Uma Análise Da Sociedade Colonial Brasileira A Partir Da Indumentária
Dissertações: Uma Análise Da Sociedade Colonial Brasileira A Partir Da Indumentária. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Saritaandrade • 15/6/2014 • 2.478 Palavras (10 Páginas) • 525 Visualizações
O FIGURINO DA COLÔNIA: UMA ANÁLISE DA SOCIEDADE COLONIAL BRASILEIRA A PARTIR DA INDUMENTÁRIA
Antes, porém, de nos determos à explanação do vestuário, se faz necessária uma breve contextualização sobre o período historicamente conhecido como Brasil colonial, período este que tem seu início em 1530, quando, devido à ameaça francesa, a colônia passará a ser povoada, e se estende até sua elevação a reino unido de Portugal, que se dá com emancipação política do território brasileiro em 1815.
O período colonial brasileiro está economicamente alicerçado no tripé monocultura, latifúndio e mão de obra escrava, introduzido por Portugal, visando proteger a nova colônia da invasão francesa na forma de capitanias hereditárias, faixas de terra doadas a donatários, que ficariam responsáveis pela proteção, povoamento e por estabelecer o cultivo de cana de açúcar.
É nesse cenário que a sociedade colonial brasileira começa a dar os primeiros passos. Primeiramente, a ocupação portuguesa se deu por degredados, os indesejáveis que Portugal exilava na colônia. A fixação de famílias portuguesas no Brasil se torna significativa apenas na segunda metade do século XVI. São esses primeiros grupos familiares que começam a introduzir na colônia costumes e hábitos europeus, pautados e limitados pela moral católica.
O modo de vestir europeu chega à colônia como sinal de status e poder. Apesar do clima tropical, o vestuário colonial ainda é diretamente influenciado pela moda da metrópole, exibida pelas cortes e nobreza europeia. Artigos de vestuário se faziam caros e escassos, e eram tratados como bens hereditários. Seda, brocados, tafetá e veludo fazem parte da indumentária, indicativos de poder econômico. Os menos abastados exibiam, quando muito, saias e casacos de chita, raxa de algodão, baeta negra ou camisas de cassa grossa, à exceção das escravas de senhoras ricas, que, por ostentação, vestiam-nas com grande opulência.
Não só as roupas, como também penteados e acessórios extravagantes são utilizados pela classe nobre brasileira como forma de distinção e distanciamento de outras classes sociais. No relato do padre Nuno Marques Pereira, conta como aparentavam tais adornos, incômodos e extravagantes.
quando era ainda "bem rapaz" (ele nasceu em 1652), a moda "pata" impunha o cabelo armado com arames; segundo ele, essas armações foram crescendo tanto, “que para poder entrar uma mulher com este enfeite nas igreja necessário que estivessem as portas desimpedidas de gente" (¹)
O clima quente da colônia se faz impor e, alguns acessórios, anteriormente tidos como indispensáveis, como espartilhos e corsets, são negligenciados. O calor e a distância da metrópole faz necessária a adoção de peças menos elaboradas no cotidiano, frente a inexistência de uma indústria têxtil no Brasil.
Com o desenvolvimento da colônia e a criação de um conceito que define a sociedade colonial, alguns dos hábitos de se vestir europeus são abandonados enquanto outros são reforçados, principalmente no curto período que compreende a chegada da Família Real Portuguesa e o início do Brasil Império.
O destoante figurino europeu na colônia
Se se considerar a influencia da corte portuguesa na maneira de vestir europeia, faltarão exemplos a se apresentar. Ao contrário, estava Portugal sujeito a influencias francesas e
inglesas no que diz respeito à indumentária. Assim, o vestuário na colônia é antes o espelho das cortes da França e Inglaterra em detrimento de uma influencia totalmente portuguesa.
A segunda metade de século XVI apresenta na indumentária vigente influencias da Inglaterra, então reinava a Rainha Elizabeth; empregando tecidos pesados, os trajes femininos apresentavam saias volumosas, geralmente precedidas pela anágua (saia usada por baixo do vestido) com pregas largas e generosas e o corpete justo com decote quadrado ou circular. A roupa masculina era composta por casaco, podendo ser longo, até o joelho, ou bem curto, gibão, uma espécie de colete, becas, calções até os joelhos, chapéus achatados e largos, sapatos de couro de sola baixa, e por vezes capas curtas presas ao ombro.
As roupas infantis eram, por vezes, cópias das adultas, quando não consistiam em batas, aventais ou pinafores, geralmente brancos, adequados à idade.
Se nas ruas o contraste entre classes sociais era notável, dentro de casa, diminuía a distância entre a roupa dos senhores e servos. Desleixo e desmazelo se faziam presente entre as senhoras de famílias ricas no interior de suas moradias.
Muitas vezes descalças, ou de chinelos, trajando camisas de finíssima cambraia, por vezes transparente, com as golas tão largas que chegavam a resvalar pelos ombros, deixando, frequentemente o busto à mostra.
Esse desleixo era constantemente visto com maus olhos por viajantes e exemplos da comunidade europeia. A escritora Mary Graham, em passagem pelo Brasil, deixa claro sua desaprovação, quando, ao chegar às casas, se deparava com suas senhoras vestidas de tal maneira.
Dificilmente, poder-se-ia acreditar que a maioria delas eram senhoras da sociedade. Como não usam nem coletes, nem espartilhos, o corpo torna-se quase indecentemente desalinhado logo após a primeira juventude; isto é tanto mais repugnante quando elas se vestem de modo muito ligeiro, não usam lenços ao pescoço e raramente os vestidos têm qualquer manga. Depois, neste clima quente, é desagradável ver escuros algodões e outros tecidos, sem roupa branca, diretamente sobre a pele, o cabelo preto mal penteado e desgrenhado, amarrado inconvenientemente, ou, ainda pior, em papelotes e a pessoa toda com aparência de não ter tomado banho. (²)
Assim também se vestiam os homens dentro de casa, trajando camisolas longas, de tecido leve e, por vezes as ceroulas. Andavam frequentemente descalços, calçando-se apenas para os afazeres que exigiam sua saída às ruas.
Apesar do aparente desleixo desses relatos, a sociedade colonial brasileira não estava livre da moral puritana tão intrinsecamente arraigada na sociedade portuguesa pela Igreja Católica; era, ao contrário muito rígida com as normas de vestimenta, principalmente no que atenta a moral das moças de ‘boa família’.
Sendo a pressão da Igreja nos hábitos de vestir, um mecanismo para assegurar a manutenção do sistema de casamento, que envolvia, a um só tempo, aliança política e econômica, o que tornava a virgindade feminina um elemento fundamental. Funcionando como um dispositivo que manteria o status da noiva, a indumentária feminina deveria ser casta, sem muitos adornos e sem deixar a pele muito
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