Análise Da Obra A Paixão Segundo GH
Exames: Análise Da Obra A Paixão Segundo GH. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Sfernandes • 27/4/2013 • 1.846 Palavras (8 Páginas) • 1.501 Visualizações
ANÁLISE CRÍTICA DE ASPECTOS RENOVADORES NA EMISSÃO DO MONÓLOGO INTERIOR, ESPACIALIDADE E TEMPORALIDADE NA NARRATIVA MODERNA DO ROMANCE A PAIXÃO SEGUNDO GH, DE CLARICE LISPECTOR
Resumo: este artigo tem como objetivo a apresentação de certos aspectos renovadores na emissão do monólogo interior, espacialidade e temporalidade na narrativa moderna “A paixão segundo GH”, de Clarice Lispector verificando a construção desses aspectos numa narrativa moderna sem início, fim e que permanece aberta e que absorve o mundo exterior pelo mundo da interioridade.
Palavra chave: monólogo interior; espacialidade; temporalidade.
INTRODUÇÃO
O romance moderno obteve um avanço relevante em relação ao mundo exterior partindo para a interioridade, numa tentativa de absorver o mundo exterior pelo “eu”. A partir desse romance não há mais os recursos tradicionais usados no romance psicológico. Não focaliza etapas de um drama, pois cada personagem envolve todo o drama. Há uma nova maneira de criar a realização do espaço, do tempo e da linguagem interior. O romance atual se faz pela movimentação mental das personagens. Deixa para traz a narração em terceira pessoa, focando a narração em primeira pessoa. O romance a paixão segundo GH é pura interioridade, é uma viagem profunda no interior do narrador – personagem, não há evidências concretas de uma história parece mais um sonho. GH procura em si própria, através da introspecção radical a sua identidade e as diversas razões de viver, sentir e amar. A obra não tem começo, não possui um término, muito pelo contrário ela permanece aberta.
MONÓLOGO INTERIOR
O monólogo interior é, então, a técnica usada na ficção para representar o conteúdo e os processos psíquicos do personagem, não é obrigatoriamente, aliás, raramente é uma expressão do pensamento mais íntimo situado mais próximo ao inconsciente. É parcial ou inteiramente inarticulada, pois representa o conteúdo da consciência em sua fase incompleta, antes de ser articulado em palavras deliberadas.(HUMPHREY, 1976, p. 22).
-------------estou procurando, estou procurando.
Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra ? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização, pois não quero me confirmar no que vivi – na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. (LISPECTOR, 2009, p.9).
A obra inicia-se com uma marca de abertura, a qual faz pressupor que ela entrou no meio de um pensamento, ou seja, em um profundo estado de interioridade parecido com um sonho, pois o monólogo de G.H está representando um determinado pensamento da consciência que não foi completado. Através desse pensamento ela passa ao leitor a ideia que está tentando se entender e que ninguém é aquilo que nos informa verdadeiramente, pois no pensamento de G.H um indivíduo não se conhece inteiramente bem, pois todos estão sempre em busca de uma explicação de si mesmo.
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida não saberei onde engastar meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.(LISPECTOR, 2009, p. 9 – 10).
Segundo Mendilow (1972, p.6), a filosofia, a ciência e a arte, ao mesmo tempo que influenciam a maneira do povo pensar e sentir, são, elas próprias influenciadas pelo modo por que este povo vive. A desintegração está ameaçando todas as formas de vida.
Ficamos perturbados e frustrados em nossas tentativas de sintetizar para nós mesmos um novo padrão de vida e pensamento harmônico e estável. Mais uma vez uma nova filosofia coloca tudo em dúvida e um mundo rotro se mostra em pedaços, sem nenhuma coerência. ( MENDILOW, 1972, p. 8).
Esse tripé de estabilidade que G.H menciona trata-se dos fatores históricos, biológico e social. Ela deixou de dar satisfações à sociedade, quer viver, tentar entender-se e, sobretudo ser feliz.
As configurações antigas romperam-se em toda a parte. Oriundas do fluxo que substituiu a fixidez relativa do passado, novas formas cristalizam-se rapidamente, apenas para dissolverem-se mais uma vez no fluir das coisas. A sociedade não mais oferece aparência de uma entidade, mas antes é concebida como um agregado de forças conflitantes. O homem, antigamente, acreditava que havia uma estrutura simétrica que um universo estável em uma série regular de relações. (MENDILOW, 1972, p.7).
ESPACIALIDADE
O classicismo desenvolvera o sentido espacial e concebia a própria literatura em termos de artes plásticas; via o passado como uma crescente acumulação de acontecimentos e estados independentes, completos em si mesmos, que podiam ser colocados, por assim dizer, lado a lado, imobilizados em um meio uniforme para que os curiosos o examinassem, de valor principalmente para fornecer pretextos a aspirações atuais ou futuras, de interesse apenas como um ensinamento para guiar a ação futura, para indicar uma ética ou adornar um conto.(MENDILOW, 1972, p. 4 – 5).
O espaço no romance, A paixão segundo G.H, a espacialidade composta pela imaginação não tem totalidade exterior é figurativa. O espaço é sagrado e está no topo de si mesmo e ao mesmo tempo é apresentado de forma restrita e única.
Olhei a área interna, o fundo dos apartamentos para os quais o meu apartamento também se via como fundos. Por fora meu prédio era b ranco, com lisura de mármore
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