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CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL PARA O PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM

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Por:   •  6/12/2013  •  2.441 Palavras (10 Páginas)  •  818 Visualizações

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O presente trabalho procura apresentar algumas contribuições de uma das subáreas linguística denominada de sociolinguística educacional. Essa corrente tem se debruçado sobre vários fenômenos da variação linguística, que ocorre no português brasileiro, vendo suas implicações no processo ensino e aprendizagem da linguagem, sobretudo, em relação ao ensino da Língua Portuguesa no Ensino Fundamental.

Entendemos que o estudo e o conhecimento advindo dessa corrente pode contribuir para melhorar a qualidade do ensino da Língua Portuguesa porque trabalha sobre a realidade linguística dos usuários dessa língua, levando em conta além dos fatores internos à língua (fonologia, morfologia, sintaxe, semântica) também os fatores de ordem externa à língua (sexo, etnia, faixa etária, origem geográfica, situação econômica, escolaridade, história, cultura, entre outros.).

As pesquisas fundamentadas na sociolinguística educacional mostram que é possível desenvolver práticas de linguagem significativas, no sentido de incluir alunos oriundo das classes sociais menos favorecidas, fazendo com esses alunos deixem de se sentir estrangeiros em relação à língua utilizada pela escola, e com isso consigam participar de forma satisfatória das práticas sociais que demandam conhecimentos linguísticos diversos.

Diferentemente dos alunos oriundos das classes mais abastadas, cuja variedade de língua é também a variante de prestígio, e também a que é ensinada na escola, a maioria dos alunos das classes menos favorecidas além de ter que, praticamente, aprender uma nova língua, não têm sua variedade de língua valorizada e muito menos colocada como objeto de estudo na sala de aula. O que se observa é que, muitas vezes, os alunos usuários das variedades populares são discriminados em função da sua maneira de falar.

Por outro lado, as dificuldades que esses alunos apresentam em relação às atividades linguísticas são tratadas como se estas ocorressem em função da falta de capacidade dos alunos, quando na verdade tais dificuldades estão relacionadas ao desconhecimento da escola em relação às variedades linguísticas existentes no Brasil, que tenta trabalhar a língua materna como se esta fosse algo estático, puro, homogêneo, uniforme ou até mesmo intocável como defendem muitos gramáticos. Na verdade, a Língua Portuguesa, como todas as outras línguas humanas, é para ser compreendida como um organismo vivo, heterogêneo, passível de variação e mudança, que sofre a influência de vários fatores linguísticos e não linguísticos. Isto significa que a nossa língua não está pronta, que não é neutra ou mesmo algo inerte que se possa colocar numa forma, mas algo que se encontra em permanente processo de variação, e que expressa a diversidade dos grupos sociais que a falam.

Segundo Labov (1983) (2), a variação existe em todas as línguas naturais humanas, é inerente ao sistema linguístico, ocorre na fala de uma comunidade e, inclusive, na fala de uma mesma pessoa. Isto significa que a variação sempre existiu e sempre existirá, independente de qualquer ação normativa. Assim, quando falamos em Língua Portuguesa estamos falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. E mesmo havendo no Brasil uma aparente unidade linguística e apenas uma língua nacional, é possível observar variação em diversos níveis da estrutura linguística como ilustram os exemplos a seguir: na pronúncia (tia/tchia (3), porta/porrrta, televisão/tElEvisão, festa/feishta REcifi/Recifi/Ricifi), no emprego de palavras (macaxeira/aimpim/mandioca, menino/garoto/guri, você/tu), na morfologia e nas construções sintáticas (eles falam/eles fala, nós falamos/a gente fala, nós fala/a gente falamos, eu quero falá com o pai/quero falar com pai).

Esses são alguns exemplos de variação linguística que não somente identificam os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma comunidade de fala. Isso significa dizer que não existem variedades fixas: em um mesmo espaço social convivem diferentes variedades linguísticas (padrão e não-padrão), geralmente associadas a diferentes valores sociais (PCN 1998).

Porém, não queremos dizer com isso que a variação seja um fenômeno que ocorra aleatoriamente. Vários estudos na perspectiva variacionista (MOLLICA 1992; SCHRRE 1996; entre outros) mostram que a variação é governada por restrições linguísticas e não linguística, que são passíveis de descrição. Por isso, não devemos agir com indiferença diante das produções textuais dos alunos (orais e escritas), que apresentam variação, mas assumir uma atitude natural, o que também não significa que “vale tudo”, significa, sim, que estamos agindo sem preconceito, porém com responsabilidade e sobretudo muito sensibilidade..

Por outro lado, não devemos esquecer que algumas variedades linguísticas são fortemente discriminadas, isto é, tratadas de modo preconceituoso e anticientífico. Não porque essas variedades sejam inferiores ou porque sejam menos elaboradas do ponto de vista linguístico, mas simplesmente porque diferem em alguns aspectos (quase sempre relacionados à forma) daqueles que os gramáticos tradicionais elegeram como sendo o “correto”.

Para trabalhar a variação linguística, o professor deve introduzir, ao mesmo tempo, por um lado, o respeito e a aceitação aos vários falares dos alunos (MOLLICA 1998); e por outro, uma prática de ensino e aprendizagem cujo objeto de estudo sejam os próprios textos dos alunos (orais e escritos). O que também não significa o abandono ao ensino da língua culta, pois esta continua sendo a variante de prestígio, portanto é importante que também seja trabalhada em sala de aula. Além disso, é imprescindível que haja constantemente uma prática de reflexão sobre os usos das diversas variedades linguísticas existentes no País, nos diversos gêneros textuais, tanto na modalidade oral quanto na escrita, para que o aluno saiba que cada uma dessas variedades (padrão e não-padrão) tem seus contextos de uso. Por outro lado, Também é importante que o aluno, ao aprender novas formas linguísticas, particularmente a escrita e o padrão de oralidade mais formal orientado pela tradição gramatical, entenda que todas as variedades linguísticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana. Agindo assim, não somente estamos conscientizando os nossos alunos, enriquecendo os seus dialetos, mas também aumentando o leque de suas possibilidades linguísticas, que associadas aos seus contextos de uso podem tornar esses alunos usuários muito mais conscientes e competentes quanto aos diversos usos da língua.

Tornar os alunos usuários muito mais competentes quanto aos diversos usos da língua, não significa

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