Aspectos da poesia de Jorge Barbosa
Por: luis999 • 3/4/2016 • Resenha • 885 Palavras (4 Páginas) • 2.252 Visualizações
Aspectos da poesia de Jorge Barbosa
Arquipélago, obra publicada pela primeira vez em 1935 pela Editora Claridade, foi o livro de estréia de Jorge Barbosa e apresentou uma linha inovadora de trabalho poético em Cabo Verde. Nascido na ilha de Santiago, o escritor cabo-verdiano, em vida, publicou também as obras Ambiente, com primeira edição em 1941, e Caderno de um Ilhéu de 1956.
Como os próprios títulos das obras parecem nos indicar, há na poesia de Jorge Barbosa uma marcante presença da complexidade ambiental e do retrato ambiental. Assim, a descrição da ilha e da relação do sujeito com este espaço é um traço muito caro em sua poesia.
“O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!
O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!”
Neste trecho de Poema do Mar, podemos observar, um diálogo da ilha cercada pelo mar com os sentimentos humanos de isolamento, confinamento e distância, somando-se muitas vezes em seus poemas com a ideia da saudade e da solidão, da “esperança na carta de longe/que talvez não chegue mais”.
Ao pensarmos no trabalho da linguagem verificamos neste poema, assim como é preponderante na trajetória literária de Jorge Barbosa, um tratamento simples, em certa medida nos remetendo aos termos prosaicos, aspectos orais e jogo de vozes da dicção do Modernismo Brasileiro.
Com efeito, há na poética do autor muita influência da literatura modernista brasileira. A ideia de nacionalização da escrita trabalhada por grandes escritores brasileiros vinculados ao projeto modernista como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Carlos Drummond de Andrade, foi de muita importância para Jorge Barbosa, que visava, por sua vez, colaborar com o processo de “caboverdianização” da literatura.
Neste sentido, este trabalho com a linguagem simples e preocupação com o retrato ambiental foram elementos de suma importância para o escritor e que caracterizaram sua trajetória na literatura. Havia em Jorge Barbosa, assim como em outros escritores de Cabo Verde, o apreço ao Brasil e identificação com muitas de nossas questões:
"Eu gosto de você, Brasil,
porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
e que a minha terra são
dez ilhas perdidas no Atlântico,
sem nenhuma importância no mapa.
(…)
E o seu povo que se parece com o meu,
que todos eles vieram de escravos
com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar,
ambos cheiros de um sotaque vagaroso,
de sílabas pisadas na ponta da língua,
de alongamentos timbrados nos lábios
e de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflete
A alma das sua gente simples”
Já no início deste poema – Você: Brasil – Barbosa aponta a identificação com nosso país que é “parecido”com sua terra, embora seja um “mundão” e Cabo Verde “dez ilhas perdidas no Atlântico,/sem nenhuma importância no mapa”. O autor aponta nossas semelhanças de origens posto que também somos um povo que em grande parte veio dos escravos com “o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros” e esboça um paralelo entre nossos modos de ver o mundo em que “a alma de nossa gente humilde reflete a alma de sua gente simples”.
Ainda mais, o poeta enfatiza um laço cultural muito forte: o português, nosso idioma em comum. Desta forma relata perceber um falar “português” parecido, “ambos cheiros de um sotaque vagaroso,/de sílabas pisadas na ponta da língua,/ de alongamentos timbrados nos lábios/e de expressões terníssimas e desconcertantes”.
Aqui, é importante darmos atenção ao fato de que Jorge Barbosa, juntamente com Baltasar Lopes e Manuel Lopes, foi fundador da revista Claridade que marcou a produção artística e cultura de Cabo Verde. Remetendo-nos à Semana de Arte Moderna no Brasil, o veículo visava uma renovação alicerçada na defesa das raízes do povo, trabalhando a temática cultural e social, afastando-se, assim, das diretrizes de Portugal e buscando a voz cabo-verdiana.
Havia, portanto, na obra de Jorge Barbosa, ainda que explorando sentimentos humanos universais, um cuidado com a questão da identidade e dos problemas sociais. Esta última, fica evidente neste enxerto do poema Júbilo:
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