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Analise do Poema "Amor é fogo que arde sem se ver"

Por:   •  14/10/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.097 Palavras (9 Páginas)  •  4.140 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

CAMPUS GARANHUNS

GABRIEL SEVERO DA SILVA

ANÁLISE DO SONETO “AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER” DE LUÍS VAZ DE CAMÕES

GARANHUNS - PE

2019

GABRIEL SEVERO DA SILVA

ANÁLISE DO SONETO “AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER” DE LUÍS VAZ DE CAMÕES

GARANHUNS - PE

2019

ANÁLISE DO SONETO “AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER” DE LUÍS VAZ DE CAMÕES

Gabriel Severo da Silva[1]

Resumo: O soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões, foi analisado à luz das explicações de Marnoto (2011), este soneto trata de um conceito do amor baseado na concepção do amor platônico, pois, acentua-se o dualismo platônico entre sensível e inteligível, matéria e espírito, finito e infinito, mundo e Deus. Neste trabalho foi feito a análise do poema, a estrutura da obra e o significado da mesma. Este soneto é uma definição poética do amor, Camões tenta definir este sentimento que é praticamente impossível de se explicar, colocando imensos contrastes e metáforas para caracterizar este “mistério”.

ANÁLISE

Amor é fogo que arde sem se ver é um soneto de Luís Vaz de Camões, um dos maiores escritores da literatura português. Autor de Os Lusíadas, maior poema épico da língua portuguesa. Camões nasceu em 1524 e morreu em 1580 em Lisboa.

O tema deste poema é desenvolvido por meio de um sistema lógico de raciocínio, explicado por Aristóteles, chamado silogismo que consiste em desenvolver uma ideia por meio de afirmações chamadas preposições que levam a uma conclusão lógica. No poema de Camões, as proposições são feitas nos dois quartetos e no primeiro terceto, sendo a última estrofe a conclusão do silogismo.

Camões usa a antítese no desenvolvimento de seu soneto. A antítese é uma figura de linguagem onde se busca a aproximação de ideias opostas. Deste modo, ele consegue aproximar coisas que parecem distantes para explicar um conceito tão difícil de se explicar como o amor.

“Amor é um fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,

é dor que desatina sem doer”.

Na primeira estrofe, podemos observar que essas ideias opostas também estão unidas por uma ideia de causalidade: primeiro o fogo, que causa a ferida e que leva à dor. Essa relação ajuda a unir ainda mais a premissa do poema e a entender a imagem que Camões passa do amor.

Por meio da aproximação dos opostos, o poeta nos traz uma série de afirmações sobre o amor que nos parecem contraditórias, mas que são ligados à própria natureza desse sentimento.

“É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder”.

Na segunda estrofe do poema, ainda há a aproximação de ideias opostas, mas, dessa vez, de maneira ao alcançar um “estado máximo”: “não querer mais do que”, “nunca” e “ganhar” são ideias com sentidos absolutos, que mostram a força desse sentimento. “É um não querer mais que bem querer”. Neste trecho do poema, o eu-lírico tenta não querer a companhia da pessoa amada, pois ele acredita estar sendo inconveniente, mas ao mesmo tempo sente a necessidade de estar ao lado da pessoa a todo momento.

É querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor; 
É ter com quem nos mata, lealdade.

        “É querer estar preso por vontade”. Neste verso pode-se entender que o eu-lírico está “preso” no amor, porém ele está nessa condição por vontade própria. Isso porque o amor nos liga à pessoa amada, como que nos prendendo a ela. Mas a pessoa apaixonada não se importa em estar preso ao outro, na verdade, ela gosta e quer mais.

        “É servir a quem vence, o vencedor”. Podemos entender que o amor é o próprio vencedor servindo a quem ele venceu. Mas como podemos definir isso? Nesse verso, Camões utiliza da metáfora para reafirmar o seu ponto de vista sobre o amor: um sentimento contraditório, cheio de paradoxos e contrário a si mesmo.

        “É ter com quem nos mata, lealdade”. Sobre este trecho, Marnoto (2011) explica:

“A associação entre amor e morte é tensão fundacional do estado de enamoramento, no plano cultural, literário ou psicanalítico. O complemento direto, lealdade, é posposto, por hipérbato assinalado através de vírgula. Paradoxalmente, a pulsão destruidora própria do estado de enamoramento coexiste com uma dedicação que o perpetua”.

Por meio das antíteses, nessa estrofe o poeta explora um tema muito comum nas cantigas: a guerra. Neste verso, Camões aproxima o amor às tradições medievais, mas, para ele, o amor é como um inimigo ao qual desejamos nos unir com todas as forças.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.

Nessa última estrofe, a ideia que é apresentada é exatamente a da maravilha da possibilidade de dualidades do amor, que ao mesmo tempo que é doloroso, também é prazeroso.

ESTRUTURA DA OBRA

O poema de Camões é caracterizado como um soneto. O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro estrofes: os dois primeiros com quatro versos (quartetos) e os últimos com três versos (tercetos). A estrutura costuma ser a mesma. Começa com a apresentação de um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém uma conclusão que esclarece o tema.

O poema de Camões segue a fórmula do soneto clássico. É decassílabo, o que significa que contém dez sílabas poéticas em cada estrofe. A sílaba poética, ou sílaba métrica, se diferencia da gramatical porque ela é definida pela sonoridade. A contagem das sílabas em uma estrofe termina na última sílaba tônica. 

/A/mor/ é/ fo/go/ que‿ar/de/ sem/ se/ ver/,

1     2    3   4   5         6      7     8     9   10

/é/ fe/ri/da/ que/ dói/, e/ não/ se/ sen/te;

1  2   3   4    5      6    7    8     9   10   x

/é/ um/ con/ten/ta/men/to/ des/con/ten/te,

...

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