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KIN’EM RAKUGO: OS RAKUGOS PROIBIDOS

Por:   •  18/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.574 Palavras (7 Páginas)  •  259 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE LETRAS

LEONARDO ALVES SANTANA

KIN’EM RAKUGO: OS RAKUGOS PROIBIDOS

CURITIBA 2018

Kin’en rakugo: os rakugos proibidos

Logo após a rendição do Japão em 1945, o general Douglas MacArthur aboliu todos os tipos de censura à liberdade de expressão. Essa decisão pode ser verificada no artigo 21 da constituição japonesa de 1947. Entretanto, durante o período da ocupação americana no pós-guerra ainda houve diversos tipos de censura quando se tratava de pornografia, ou especialmente em opiniões ou investidas contra o governo americano.

É importante salientar que desde o período Edo, o próprio governo japonês já fazia uso da censura a seu favor. Quando publicações ficaram populares nessa época, o xogum Tokugawa censurou muito conteúdo, principalmente: citações ao cristianismo, críticas ao xogunato e ações do clã Tokugawa. Avançando um pouco na linha tempo, ao longo do período Meiji o governo censurou ideias ocidentais, críticas ao imperador e a própria liberdade de expressão. Nesse contexto surgiu a lei de propaganda. Esta tinha como objetivo controlar a população que estaria contra o kokutai (a nação), funcionários públicos estavam proibidos de falar sobre a político. Este fato proporcionou a saída de muitos intelectuais do cenário político.

Durante a ocupação houve uma clara intenção por parte dos Estados Unidos de propagar a cultura americana em solo japonês. Essa foi a forma que os americanos encontraram para tentar colonizar culturalmente o povo ultranacionalista japonês. Por isso muitas figuras do imaginário japonês, principalmente o espírito samurai, foram censuradas em livros, filmes, novelas e teatro. Dentre eles, uma subcategoria da qual pouco se fala é o rakugo.

Rakugo surgiu no período Edo. Acredita-se que a principio tinha como função entreter os senhores feudais com histórias cômicas do dia-a-dia. Pode-se definir rakugo como a arte de contar histórias em forma de monólogos. Esse modo de narrar era muito popular no Japão antigo, inclusie continua presente no cotidiano japonês até os dias de hoje, porém numa menor escala de popularidade e exibidos em canais de televisão.

Essa arte é dividida em vários estilos, sendo eles: o kokkeibanashi (histórias cômicas), ongyokubanashi (histórias musicais), ninjoubanashi (histórias sobre o dia-a-dia), shibaibanashi (histórias teatrais) e kaidanbanashi (histórias de fantasmas).

Os praticantes de rakugo são chamados de Rakugoka ou hanashika. Em um palco sem cenário ou ambientação externa, sozinho, o rakugoka conta uma história sentado em seiza (posição de joelhos). Ele tem ao seu dispor somente uma toalha e um leque tradicional. Essa toalha serve para encenar livros, ou objetos pequenos. Já o leque por vezes é utilizado para esconder parte do rosto do hanashika, ou como hashi, ou até mesmo como extensão do corpo do contador. Por esse motivo eles precisam ter uma boa dicção, expressão corporal e controle de público. Principalmente o controle de público, já que a maior parte das histórias tem como objetivo trazer a emoção ou o riso do mesmo.

Com essa pequena base a respeito da censura no Japão antes e depois da guerra, e do que é rakugo pode-se entender o que são os kin’en rakugo (rakugos pribidos). Nos cinco anos entre 1941 e 1946, cinquenta e três histórias de rakugo foram censuradas e seladas no templo Hon’nou de Asakusa pelo governo japonês. Essas histórias continham temas como avareza, alcoolismo, crueldade, imoralidade e relações sexuais. Além desses temas, histórias ironizando a humanidade e relações entre pais e filhos também estavam inclusas. Mesmo sendo sátiras com temas pesados, seu principal objetivo era a comédia, por isso muitos rakugoka da época se sentiram injustiçados por essa proibição.

 É importante citar que o rakugo é uma arte em que as obras possuem uma longa duração de vida, por isso não existiam muitas histórias. O público espera sempre as mesmas histórias, e o rakugoka por sempre as apresentá-las, acabava ganhando um domínio sobre algumas obras. Isso proporcionava ao artista o título de mestre no fim de sua carreira.

Ao fim da guerra, os contadores pensaram que a censura cairia e eles poderiam novamente apresentar as cinquenta e três histórias. Todavia, as novas regras estabelecidas pelo governo americano proibiam histórias e peças em que mulheres e crianças fossem abusadas, ou que estimulassem a vingança. Com isso, o controle americano acabou juntando as já seladas cinquenta e três mais vinte. Nesse período os americanos estavam tentando elevar o papel da mulher japonesa na sociedade, além de aparar um possível espírito vingativo que viesse a surgir por parte dos japoneses a respeito da derrota na guerra.

Ao longo dos sete anos da ocupação americana, mais de quinhentas obras entre livros e filmes foram censuradas por conter temas inapropriados para o desenvolvimento democrático do Japão. Além das vinte histórias do templo Honnou, outros rakugos foram censurados, porém esses com menor peso no meio por serem de autores não consagrados, ou por serem histórias não conhecidas pelo grande público. Dois anos após o fim da ocupação, um festival chamado festival da restauração foi realizado no templo Honnou. Nesta ocasião as vinte histórias censuradas pelos americanos foram novamente encenadas.

Dentre essas vinte história selecionou-se uma para análise em relação a qual poderia ter sido os motivos para que os americanos a censurasse.

A obra selecionada é a 肝潰し (kimo tsubushi, destruição do fígado). Essa é uma das histórias que acompanha o nascimento do rakugo. Antes da análise da obra é necessário compreender a expressão idiomática japonesa 肝をつぶす (kimo wo tsubusu, destruir o fígado). Esta expressão define a sensação de profundo espanto em relação a alguém ou a um acontecimento. O título e a expressão montam um jogo de palavras no fim da história que juntamente ao diálogo final acaba trazendo o humor à obra.

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