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Demônios

Por:   •  26/5/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.302 Palavras (6 Páginas)  •  823 Visualizações

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Os múltiplos estilos literários no conto Demônios

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar o conto “Demônios”, do escritor brasileiro Aluísio Azevedo. Apesar de ser considerado por muitos um autor naturalista, Aluísio não escreveu apenas obras deste gênero literário. Seu romance de estreia, Uma lágrima de mulher (1880), tem traços do Romantismo. “Demônios” faz parte não apenas do Naturalismo, mas também apresenta características românticas e é uma narrativa fantástica, o que poderemos ver a seguir.

Palavras-chave: Demônios, Literatura Fantástica, Naturalismo, Romantismo, Aluísio Azevedo.

Aluísio Azevedo (1857 – 1913) foi caricaturista, jornalista, romancista e diplomata. O escritor, considerado naturalista, publicou várias obras, dentre elas o conto “Demônios”, lançado no ano de 1891.

“Demônios” foi narrado em primeira pessoa e pode ser considerado um conto híbrido, pois apresenta traços naturalistas, românticos e faz parte da literatura fantástica.

No naturalismo, inspirados pela perspectiva de Darwin, os escritores desta escola literária acreditavam que a existência das espécies se dava graças a seleção natural, e tal inspiração resultava na “animalização” dos personagens das obras. Nessa perspectiva, só os seres mais ‘adaptados’ sobreviveriam, e este é um ponto visível no conto, em que o narrador diz:

Vendo-se perseguida, atirou-se ao chão, a galopar, quadrupedando que nem um animal. Eu fiz o mesmo, e cousa singular! notei que me sentia muito mais à vontade nessa posição de quadrúpede do que na minha natural posição de homem. (...) Quando resolvemos continuar a nossa peregrinação, foi de quatro pés que nos pusemos a andar ao lado um do outro, naturalmente sem dar por isso. (AZEVEDO, 1881, p. 8)

Ainda diante da concepção naturalista, uma das suas características é o comportamento do ser humano, seu lado animalesco e os desejos sexuais, que também podem ser observados em

Laura atirava-se contra mim, numa carícia selvagem e pletórica, apanhando-me a boca e com os seus lábios fortes de mulher irracional e estreitando-se comigo sensualmente, a morder-me os ombros e os braços. (AZEVEDO, 1881, p. 8)

Quanto ao romantismo, podemos destacar no texto de Azevedo a temática do amor e da morte. O narrador-personagem, que não sabemos o nome, deixa bem claro que prefere morrer a viver sem sua amada Laura quando diz que “porque antes, mil vezes antes, morto com ela do que vivo sem a possuir!” (AZEVEDO, 1881, p. 5). A maneira com que ele falava de sua noiva, a idealização da mulher e a decisão que tiveram de morrer juntos são características essencialmente românticas.

Segundo Tzvetan Todorov (2004), “O fantástico é a vacilação experimentada por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente sobrenatural. O conceito de fantástico se define, pois, com relação ao real e imaginário” (TODOROV, 2004, p. 16). A narrativa de Aluísio pode, então, ser considerada uma obra fantástica, pois o texto gira em torno do impossível, da fantasia, de algo inexistente na realidade.

A narrativa começa de maneira descritiva, na qual o personagem principal fala acerca de seu quarto de moço solteiro e da vista que se tem a partir dele. Certa ocasião, ao acordar no meio da noite, o narrador percebe que as coisas não estão muito normais e resolve trabalhar para esperar o sol nascer, e encheu várias páginas de tinta. Nesta parte, podemos observar o uso da metalinguagem, visto que Aluísio Azevedo escreve sobre o ato de escrever:

E páginas e páginas se sucederam. E as idéias, que nem um bando de demônios, vinham-me em borbotão, devorando-se umas às outras, num delírio de chegar primeiro; e as frases e as imagens acudiam-me como relâmpagos, fuzilando, já prontas e armadas da cabeça aos pés. E eu, sem tempo de molhar a pena, nem tempo de desviar os olhos do campo da peleja, ia arremessando para trás de mim, uma após outra, as tiras escritas, suando, arfando, sucumbindo nas garras daquele feroz inimigo que me aniquilava. (AZEVEDO, 1881, p. 2)

Logo após acordar, o personagem percebe, então, que ainda não amanheceu, e se desespera ao ir à janela e avistar a escuridão. “Meu Deus! o nascente continuava fechado e negro; a cidade deserta e muda. As estrelas tinham empalidecido ainda mais (...). Meu Deus! meu Deus, que teria acontecido?!...” (AZEVEDO, 1881, p. 2). Quando percebe o quão surreal eram os acontecimentos, ele começa a se perguntar se teria enlouquecido e põe em dúvida a veracidade dos fatos, afirmando ser apenas uma mera ilusão de sua cabeça.

Após esses acontecimentos, o rapaz tomou coragem e foi checar os outros hóspedes da pensão, e é nesse momento que o mais absurdo acontece: “não encontrava ninguém com vida; ninguém! Era a morte geral! a morte completa!” (AZEVEDO, 1881, p. 3). Lembrou-se então de Laura, e resolveu ir até a casa de sua prometida para verificar se, assim como os outros, ela também havia morrido ou se estava esperando por ele. Outra vez ele idealiza a mulher amada, diz que é para junto da “adorada e virginal criatura” (AZEVEDO, 1881, p. 3) que ele deve ir, e começa a sua peregrinação até ela, imaginando que talvez eles sejam os únicos sobreviventes. “se nós ficássemos os dois sozinhos na terra, sem mais ninguém, ninguém? (...) assistindo, ao som dos nossos beijos de amor, formar-se de novo o mundo, brotar de novo a vida, acordando toda a natureza (...)?” (AZEVEDO, 1881, p. 3).

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