Apesar de um campo de estudos sólidos, o
recorte que a autora realiza ao tratar das Irmandades em Minas no século
XVIII, ainda não é suficientemente abrangente. A partir das fontes de
pesquisa utilizadas para a composição da obra, como o Arquivo da
Arquidiocese de Diamantina, Arquivo Histórico Ultramarino e o Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, nos é apresentada uma nova perspectiva: o
homem de cor ao integrar uma Irmandade, encontra-se em uma situação
distinta da que até então lhe era permitida. A condição de escravo, mesmo
que em um pequeno momento, era subvertida, podiam agir então como
“criaturas humanas”.
O livro se divide em quatro partes: “As Irmandades”, indica os
primórdios da relação peculiar entre o poder eclesiástico e temporal, e como
ela agiu de forma a determinar aspectos característicos das confrarias. Um
destes, se dá através do Padroado Régio. O Rei na qualidade de Grão-
Mestre da Ordem de Cristo, é quem recebe o dízimo, que teoricamente
deveria retornar a comunidade na forma de ordenado aos padres ou
construção das igrejas. Porém, o que ocorre de fato é a construção dos
templos pela própria população.
A estrutura das irmandades refletia a sociedade de seu tempo,
“Exigiam de seus membros um sem-número de requisitos como, limpeza de
sangue e obrigatoriedade de não ser assalariado” (SCARANO, 1978,p. 28),
como também a segregação racial entre “brancos puros” e pardos, negros e
pobres. A separação da Irmandade N.S. do Rosário entre homens de cor e
brancos, se deu ainda em Portugal, no entanto, quando esta se estabelece no
Brasil, ganha novos ares. Enquanto em Portugal os brancos foram os quais
resistiram a separação da Irmandade, aqui os homens brancos faziam
questão de se separarem daqueles de cor.
Na segunda parte, “A Irmandade do Rosário no Distrito
Diamantino”, nos é revelada a questão dos sacramentos da Igreja. Como
estes eram imprescindíveis a fé católica, deveriam ser cumpridos por
“todos”. As irmandades aconselhavam que os senhores consagrassem a
alma de seus escravos mortos, dada a mortalidade altíssima, o feito se fazia
praticamente impossível. O batismo era imperioso, não podiam afiliar-se às
irmandades sem ser batizado. O casamento era incentivado entre escravos
do mesmo dono, mas a situação se complicava quando escravos eram de
senhores diferentes. Temos ainda a confissão, e a questão do valor a ser
pago pelos senhores aos padres para o serviço do confessionário de cada
escravo. Penas pecuniárias contra aqueles que não enviassem seus escravos
para se confessarem na Matriz, eram asseveradas pelos padres. A
comunhão, na forma da missa dominical, tornava indispensável o
comparecimento dos cativos, e os senhores que os impedissem, eram
considerados “maus senhores” pelas irmandades. Os sacramentos acabaram
por abrir assim precedente a uma forma de igualdade, mesmo que restrita,
“os escravos e seus senhores ficavam em igualdade de condições, estendidos
de baixo das mesmas tábuas que recobriam o chão da Igreja” (SCARANO,
1978, p.55).
O auxílio mútuo entre a irmandade é notável, verificado através da
mobilização quanto a morte de outros escravos membros, no cuidado com
enfermos, na assistência a velhice, e principalmente na obtenção de
alforrias, quando lhes fosse possível. Surge assim, o impasse da Irmandade
formada por negros
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