Clarice Lispector: O Ser Humano Por Trás Da Obra

Clarice tinha uma compulsão para se aprofundar na angústia e a cultivava,dramatizava; assim, vida e representação se embaralhavam e se misturavam.No quadro de intensa experiência íntima, a literatura surge como fonte de equilíbrio salvador, que, no entanto, não conseguiu livrá-la de crises, onde abusava de calmantes e a levava a breves e sucessivas internações em hospitais.De origem russa e judaica, houve um choque, um encontro e confronto de culturas.Era uma mulher uma mulher insolúvel e sabia disso.Sua vida pessoal era complicada, permeada pela solidão, pela luta pela sobrevivência, pelo acidente em que queimou partes do corpo....O crítico Tristão de Athayde assim a descreveu; " era marcada pela solidão.marcada pelo grande amor de sua vida.Marcada pela luta constante contra a quase miséria material.Marcada pelas mãos maceradas pelo fogo, em defesa da vida de um filho.E pela sombra da insanidade rondando a vida do outro."Numa primeira visão temos uma imagem de mulher boa, simples e sem mistérios e, na segunda, nos deparamos com um distanciamento respeitoso, cultivado por ela própria, em que, ao isolar-se voluntariamente, cercava-se de uma aura de mistério, permanecendo intocável e favorecendo certas mitificações: belíssima, sobretudo na mocidade; em qualquer época, sedutoramente atraente; anti-socila, esquisita, complicada, difícil, mística, bruxa...Talvez a visão mais radical tenha sido do jornalista Paulo Francis:"Ela me disse diversas vezes que terminaria tragicamente.Converteu-se na sua própria ficção.É o melhor epitáfio possível para Clarice."

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