A Figura Do Negro Na Obra De Monteiro Lobato
Pesquisas Acadêmicas: A Figura Do Negro Na Obra De Monteiro Lobato. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Dircemeire • 14/7/2014 • 5.642 Palavras (23 Páginas) • 836 Visualizações
RESUMO
A literatura infanto-juvenil, ou seja, a produção literária concebida especialmente para as crianças e jovens até os quinze anos, tem como seu expoente maior no Brasil o escritor Monteiro Lobato. Entretanto, no primeiro semestre de 2010, a obra de Lobato foi motivo de questionamento, sob a justificativa de conter referências racistas. O presente trabalho tem a pretensão de analisar trabalhos de ataque e defesa à obra lobatiana, produzidos após a publicação do Parecer nº 15 do Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação, traçando um contraponto entre as duas vertentes e contextualizando o que escreveu o autor à sua época e aos tempos atuais.
Palavras chave: infanto-juvenil, racismo, Monteiro Lobato.
ABSTRACT
The children's and teen literature, literary production designed especially for children and young people under the age of fifteen, has as its leading exponent in Brazil the writer Monteiro Lobato. However, in the first half of 2010, Lobato's work was the subject of inquiry, on the grounds contain references racist. This paper purports to analyze works of attack and defense to work “lobatiano” produced after the publication of Opinion nº. 15 National Board of Education, Ministry of Education, drawing a contrast between the two strands and contextualizing what the author wrote the his epoch and in the contemporaneity.
Keywords: children and youth, racism, Monteiro Lobato.
1. INTRODUÇÃO
Os livros para crianças e jovens começaram a ser publicados no Brasil com a criação da Imprensa Régia, em 1808, mas, a literatura infanto-juvenil produzida por autores nacionais só nasce no final do século XIX, de forma tímida e irregular. A produção literária para crianças e jovens conheceu seu apogeu a partir da publicação dos livros de Monteiro Lobato nos anos 1920. Desde então, o autor tem sido onipresente mo letramento dos brasileirinhos.
Entretanto, no primeiro semestre de 2010, o técnico em gestão educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Sr. Antônio Gomes da Costa Neto, questionou a obra de Lobato, sob a alegação de conter citações racistas e apresentou à Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República uma denúncia que alegava que a obra de Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” continha referências racistas.
A denúncia foi protocolada no Conselho Nacional de Educação, o que resultou no Parecer CNE/CEB nº 15/2010, de 1º de setembro de 2010.
O Parecer recomenda em sua análise que
A obra CAÇADAS DE PEDRINHO só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil. Isso não quer dizer que o fascínio de ouvir e contar histórias devam ser esquecidos; deve, na verdade, ser estimulado, mas há que se pensar em histórias que valorizem os diversos segmentos populacionais que formam a sociedade brasileira, dentre eles, o negro.
Após a publicação desse Parecer do Conselho Nacional de Educação estabeleceu-se a polêmica sobre o racismo em Monteiro Lobato, que recrudesceu nos meios acadêmicos e resultou na publicação de diversos trabalhos de defesa e condenação ao autor.
O objetivo do presente trabalho é traçar um pequeno histórico da literatura infanto-juvenil no Brasil, mostrando a importância da obra de Lobato para o crescimento dessa produção. Pretende-se, também, fazer uma análise crítica e comparativa do pensamento dos estudiosos sobre o assunto nos trabalhos escolhidos para servir de referencial para a pesquisa, especialmente aqueles produzidos após a polêmica suscitada pelo parecer supracitado.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Desde o lançamento do primeiro livro escrito por Monteiro Lobato para crianças (A Menina do Nariz Arrebitado – 1920), a obra do escritor tem sido objeto de estudo. Não é possível falar coerentemente em história da literatura infantil brasileira sem falar em Monteiro Lobato.
Em virtude do interesse que a obra de Lobato desperta nas crianças e por serem seus livros poderosos instrumentos pedagógicos utilizados em larga escala por professores no Brasil inteiro, é inegável que possuem o poder de ser aliados ou vilões na formação da identidade e auto-estima de crianças negras ou até mesmo de disseminar o racismo e a rejeição étnico-raciais através dos estereótipos e do reducionismo histórico da cultura em questão.
O ponto de partida para este estudo foi o livro Literatura Infantil Brasileira – História e Histórias, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, que apresenta um histórico da literatura infanto-juvenil desde seus primórdios, mostrando Lobato como alguém que se preocupava com a literatura nacional voltada para crianças:
Em 1921, Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebitado (Segundo livro de leitura para uso das escolas primárias), após ter se preocupado com a literatura infantil, conforme sugere a correspondência trocada com Godofredo Rangel, com quem comenta a necessidade de se escreverem histórias para crianças numa linguagem que as interessasse. (p. 43 – 1984)
A segunda obra a ser abordada é o livro Literatura Afro-Brasileira, no qual Florentina Souza e Maria Nazaré Lima compilaram estudos produzidos sobre a chamada “Literatura Negra”. O projeto foi promovido pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia (CEAO/UFBA) em convênio com a Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura. O capítulo V, de autoria de Ione da Silva Jovino, dedica-se à literatura infanto-juvenil com personagens negros no Brasil. A autora afirma que personagens negros só aparecem na literatura infanto-juvenil brasileira no final da década de 1920 e início da década de 1930, quando o Brasil saía de um longo período de escravidão negro. As primeiras aparições desses personagens, como não poderia deixar de ser, são carregadas de estereótipos e de preconceitos. Ela aponta que:
As histórias dessa época buscavam evidenciar a condição subalterna do negro. Não existiam histórias, nesse período, nas quais os povos negros, seus
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