De Catro a Catro -Breve Introdução
Por: Luís FF • 10/3/2019 • Resenha • 408 Palavras (2 Páginas) • 153 Visualizações
Características
De catro a catro (de quatro a quatro) é o primeiro poemário integramente vanguardista, em concreto criacionista, da literatura galega. Por causa disto, De quatro a quatro converteu-se num fito literário pois achega uma poética diferente daquela outra que consagrava as formas e conteúdos tradicionais, marcando um antes e um depois na história da literatura galega.
Desde a própria perspectiva das vanguardas, vêm-se citando no livro as influências de autores como Vicente Huidobro ou Pierre Reverdy. Em boa medida, é possível sublinhar a presença de um texto fundamental nas concepções poéticas de Manuel António: trata do livro intitulado La poésie d´aujourd´hui, um nouvel état d´intelligence (1921), de Jean Epstein, que o poeta rianxeiro traduziu -ou começou a traduzir- ao galego. A procura do "novo" -para além de toda estética-, o trabalho intelectual por parte do leitor, a ruptura da lógica e a supressão da sequência espaço-temporário são elementos definidos por Epstein e que Manuel Antonio soube incorporar no seu trabalho.
De outra parte, De quatro a quatro amostra igualmente um processo de trabalho da linguagem excepcional: a capacidade por incorporar o léxico marinheiro -mesmo dialectal- a um discurso onde, ao tempo, figuram anglicismos, germanismos... a presença de uma linguagem técnica, inusual na arte poética, dão boa medida do acostumam de preocupação formal por parte de Manuel Antonio.
Estrutura
O livro consta de dezanove poemas que foram escritos nos anos 1926 e 1927 quando o rianxeiro, embarcado no paquebote Constantino Candeira, percorreu as águas do Mediterrâneo e apresenta, pelo mesmo, um fio comum experiencial que se faz patente no subtítulo Folhas sem data de um diário de abordo e na estrutura da obra, já que os poemas estão circunscritos a um âmbito que se abre mediante o primeiro texto, "Intuitos" (em que Manuel Antonio sonha com o que acontecerá nas futuras singraduras), e um último, "Adeus", em que se despede do Constantino Candeira. Esta ideia ver-se-ia reforçada por uma série de poemas que marcariam os pontos da travessia: Travessia, Recala, Navy Bar, Guarda de 12 a 4.
Não obstante, a viagem descrita nas páginas do poemário acaba por ser uma viagem para nenhures. Tal e como se se tratasse de um cosmonauta perdido, aboiando na infinidade do Cosmos, assim o navio de Manuel Antonio paira num mar sem ribeiras nem horizontes e no qual todos os sinais acabam morrendo e perdendo-se nessa própria solidão do "alto mar" (Xosé Ramón Pena) convertido, com efeito, numa "ilha de água rodeada de céu por todas partes".
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