A Elevação espiritual da alma em Primero Sueño, de Sóror Juana Inés de la Cruz
Por: StefanySN • 11/12/2017 • Trabalho acadêmico • 662 Palavras (3 Páginas) • 323 Visualizações
A elevação espiritual da alma em Primero Sueño, de Sóror Juana Inés de la Cruz
Não se sabe ao certo qual a data de publicação do poema Primero Sueño; já sua primeira publicação ocorreu em 1692, no segundo tomo de Obras. De acordo com Paz (1998), Primero Sueño não somente relata, como também traz reflexões realizadas pela autora sobre o que é relatado; nele a aventura intelectual de sóror Juana é problematizada.
O poema ambientaliza “a peregrinação de sua alma pelas esferas supralunares enquanto seu corpo dormia” (PAZ, 1998, p. 503). Pode-se observar que, a partir do corpo dormindo, a alma emerge e, partindo para outro plano, passa por determinadas sensações e momentos.
Segundo Paz
em Primero Sueño [sóror Juana] nos conta como, enquanto dormia o corpo, a alma subiu à esfera superior; lá teve uma visão tão intensa, vasta e luminosa, que a deslumbrou e a cegou; reposta de sua ofuscação, quis subir de novo, agora degrau por degrau, mas não pôde; quando duvidava sobre que outro caminho tomar, nasceu o Sol e o corpo despertou. O poema é o relato de uma visão espiritual que termina numa não visão (PAZ, 1998, p. 513).
Pode-se observar, então, que o corpo dorme, repousando, porém a alma mantém-se desperta e mostra-se como algo que tem certa autonomia para, ao desprender-se do corpo, alcançar dimensões que o ser humano comumente não alcança. Nota-se, portanto, um caráter de liberdade atribuído à alma, enquanto o corpo é visto como estático e fixo no momento do sono: El alma, pues, suspensa/ del exterior governo em que ocupada/ em material empleo,/ o bien o mal da eldía por gastado,/ solamente dispensa,/ remota, si de todo separada.
Outra possibilidade é a de compreendermos o momento de desvinculação entre alma e corpocomo o momento de passagem entre a vida e a morte, visto que sóror Juana cria uma atmosfera em que se apresenta, e até se reconhece, como um cadáver, todavia, um cadáver com vida. O sono seria, então, esse momento de passagem entre vida e morte, mas não a morte eterna, e sim a que perdura enquanto o corpo dorme: a los de muerte temporal opresos,/ lánguidosmiembros, sosegadoshuesos,/ los gajes del calor vegetativo,/ elcuerposiendo, em sossegada calma,/ um cadáver com alma/ muerto a la vida y a lamuerte vivo.
Pode-se notar, em Primero Sueño, que há um misto de prazer, assobro e dúvida resultantes do momento em que a alma eleva-se: No de otrasuerteel alma que, assombrada/ de la vista quedó de objeto tanto,/ laatenciónrecogió, que derramada/ endiversidad tanta, aun no sabía/recobrarseasímismadel espanto/que portentoso había/su discurso clamado,/permitiéndole apenas/ de un concepto confuso/el informe embrión que mal formado/ inordinado caos retrataba/ de confusas especies que abrazaba,/ sinorden avenidas,/ sinorden separadas/ que cuanto mas se implican combinadas/ tanto más se disuelven desunidas/de diversidadllenas.
O sonho é um momento que liberta o ser humano, possibilitando que ele tenha, naquele ponto, uma possibilidade de fuga de imagens, acontecimentos ou sensações ruins, visto que seu interior alcança uma espécie de plenitude: El viento sossegado, elcan dormido:/ ésteyace, aquél quedo,/ los átomos no mueve/ com el sussurro hacer temendo leve,/ aunquepoco sacrílego ruído/ violador del silencio sosegado.
Sendo assim, pode-se notar o momento do sonho como poderoso de tal forma, que mostra-se capaz de controlar coisas como o vento e os átomos, e mesmo sendo tão forte, é também tranquilo e acalma, oferecendo descanso ao ser humano e ao seu corpo. Quem sonha fica inerte, passivo, abandonando o mundo material para usufruir de um momento de elevação espiritual.
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