A Máscara Perfeita
Por: orquidealiang • 15/4/2018 • Artigo • 1.753 Palavras (8 Páginas) • 148 Visualizações
A Máscara Perfeita
Orquídea (Qingxian Liang)
A descoberta da morte da Lili foi sensacional nesta cidade pequena, e o mais estupendo foi a máscara mortuária deixada ao seu lado. Foi a sua própria cara, muito gentil, com os olhos fechados, as pestanas compridas e o sorriso imperceptível. Um ar misterioso envolvia esta máscara. Ninguém entendeu o significado desta obra, sentindo que as carnes se lhe arrepiavam. Por que raio é que uma mulher tão linda e decente que teve um bom emprego e uma boa família se suicidou a esta maneira? O crepúsculo vespertino incidia no corpo morno. Parecia a sua morte um descanso por mais tempo.
Desde que andava na escola primária, Lili era perfeita. Sem falta nenhuma nas aulas, sem nenhum conflito com os outros e conseguiu sempre as boas notas nos exames. Naquela época, normalmente, os outros meninos tinham dores de cotovelo dos alunos assíduos que conquistaram os elogios intermináveis dos professores, e faziam a cama a eles, mas excepto a Lili. A Lili era impecável, sem falha ou defeito em todos os aspectos. Era bonita, tinha os olhos cintilantes como as estrelas. Nunca lhe faltava os seguidores. Era tão simpática e amigável e deu-se aos outros sem queixa. O seu mundo era harmonioso e amoral. Ninguém viu a Lili com raiva à sua volta, era tão suave.
Contudo, ninguém notou a tristeza azeda subjacente a esta perfeição. Quando a Lili voltou para casa, ninguém ia dar as louvações às suas perfeições. A sua mãe faleceu demais cedo. O seu pai estava sempre ocupado com os trabalhos e só dedicou o seu pouco tempo livre à sua irmãzinha doentia. Parecia que a Lili não tinha lugar em sua família. Até o pai iria esquecer o aniversário natalício da Lili. Não foi a culpa da irmãzinha, pois não? Como uma criança precoce e compreensiva, a Lili enterrou todos os seus sentimentos no fundo da alma e fazia-se de não se importar.
Um dia, a Lili conquistou um prémio no concurso de discurso em inglês na escola e foi única menina que conseguiu obter essa honra. Todos diziam parabéns para ela, mas o que ela pensou primeiro era dizer esta notícia ao seu pai o mais cedo possível. Até no caminho para casa, transformou-se na própria esperança da alegria: Papá iria ficar mais embriagado do que eu! As faces iriam inundar-se-lhe de lágrimas de alegria! E até sonhava com os beijinhos. Ela não vivia, ela nadava devagar num mar suave, as ondas levavam-na e traziam-na. Porém, nada do que imaginou aconteceu. Depois de suar os trabalhos, o seu pai regressou para casa, tão extenuado, até que não queria dar muita atenção ao que a filha disse. Nenhum hurra, nenhum beijo, só forçou um sorriso à sua filha querida. Qual a sua frustração quando recebeu a resposta como assim. Decepcionada, a Lili fechou-se no seu quarto e chorou. Mas em breve a esperança de novo tomava-lhe. Mesmo assim, o seu pai sorriu. Foi o reconhecimento dado pelo seu pai. “Preciso de dar mais esforço e ser mais excelente.”A Lili achou. Portanto, daqui em diante, ela ficou mais trabalhada e evitou-se cair nos erros, quer na escola quer em casa, o que foi quase impossível para outras crianças.
A Lili não foi alegre, mas creio que fosse contente. Os sorrisos do pai foram os motores da vida dela. Tudo ela fez só para agradar o seu pai. Ainda que os pressões do estudo surgissem e causassem as insónias a ela, resignou-se a tudo. “Nunca sofro de stress pois não tenho tempo para pensar nisso.”
Tudo correu com sucesso. Formou-se em Economia da melhor universidade do país e conseguiu um feliz porvir. Todos estariam sujeitos a pecar menos a Lili que era incapaz de falhar. Fazer tudo correcto tornou o seu hábito. Existia simples a elegância no trato, no falar, no andar, o primor na maquilhagem, no vestido, no penteado, a perfeição no trabalho, nas relações com os colegas e os superiores. Teve tudo, dinheiro grosso e reputação imaculável. Não sabia se estava contente mas pelo menos estava satisfeita nesta altura. Quando os outros lhe perguntaram o segredo do sucesso, respondeu assim:“Estou sempre com energia e não me sinto cansada.” Para receber o elogio incessante do exterior, ela manteve exigentemente os bons hábitos, comer as comidas saudáveis, fazer exercícios regularmente. Só esqueceu de dizer que para manter sempre assim bem disposta teve de consumir pelo menos 6 copos de café forte e foi para cama com pílulas soníferas. Mesmo assim, ela achou que valeu a pena seguir esta forma da vida. Ficar irrepreensível era útil para esquecer a sua família imperfeita. E achou que as avaliações dos outros orientaram a sua vida perfeita.
Todavia, os elogios do exterior não conseguiu reparar o buraco do seu coração. Às vezes, a inanidade emergiu pouco a pouco, furtivamente. Começou a perceber sentir-se cansada e ficar cada vez mais difícil para se saciar, especialmente depois de assistir aos casamentos dos seus colegas. Agora, as admirações não conseguiam motivá-la como antes. Foi a primeira vez que sentiu a aflição, o perder de fôlego. Talvez precisasse de procurar o suporte novo da sua vida como os sorrisos do seu pai quando era pequena. Talvez fosse um reconhecimento alheio mais espontâneo, mais instintivo, mais incondicional e profundo. Talvez fosse o amor. E desta vez o amor não podia ser provindo da sua família, tinha de buscar à sua própria.
A Lili procurou o amor perfeito com todo o empenho, o que era mais fácil que imaginou. Logo depois, apaixonou-se com um homem impecável. Um homem digno, encantado, com bom trabalho e boa escolaridade como ela. Eram tão parecidos. E desta vez, prendia-a apertadamente a seu homem correcto. Fez-lhe as surpresas, comprou-lhe o relógio mais caro, deu-lhe os imensos beijinhos e contou-lhe as intensivas palavras doces. A nossa Lili transformou-se numa lutadora e enfim, venceu-o.
Casaram-se dois meses após da criação do relacionamento. O casamento foi quase mais-que-perfeito. Tudo foi feito consoante o que ela quisesse, como as cenas mais românticas apresentadas na televisão, cinema e outros meios de comunicação. Esplêndida como a rainha, a Lili era de inveja de todos os convidados. O noivo jurou-lhe amor eterno e ela acreditou tudo o que disse. “Sinto-me a noiva mais feliz no mundo!” Era a verdade, a felicidade fez-lhe vir as lágrimas aos olhos.
Finalmente encontrou um porto seguro depois de trabalho pesado. A vida depois do casamento também foi ideal. Ela nunca queixou-se as imperfeições do parceiro como os colegas, porque não existiam. Não houvesse nenhuma das brigas, discussões, impaciências no seu casamento. Sentiu-se tão feliz até se desembaraçou das insónias. Só que às vezes, acordou de uns pesadelos em que voltava à sua infância fechada-se no seu quarto, sozinha e perdida. Inquietamente, virou-se para o homem que dormia e refugia-se no calor dele. Sentia-se mais segura. De repente, passou a ter sérias ameaças de não ter um final feliz. Surgiu o medo do fracasso e abandonado. Talvez os pesadelos insinuassem a instabilidade dos seus relacionamentos. Sabia muito bem que a sedução do seu marido era irresistível para qualquer mulher. Ficou tão preocupada e levantou-se. Tirou furtivamente o telemóvel do saco do seu marido e escrutinou tudo, mas nada equívoco.
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