Análise da Personagem Halla A Narradora-protagonista do Romance “A Desumanização”
Por: Milena Cunha • 6/6/2017 • Artigo • 4.806 Palavras (20 Páginas) • 355 Visualizações
Análise da personagem Halla , a narradora-protagonista do romance “A Desumanização”
Por Milena Carneiro da Cunha Silva,
graduanda em Licenciatura em Língua Portuguesa (UFPB)
Resumo
Este artigo pretende analisar a personagem Halla, a narradora -protagonista do romance de língua portuguesa “A Desumanização” (Valter Hugo Mãe,2013), obra pertencente à literatura portuguesa. A análise ocorrerá a fim de perceber como se dá basicamente a construção da personagens no romance, seu universo e identidade, e a complexidade de suas relações através das pistas deixadas pelo autor em todo o enredo da história. Para tanto, basearei a discussão na obra “ A personagem de ficção” de Antônio Cândido e outros (2009),”A Personagem” de Beth Brait” e “O Foco Narrativo”, de Lígia Chiappini Leite(2007), além dos comentários do trabalho “ A vivência do luto da criança e o luto da infância” , de Andrea Catarino e outros(2011).
Introdução
Nos últimos anos a personagem feminina tem ganhado grande espaço na ficção. Seja por um motivo ou por outro, a mulher tem se tornado um elemento ativo nas criações literárias, além das cinematográficas e dramatúrgicas. Personagens como Elizabeth Bennet, de “Orgulho e Preconceito” (1813) e Emma Bovary , de “Madame Bovary”(1857) são exemplos clássicos de como a personagem feminina alcançou status na literatura e como o enredo em que estão inseridas testemunham um avanço na atuação feminina no contexto social literário. É nesse contexto de intensa representação feminina na literatura, que aparece a personagem Halla, personagem principal e narradora do romance “A desumanização” (Valter Hugo mãe, 2013) o qual representa a literatura de um país que vive momentos de transição e autoafirmação: Portugal, país que continua a busca por uma renovação ,após a ditadura e os problemas econômicos que o afastaram do status diante de toda a Europa.. A personagem aparece nesse contexto de intensa atuação feminina na literatura e possui grande importância por trazer à discussão um dos grandes problemas sociais atualmente , que são os problemas psicológicos e as relações familiares que acometem grande parte das pessoas devido às intensas transformações, relações pela qual passa o nosso tempo. Sendo então representante da nossa atual sociedade moderna, de problemas existenciais, abstratos, irresolutos Halla, uma menina de 11 anos que mora com os pais num fiorde islandês e que sofre a angústia de ter que encarar a vida difícil e monótona após a morte de sua irmã gêmea. A personagem traz à discussão o tema do luto e diversos problemas da contemporaneidade sofrem as dificuldades de uma vida infeliz e reprimida. Pretende-se neste artigo, caracterizar de modo básico essa personagem, a fim de entender o seu universo e perceber como ela é construída no enredo em que habita.
Halla: a personagem do romance na visão da teoria
Num romance, segundo Antônio Cândido (2009, p. 51), a personagem aparece como o elemento que dá vida à história; elas vivem o enredo e são a parte dele com a qual o leitor se identifica. Como parte viva da narrativa, a leitura do romance depende, ainda de acordo com Cândido, da aceitação da verdade da personagem por parte do leitor. Sob a visão de Cândido, podemos tecer alguns comentários sobre a protagonista em análise.
A personagem é o elemento mais atuante dos enredos em que vivem mas que só adquirem pleno significado no contexto em que estão inseridas. Justificando e exemplificando essa afirmação do teórico, a protagonista do romance em questão possui em si mesma a grande importância da obra por conduzir a trama em torno de suas reflexões e ações. O enredo do romance “A desumanização” comprova uma intensa verossimilhança do mundo imaginário com a sociedade atual ; Halla vive num enredo em que se o luto após a perda da irmã gêmea acomete toda a família(formada pelo seu e sua mãe e ela apenas) como se fosse uma doença. A vida enlutada e infeliz e de difícil adaptação vai sendo desdobrada relato após relato da narradora-protagonista, demonstrando através de um cenário de depressão e angústias existenciais semelhantes as que pessoas em luto vivem.
Beth Brait afirma que Forster ( um crítico literário) “ encara a intriga, a história e a personagem como os três elementos estruturais essenciais ao romance e trabalha o ser fictício como sendo um entre os componentes básicos da narrativa”. Diante desses comentários podemos perceber que a personagem no romance é um elemento verdadeiramente importante e digno de investigação, e que é um ser que encerra em si mesmo aspectos que realmente constroem o enredo; sem ele o enredo não parece acontecer. As ações de Halla durante o enredo mostram que ela é o foco da narração e suas reflexões sobre a perda da irmã e o desejo sobre fuga e libertação um dos temas que saltam aos olhos em toda a narrativa. É por isso que , ainda de acordo com Cândido, “a personagem é o que torna vivo o enredo”. Daí a importância de seu estudo.
Halla : “a menos morta”
“Andava por ali a ver o vazio das coisas. Porque, sem a Sigridur , tudo perdera o conteúdo.Estava oco.Como se ela fosse o dentro de tudo.” (p. 55)
Halla é a narradora - protagonista de “A desumanização”. Condicionada pelo sofrimento após a morte da irmã gêmea, vive durante toda a narrativa a descrever o impacto emocional desse evento na sua vida e na de seus pais, além de retratar o mundo cinzento, congelado e pacato de seus conterrâneos, os habitantes dos fiordes islandeses, descrição essa com uma característica linguagem simbólica. A menina Halla é caracterizada até mesmo na sua forma de dizer as coisas no romance. Ao contrário de Mariamar, Halla parece ser menos pessimista e mais autônoma. A personagem sobrevive em meio a um problema que nunca acabará: o trauma da perda da irmã gêmea e a vida enlutada por causa disso. As descrições exaustivas de fatos que envolvem a vida da personagem como um todo parecem cansar o leitor, mas a importância dessa abordagem deve-se à necessidade de uma caracterização da situação em que está a protagonista.
Nas idas e vindas, de “A desumanização”, a protagonista vive com um vazio existencial, um sentimentalismo profundo – sendo essa a profundidade da alma humana, a qual apenas os olhos e o silêncio podem talvez dar a conhecer. A cada relato revela-se a complexidade de sua forma de interpretar
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