A Poesia Palaciana
Por: vinilferreira • 21/6/2015 • Resenha • 876 Palavras (4 Páginas) • 396 Visualizações
Fichamento do Texto “A Poesia Palaciana na Dupla Vocação do Convívio e do Espetáculo” de Cristina Almeida Ribeiro
Em 1516, Garcia de Resende, publicou sua obra Cancioneiro Geral, repertório da poesia palaciana produzida na corte portuguesa desde o reinado de D.Afonso.
Reunidos em volume, os poemas tinham como função, naquele momento de enaltecer discretamente o poder centralizador do Rei.
No texto preliminar, Resende justifica o trabalho que foi imposto pela necessidade de preencher uma lacuna cultural, incentivando assim sua total eliminação.
Acreditando que a poesia é como uma guerra, Resende eleva os escritores nacionais acima de todos os outros. Essa crença na superioridade portuguesa, aparecem também nas palavras finais de Resende, onde surgem necessidades como o registro de feitos memoráveis, o serviço do rei e o incentivo aos escritores, além de limitações.
Pode dizer-se, resumidamente que, ao compilador do Cancioneiro Geral foi atribuída uma dupla função: registrar as obras e estimular a produção de outras de maior fôlego e profundidade, que conservem a memória dos grandes feitos dos heróis nacionais. Além disso, deviam assegurar a perpetuação do nome dos poetas, seus cantores e dos reis que os patrocinavam.
Preocupado com a necessidade de um acervo de composições que possa rivalizar com o reunido em Castela por Hernando del Castillo, Garcia de Resende deixa-se nortear por critérios nos quais a quantidade triunfa da qualidade.
Nem sempre é clara a organização dos textos do Cancioneiro Geral, ao menos para compreendermos se o autor utilizou uma ordem cronológica ou simplesmente reuniu as peças autor a autor.
Após a morte de D. Dinis, os poetas passaram por um período de silêncio, agravado pela crise política do final do século XIV e pela orientação expansionista subsequente.
Quase 10% dos textos do Cancioneiro Geral são escritos em castelhano, afirmando o desejo de uma comunidade cultural alargada, fortalecida pela cumplicidade das referências comuns.
As circunstâncias que descrevem a atividade poética favorecem a multiplicação das vozes por ela convocadas e muitas vezes provocadas por um objeto único.
A poesia está integrada num contexto social de lazer, convívio e festa, chamando para si a possibilidade de preencher a necessidade do lúdico experimentada pelo homem.
A poesia como motivo de divertimento segue três tendências: visualizar de maneira satírica o mundo concreto; construir-se em torno da subordinação de motes, propostos pelas damas ou por outros interventores nos certames poéticos; prender-se a questões de ordem formal e no respeito a regras.
Abandonada a cantiga paralelística, que constituiu o núcleo fundamental da poesia dos trovadores, a preferência nesse momento se divide entre a cantiga e o vilancete, ao lado dos quais se cultivava também a esparsa e as trovas.
A esparsa, importada da Provença, é uma composição monostrófica, constituída por um pequeno número de versos que oscila entre oito e os dezesseis.
Ja a cantiga é, assim como o vilancete, uma composição sujeita a mote. Enquanto a cantiga consta de um mote de quatro ou cinco versos seguido de uma glosa de oito ou dez, o vilancete apresenta um mote de dois ou três versos e uma glosa de sete.
As trovas são constituídas por um número variável de estrofes uniformes, em geral oitavas, não necessariamente isométricas.
Independente da forma poética cultivada, o metro preferido é sempre o de redondilha maior, `as vezes unidos , em textos compostos por estrofes heterométricas, com o de redondilha menor ou com seu quebrado, resultando dessas combinações , interessantes efeitos rítmicos.
O Cancioneiro Geral é dominado pela presença do amor como tema principal. Atravessado por motivos recorrentes que o trabalham internamente, o lirismo amoroso se diversifica em função do louvor da amada, do lamento pela indiferença desta, da nostalgia provocada pelo apartamento, do despeito suscitado pela preferência dada a um rival, da pulsão de morte ativada pelo desengano e etc.
...